Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Anuncia o presidente Lula a disposição de vetar a concessão a aposentados e pensionistas do mesmo reajuste dado ao salário mínimo, se a Câmara vier a aprovar projeto já votado no Senado nesse sentido. O argumento é de que não há dinheiro.
Nem haverá que discutir a injustiça do governo ao limitar os reajustes de pensionistas e aposentados que recebem acima do salário mínimo. Menos, é claro, as chamadas carreiras de Estado, privilegiadas. Basta referir que quem anos atrás aposentou-se com cinco salários mínimos, porque descontou a vida inteira percentual equivalente, hoje vê seu benefício reduzido a dois e breve estará limitado por um. Importa mais, hoje, discutir a alegação do chefe do governo de que não há dinheiro.
Com todo o respeito, há sim. Primeiro, para pagar juros cada vez mais altos aos especuladores nacionais e estrangeiros, sem esquecer a farra dos bancos. Depois, para subsidiar mais de 50 mil ONGs que mamam nas tetas do Tesouro Nacional, boa parte delas fajutas, integradas por companheiros dependurados em ministérios e empresas estatais. Como, também, para a criação de um fundo destinado a utilizar milhões de dólares, lá fora, para o ministro Guido Mantega atender exigências de multinacionais.
Dinheiro também há para pagar 36 mil aquinhoados com cargos DAS federais, por coincidência quase todos militantes do PT. Sem falar nos recursos do BNDES doados a empresas privadas para a aquisição de empresas estatais ou, simplesmente, para acobertar sinecuras com prefeituras ocupadas pelos amigos.
Até para comprar mais dois aviões que servirão para escoltar o Aerolula não falta numerário. Por último, centenas de milhões de reais existem para atender a liberação das emendas individuais ao orçamento apresentadas por deputados amigos e senadores amestrados, daqueles capazes de valorizar seu voto em favor do governo.
Só não há dinheiro para aposentados e pensionistas, dentro daquela execrável concepção difundida desde os tempos de Fernando Henrique, contra a paridade com os que trabalham porque, afinal, pensionistas e aposentados não saem de casa e não precisam gastar com transporte, vestuário e lazer. E têm saúde perfeita, prescindindo de remédios.
Caso venha mesmo a ser aprovado o projeto, aliás, de autoria do senador petista Paulo Paim, e se o veto for aplicado, podem os velhinhos esquecer o sonho da eqüidade. Derrubar vetos presidenciais constitui missão impossível, mesmo se houver vontade política por parte de deputados e senadores. Centenas de vetos de muitos presidentes, desde os tempos de José Sarney, encontram-se engavetados, sem apreciação parlamentar. Para derrubá-los exige-se quorum qualificado.
A gente fica pensando como promessas e propostas mudam de acordo com a posição onde se encontram as pessoas. Sindicalista de peso, líder da oposição, presidente do PT e candidato derrotado três vezes à presidência da República, o Lula dedicou horas sem fim iludindo pensionistas e aposentados.
Prometeu o céu a quantos se encontravam nessa situação e à imensidão dos que, ainda trabalhando, sonhavam com um fim de vida menos amargo. O resultado aí está: os velhinhos que se danem. Que não incomodem. Se puderem, até, que providenciem logo sua passagem para o além.
O mágico permanece no centro do palco
Senão encerrados, estão minimizados os episódios dos cartões corporativos e da venda da Varig, naquilo que diz respeito à ministra Dilma Rousseff. A chefe da Casa Civil saiu-se muito bem, no primeiro caso, e não foi nem de longe atingida, no segundo, pelos petardos de pólvora seca arremessados pela estranha Denise Abreu. Como vinha acontecendo antes, a dama de ferro conseguiu sair incólume, mesmo chamuscada.
A pergunta que se faz é sobre qual será a próxima investida contra a candidata do presidente Lula à sucessão de 2010. Porque até uma criança de jardim da infância perceberá alguma coisa errada nesse novo tipo de esporte praticado em Brasília, o "Tiro à Dilma".
Não se cometerá a injustiça de supor, na operação, a presença do presidente Lula. É demais imaginar que tudo consiste em manobra dele para queimar Dilma, ou melhor, queimar quantos pareçam capazes de emergir no PT para candidatar-se. Mas que a candidata sofre o bombardeio de fogo amigo, nem haverá que duvidar. Podem ser os companheiros da direção do partido, podem ser as viúvas de José Dirceu. Quem sabe até os iludidos pseudocandidatos colocados atrás dela, nessa fila exposta ao sol e ao sereno.
De graça, porém, essas coisas não acontecem. Bastou que a chefe da Casa Civil fosse citada como uma alternativa sucessória para sofrer permanente barragem de artilharia, dessas que jamais as oposições teriam capacidade de desencadear. Até porque, tanto tucanos quanto democratas e penduricalhos esfregam as mãos de satisfação diante da hipótese de José Serra ou Aécio Neves enfrentarem Dilma nas urnas.
Mais do que as pesquisas, falam os ventos. Só por um passe de prestidigitação ela poderia tornar-se conhecida e querida no País inteiro, em prazo tão curto. Acresce que o mágico permanece no centro do palco, mesmo sem serrar a candidata ao meio, mas atento ao clamor da platéia para que reprise seus números, em especial o de retirar o terceiro mandato da cartola.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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