Publicado em 30 de agosto de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
No decorrer do debate realizado na noite de domingo pela TV Band reunindo seis candidatos à Presidência da República, ao responder a uma pergunta que lhe foi dirigida pela jornalista Vera Magalhães, colunista do O Globo e apresentadora do Roda Viva na TV Cultura, o presidente da República dirigiu-lhe forte ataque dizendo que ela representa uma vergonha para o jornalismo brasileiro e estendendo a sua reação a uma figura da análise freudiana. Afirmou: “Você deve dormir pensando em mim”.
O ataque de Bolsonaro a Vera Magalhães não teve na verdade base na pergunta que ela lhe fez, mas sim com uma cobertura jornalística relativa ao coronavírus e as ações do governo contra o vírus. No entanto, a agressão à jornalista revestiu-se também, além da desqualificação profissional, a uma manifestação que incomoda profundamente as mulheres.
ERRO GRAVE – Bolsonaro deslocou o tema para o sexo e tal lance extremamente arriscado só pode ter agravado a rejeição que desperta no eleitorado feminino. Isso porque, para a mulher, sexo é um direito de sua escolha e não uma subordinação a comportamentos machistas. Foi um erro grave do candidato à reeleição. Tanto assim, que deixou a sede da Band com uma fisionomia tensa. As senadoras Simone Tebet e Soraya Thronicke defenderam a jornalista, sendo acompanhadas por Lula e Ciro Gomes.
Soraya Thronicke afirmou que se sente agredida quando “homens para cima da gente como tigrões”. O debate da Band foi positivo, e expôs os candidatos à opinião do eleitorado brasileiro. A audiência foi muito alta, mas deixo algumas sugestões.
CRITÉRIO – Estabelecer perguntas de um candidato para outro gera situações de combinação como ficou visível entre Ciro Gomes e Felipe D´Avila e também entre Simone Tebet e Soraya Thronicke. O mais correto seria que as perguntas fossem feitas basicamente pelos jornalistas do programa, dirigindo-as por igual a todos os candidatos que poderiam divergir entre si.
De qualquer forma, a síntese valeu muito e o programa acrescentou bastante entre o eleitorado. Mais uma vez, temos que esperar o resultado das pesquisas do Datafolha e do Ipec para termos em mãos uma avaliação das consequências em termos de voto. O Globo focalizou o debate em reportagem não assinada na sua edição de ontem, destacando a realizada pela Bandeirantes.
DESAFIO – Reportagem muito boa de Thiago Rezende, Folha de S. Paulo desta segunda-feira, focaliza o Auxilio Brasil no valor de R$ 600, acentuando que constitui um desafio para a execução do orçamento de 2023, já que a previsão por família é de R$ 400. Este representa um equívoco do Ministério da Economia de Paulo Guedes que elaborou a proposta orçamentária.
Mas o problema é que o Auxilio Brasil, no fundo, representa uma confissão de que o governo do país não está atuando para uma desconcentração de renda que consiga equilibrar o capital e o trabalho dentro de princípios cristãos. Pagar o auxílio de emergência significa estatizar o capital de renda. Trata-se de retirar do Tesouro Nacional para assegurar a sobrevivência de milhões de brasileiros que se encontram na fome.
QUESTÕES ANTIGAS – Em artigo na Folha de S. Paulo, o economista Armínio Fraga afirma que os governos têm que aprender com suas experiências para identificar as situações complexas de causas e efeitos e não repetir os erros do passado. Citou como problemas, o esgoto ao ar livre, desvalorização de palavras com mentiras, e que o aprendizado com situações ocorridas é lento, quando não inexistente e que as experiências realizadas até hoje não surtiram o efeito esperado.
Tudo isso é verdade. Mas Armínio Fraga, que no fundo é um representante do pensamento conservador e, portanto,não progressista, omitiu a questão salarial, pois na verdade só existe um meio de redistribuição de renda, que é através do salário e do emprego.
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