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domingo, junho 15, 2008

Ricos e pobres têm em comum o medo de ser a próxima vítima

Eder Luis Santana e Vítor Carmezim, do A TARDE
Os funcionários foram proibidos de fazer compras no mercado que fica no Alto das Pombas. As empregadas domésticas tiveram os horários de trabalho alterado para não retornarem à noite para suas casas. Essas foram algumas medidas tomadas pela advogada Beatriz*, 38 anos, moradora há oito anos de um prédio de classe média alta na Rua Professor Aristides Novis, na Estrada de São Lázaro. Pelo imóvel, avaliado em R$ 650 mil, ela paga R$ 1.100 de condomínio
Da janela de casa, Beatriz consegue ver as favelas do Calabar e do Alto das Pombas. Somente este ano foram quatro tiroteios. Esta semana, depois de novos assaltos terem acontecido na região, até os porteiros foram convocados para uma reunião sobre como se deve encarar a violência no bairro.
“Temos uma unidade da Polícia Militar próxima. Os porteiros ficam com o número dela na mão, caso percebam alguma movimentação suspeita e precisem avisar”, comenta a advogada, após lembrar que nos últimos três anos foram investidos pelo menos R$ 3 mil em portões eletrônicos.
Até moradores que fazem reforma no apartamento são obrigados a colocar uma lista na portaria com o nome dos operários. Caso contrário, não entram no prédio. Beatriz conta que nem as equipes da PM têm trazido segurança. “Diante dos novos crimes, percebemos que a presença da polícia não resolveu o problema”, pontua. E não apenas as balas perdidas trazem medo à região. Empregadas domésticas e estudantes são os principais alvos de ladrões e eventualmente são assaltados.
Apipema – Precavida e tentando evitar ser mais uma vítima da violência, Beatriz mantém o máximo de segurança possível para sua família. E, quando tem de ir à rua, prefere colocar a bolsa e outros pertences no porta-mala do carro. “Ou vivemos blindados ou nos arriscamos na rua. A solução é correr o mínimo de risco possível”, completa. O receio típico de quem vive próximo à fronteira cada vez mais avançada do tráfico de droga também faz parte do cotidiano dos moradores do Jardim Apipema. Formado basicamente por edifícios altos, habitados por famílias de classe média, o bairro, que tem quase uma relação simbiótica com o Calabar, acumula histórias de crimes.
Letícia*, moradora de um dos prédios mais próximos à invasão, vive no local há um ano e meio e se diz impressionada com os acontecimentos que presenciou em tão pouco tempo na região. “Da minha janela vejo, todos os dias à noite, o comércio de drogas funcionando abertamente. Será que a polícia não sabe disso?”, questiona a moradora.
E os crimes não param na venda de drogas. “Escuto sempre barulho de tiros. Recentemente teve um tiroteio e eu fiquei extremamente apavorada porque durou uns cinco minutos”, disse. Letícia não sabia, mas se tratava do confronto que resultou na morte de quatro pessoas na localidade do Alto das Pombas, na última quarta-feira. E o que fazer numa hora dessas? “Se esconder dentro de casa e não aparecer na janela. Nenhum vizinho aparece nessa hora”, afirma.
Qualquer hora – Do alto do prédio para a rua, o receio continua. “Tive meu carro furtado aqui na frente do prédio, e um amigo meu, uma arma apontada para a cabeça quando roubaram o carro dele”, afirma um rapaz cuja namorada mora no bairro. E ela, que vive há seis anos ali, reforça. “Tem sido cada vez mais freqüente este tipo de situação. E acontece a qualquer hora.”
Porém, não só quem está do lado mais abonado sofre com os tentáculos do crime organizado e do tráfico. As próprias comunidades são atingidas e também têm suas opiniões sobre a escalada de assaltos e mortes trazidas pelo tráfico.
“A violência lá em cima (nos prédios nobres) não é muito diferente daqui. Está generalizada. Um dia desses, a Polícia Federal fez uma abordagem neste prédio aí da frente (edifício próximo ao Shopping Barra). Esse tipo de coisa tem em todo lugar”, afirma Tereza Souza, 39 anos, nascida e criada na comunidade de Roça da Sabina, encravada no meio da Barra.
Sobre o tratamento dispensado pela polícia nas localidades mais pobres e as mais ricas, Tereza não tem dúvidas quanto às disparidades: “Lá, os policiais chegam com cuidado. Aqui, não. Chegam colocando as armas na cabeça dos meninos, ameaçando, mandando deitar no chão”, diz indignada. E complementa: “Outro problema também é que muitas vezes os ladrões não são daqui, mas na hora de fugir vêm pra se esconder. E nós, que não temos nada a ver com a história, levamos a fama”, finaliza.
Com experiência de quem já mora há 63 anos na comunidade, “Seu Zé” diz que o problema maior mesmo é o tráfico de drogas. “Vi todos estes prédios ao redor daqui serem construídos. E acho que o problema maior é a questão do tráfico, que atinge tanto eles como nós”, diz.
Política da boa vizinhança é saída
A casa de dois andares, muro alto e cerca elétrica divide a rua com outra mais simples, pintura gasta e portão baixo. Enquanto um automóvel Renault Clio atravessa a pista, há por ali quem sequer tenha carro. O bairro é Itapuã, mas as distinções sociais que dividem comunidades de uma mesma região estão em qualquer lugar.
É essa mesma desigualdade que faz a estudante Andreza Andrade, 19 anos, ter medo cada vez que caminha sozinha nas ruas do bairro. Do segundo andar de casa, ela tem uma vista para a Baixa da Soronha e se sente insegura: “Faço faculdade à noite e todo dia tem que ter alguém me esperando no ponto de ônibus”.
Para o aposentado Antônio Mattos, 68, tem havido uma piora em Itapuã. “O tráfico que ficava lá embaixo (Baixa da Soronha e Baixa da Água Suja) agora está passando pra cima”, diz. Ele, que vive em uma casa de classe média, acredita que a aproximação com pessoas de baixa renda reduz distâncias sociais. “Falo normal com alguns do tráfico. Por isso, não mexem comigo”.
Artesão e lavador de carro, Afonso Pascoal, 40, acredita que saber se misturar é preciso: “Procuro me envolver com todos. O rico depende do pobre e o pobre depende do rico. Eu dependo da classe alta para arranjar serviço”. Ele diz também transitar bem pelo que chama de “gueto”: “Ando na Baixa da Soronha, é um lugar legal. Não tenho o que falar. Pessoas más tem até na Igreja”, exemplifica. Antônio Mattos, por exemplo, mora numa rua onde um traficante foi assassinado há uma semana. Ainda assim, a calmaria do lugar é eleita como um ponto forte. “O que falta aqui é união. Talvez um líder para aproximar as famílias”, sugere.
*nomes fictícios
Fonte: A TARDE

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