Os 11 militares investigados pela morte de três jovens do Morro da Providência, no Rio, presos temporariamente desde o último domingo, foram indiciados ontem por homicídio triplamente qualificado - cometido por motivo torpe, com meio cruel e sem chance de defesa das vítimas.
Além disso, quatro deles tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz Edmundo Franca de Oliveira, da 2ª Auditoria Militar do Rio, para impedir que atrapalhem a investigação. Os jovens foram entregues pelos militares a traficantes do Morro da Mineira, após terem sido detidos por desacato.
"Todos tinham conhecimento do resultado que aconteceria com a entrega dos jovens aos traficantes. Houve tempo suficiente para que tomassem atitude, nem que fosse avisar ao comando superior", afirmou o delegado Ricardo Dominguez, responsável pelo indiciamento.
Se forem condenados pela Justiça, a pena poderá ser de 36 a 90 anos de prisão. No inquérito, finalizado ontem em 200 páginas, o delegado pediu à Justiça civil a preventiva dos 11 militares e a quebra do sigilo telefônico de alguns deles.
Para o delegado, a "ordem dada pelo tenente Vinícius Guidetti foi ilegal". Segundo ele, os militares estavam na base de comando, no Santo Cristo, descansando antes de assumir um novo turno na Providência. Guidetti, então, reuniu os subordinados e mandou que subissem com os jovens no caminhão do Exército.
"Eles sabiam que não era a rotina. Não haveria sentido sair no momento do descanso, muito menos fora da rota normal. Deveriam sair do Santo Cristo para a Central do Brasil, não para o sambódromo."
Na opinião de Dominguez, a hipótese mais provável é a de que o elo entre militares e traficantes tenha sido o soldado José Ricardo Rodrigues, cuja família mora em uma Favela do complexo do São Carlos. Ele teria sido chamado pelo tenente para servir de guia até o Morro da Mineira. "A conclusão é que houve um contato prévio (com o tráfico). O meio utilizado não ficou claro", disse.
O indiciamento dos 11 homens por homicídio triplamente qualificado vai gerar controvérsias em torno da intenção deles, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. "O delegado entendeu que os militares assumiram o risco da morte dos jovens ou quiseram o resultado morte", explicou o jurista Alberto Toron.
"Com esse indiciamento, a polícia entende que eles devem ser enquadrados como partícipes no crime a que responderão os traficantes", disse o criminalista Cristiano Avila Maronna. No entanto, se ficar comprovada a versão do tenente Guidetti, pela qual a intenção era dar apenas "um susto" nos rapazes, os militares podem ser enquadrados em um crime menos grave.
O objetivo de sua defesa é justamente mostrar que, "para ele, era impossível ocorrer as mortes dos rapazes. Ele não teve nem a vontade, nem a previsão de que isto aconteceria", disse o advogado Figueiredo Rocha.
Fonte: Tribuna da Imprensa