Publicado em 7 de maio de 2023 por Tribuna da Internet
José Carlos Werneck
Será no sábado, 13 de maio, às 22 horas, na Livraria da Vila em São Paulo, o lançamento do novo livro de Ivanisa Teitelroit Martins, “Psicanálise: uma experiência do inconsciente”.
Considerada uma das maiores psicanalistas da atualidade, Ivanisa Martins é articulista da coluna “Nem Freud explica”, da Carta Maior. Publica ensaios em revistas especializadas, desde 1998 exerce a prática clínica em Brasília e no Rio de Janeiro como especialista em teoria psicanalítica, e participa dos encontros e seminários da Escola Letra Freudiana, voltados para a transmissão do ensino de Freud e Lacan.
Leia, a seguir, um breve texto que demonstra bem o alto nível do conhecimento psicanalítico de Ivanisa Martins.
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TUDO PODE SER MAFIOSO, PROMÍSCUO E CRIMINOSO
Ivanisa Teitelroit Martins
“O mal-estar na cultura que Freud tão bem articulou é vivido no cotidiano das instituições e das estruturas. Pela saturação imaginária, provocada pelas diversas CPIs sempre em curso no Congresso, em que se cometem excessos no ato de acusar, em que depoentes já estão condenados por antecipação sem provas, produz-se um ruído de fundo e um rumor de mal-estar transformado em peste moral que cresce sem parar, loucamente, e ameaça, em alguns momentos, destruir tudo e causar a disrupção da razão.
Há pelo menos dois tipos de destruição, que não cabe trazer a esta reflexão. Mas, diferente destes, há a lógica do campo de concentração, exercida com maldade burocrática a frio, construindo o estado de exceção.
O extermínio da exceção só foi possível porque conduzido pela burocracia, como é, hoje em dia, pela técnica moderna. De um lado o texto impresso que é lento, de outro a velocidade da Internet que ofusca a reflexão, que produz vociferações anônimas.
A técnica moderna introduz uma gramática sem discurso e um discurso que pode aniquilar todos os discursos. Instaura-se um tribunal virtual e simulado com poder de disseminação de acusações, apoiadas em supostas informações sobre vínculos de jornalistas a esta ou aquela corrente partidária, como máfia, ou a um partido como organização criminosa. Incrimina-se o próprio ato de pensar ou ter opinião. Pensar, fazer pensar, informar e compartilhar com outros que pensam da mesma maneira é mafioso, é promíscuo, é criminoso.