A caminhada do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelo Brás, bairro comercial no centro da capital paulista, chamou a atenção de curiosos e causou leve engarrafamento nas ruas. A movimentação começou tímida, no início da manhã desta terça-feira, 30, mas, à medida que o candidato andava entre as lojas, ouviam-se os gritos favoráveis - mais para seu padrinho político, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, de quem ele foi ministro da Infraestrutura, do que a ele próprio.
"Vou votar nele. Se tem o apoio de Bolsonaro, confio", diz Maurício Santos, funcionário de uma das lojas visitadas por Tarcísio. Ele achava que os dois eram do mesmo partido. Se juntavam por ali cerca de 100 pessoas, entre militantes com a bandeira do Brasil amarrada ao corpo, trabalhadores, imprensa e observadores que queriam saber mais das propostas do representante do "mito" em São Paulo. "Até então, só tinha ouvido falar", conta outra colaboradora, Maria da Paixão, hesitante ao ser questionada sobre o cargo que disputa.
Já Eliane Soares, que trabalha na área de Recursos Humanos da empresa, não sabia quem era Tarcísio, assim como outros comerciantes abordados nas ruas. "Deve ser aquele com a bandeira, né?", supõe uma vendedora. Nenhuma tinha voto definido ainda. "Sabe como é brasileiro né, só vai parar para pesquisar no último dia", acrescenta Maria. A exceção dentre as três era Valéria Fernandes, que já escolheu o voto com base no do marido. "Ele falou que as propostas dele eram boas", afirma Valéria, sem saber detalhar quais eram.
A maioria dos apoiadores foi incentivada pelo assessor político do Sindicato dos Comerciário de São Paulo, Regis Cristal, a acompanhar a caminhada do candidato. A mobilização, no entanto, não convenceu o agricultor Paulo Ricci, que mora em Espírito Santo do Pinhal, cidade a cerca de 200 quilômetros da capital paulista, e estava ali para fazer compras. Ricci diz ser "contra a polarização" e se arrependeu de ter votado em Bolsonaro em 2018. "Vou no Garcia", diz. Mesmo depois da passagem do ex-ministro pela loja, Cristina Pigatti, que trabalha há 20 anos no Brás, não se impressionou. "Esse que apertou a mão da gente que é o candidato?", pergunta.
Em busca do voto feminino
Tarcísio de Freitas fez um aceno às mulheres na apresentação das propostas, durante as andanças pelo bairro. Se eleito, ele prometeu criar uma secretaria para a promoção de políticas públicas para mulheres e uma linha de crédito específica para empreendedoras. "Temos várias mulheres com vocação para o empreendedorismo. Se a gente der capacitação e fizer com que o crédito chegue a elas, elas vão decolar", afirma Tarcísio, nesta terça-feira, 30.
O crédito seria concedido através do Desenvolve SP, agente financeiro do Banco do Povo, com o objetivo de oferecer "taxas mais atrativas e prazos mais longos". Ele não detalhou quanto seria destinado a essa linha: "Tem que avaliar conforme a demanda". O candidato ainda falou em apoiar as prefeituras paulistas na extensão dos horários das creches. "As mulheres precisam ter a segurança para deixar seus filhos e poder trabalhar, inclusive até mais tarde, para investir na sua capacitação", argumenta. A terceira medida sobre o tema é combater o assédio sexual e a violência doméstica, através do monitoramento dos agressores.
Segurança pública
O candidato pretende ainda reforçar o efetivo das polícias Civil e Militar, se eleito. Ao final de quatro anos, a promessa é restabelecer o déficit de 25 mil homens - 15 mil na Polícia Civil e 10 mil na Polícia Militar no estado. "É fundamental restabelecer a segurança para que a tenha esse turismo de compras funcionando. A pessoa tem que vir para cá com tranquilidade e precisamos atrair gente do Brasil inteiro", afirma Tarcísio.
Através de um "policiamento ostensivo", da valorização dos salários dos policiais, do reajuste de carga horária e da criação de um plano de carreira, o candidato pretende melhorar a segurança pública no estado. "É fundamental estabelecer o efetivo da Polícia Civil por concurso e valorizar os policiais, para reter os talentos na corporação", disse. A ideia é recompor o efetivo aos poucos, "em função das questões orçamentárias".
Tarcísio de Freitas não é contra nem a favor do uso das câmeras de monitoramento corporais nas instituições. Ele ainda estuda a manutenção delas e fará uma análise com base em experiências internacionais. "Toda política pública merece uma revisão. Vamos verificar em que medida essas câmeras estão afastando o policial do combate ao crime ou colocando ele em desvantagem em relação ao criminoso", pontua.
Redução de impostos
Freitas pretende também reduzir a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), se eleito. Ele quer ainda ampliar o prazo de pagamento do tributo. "A primeira coisa que vamos fazer é reduzir a carga tributária e a alíquota do ICMS e dilatar o prazo para recolhimento do imposto", afirma Tarcísio.
A medida não causaria problema a nível fiscal, segundo ele. "Vamos ter a mesma arrecadação projetada no ano. Para o comerciante, faz uma diferença enorme ter um prazo maior para recolhimento, pós-faturamento", explica Tarcísio. O candidato não deu detalhes sobre o como seria parcelamento nem de quanto seria a redução.
Estadão / Dinheiro Rural