BUENOS AIRES - A testa dos argentinos, que havia desanuviado ao longo da última meia década - período no qual a economia recuperou-se da crise de 2001-2002 e cresceu quase 9% em média por ano - está ficando franzida novamente. O entusiasmo com a recuperação da economia começa a murchar.
A expectativa de uma nova crise no horizonte está inibindo os argentinos para abrir a carteira e consumir. Os lojistas vêem a clientela passar pela frente das vitrines, mas são poucos os que entram.
A inflação, velho fantasma dos argentinos, disparou. E, como se fosse pouco, os sinais de uma nova crise energética surgiram com intensidade nos últimos dias. Neste cenário, a presidente Cristina Kirchner, que amanhã completa seis meses no poder, tem pouco para celebrar. Desde que tomou posse esteve mergulhada em uma seqüência - sem pausas - de crises.
Metade desse tempo foi tumultuado pela crise com os ruralistas, o primeiro setor econômico que ousou desafiar o poder de Cristina e de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner.
No entanto, apesar da gravidade da situação, segundo um levantamento realizado pelo jornal "Perfil", a presidente ocupou 15% de sua agenda de trabalho em reuniões com "celebridades": atores, cantores e músicos internacionais, entre eles o galã espanhol Antonio Banderas. O conflito com os ruralistas, que prolonga-se sem soluções no horizonte há três meses, levantou suspeitas entre os argentinos sobre a capacidade da presidente em lidar com as crises.
Salários
A popularidade de Cristina, que, segundo a consultoria Poliarquia, era de 56% em janeiro, ao completar seu primeiro mês no cargo, atualmente é de 26%. Uma pesquisa da TNS Gallup e a Universidade Católica Argentina indica que seis de cada dez argentinos afirmam que, com seus atuais salários, "é impossível chegar ao fim do mês". Essa proporção supera o nível de setembro passado, quando quatro da cada dez reclamavam ds rendas mensais.
As perspectivas para o futuro próximo são crescentemente negativas. O Índice de Expectativas Econômicas que a UCA elabora mensalmente exibe uma queda de 7,4% nas expectativas positivas em relação a abril do ano passado.
Simultaneamente, a confiança no governo despenca. O índice de confiança elaborado mensalmente pela Universidade Di Tella registrou em maio uma queda de 23% em relação a abril. Mas, a queda é mais abrupta ainda se comparada com maio do ano passado.
Neste caso, a queda da confiança no governo é de 40%. Um dos motivos para a queda da confiança é a inflação, que o governo não consegue deter, principalmente nas províncias do interior. Dados dos organismos estatísticos oficiais provinciais indicam que em várias regiões a inflação superou a faixa de 3% em abril, proporção que quase quadruplicou o anúncio do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que sustenta que o índice inflacionário do mês passado foi de 0,8%.
Índice
O Indec, sob forte intervenção do governo desde janeiro do ano passado, é suspeito de "maquiar" o índice de inflação. Por este motivo, os índices elaborados por várias províncias são considerados os únicos verossímeis. A crise energética, que no ano passado deixou milhares de indústrias sem gás e energia elétrica, está voltando.
No sul do país o governo enfrentou durante 31 dias um duro conflito sindical que paralisou o fornecimento de 10% da produção nacional de gás e levou à redução drástica do abastecimento de 300 indústrias nas principais cidades da Argentina.
O conflito sindical só agravou um contexto complexo, já que apesar da crise energética do ano passado o governo não tomou medidas concretas para evitar uma nova escassez de gás, petróleo e eletricidade. Por este motivo, os industriais temem que a crise energética volte nas próximas semanas, já que o frio está apenas começando, fato que aumenta o consumo residencial para aquecimento.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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