Tebet e Thronicke não ameaçam liderança de Lula e Bolsonaro, mas deixam ambos nervosos
Por Eliane Cantanhêde (foto)
A eleição presidencial ganhou ritmo e novos protagonistas, com Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) subindo ao palco com Ciro Gomes (PDT) para disputar holofotes e a atenção e os votos de moderados, indecisos e arrependidos. O show não é mais exclusividade de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
Debates e entrevistas tiram os candidatos favoritos da zona de conforto e desbotam as imagens coloridas e favoráveis de suas propagandas eleitorais, dando uma chance preciosa ao “segundo pelotão” das pesquisas: a de se tornarem conhecidos. A partir daí, depende deles.
Morna no Jornal Nacional da TV Globo, Simone Tebet esquentou no debate do pool liderado pelas TVS Bandeirantes e Cultura. Firme, contundente e corajosa, avisou para Bolsonaro que “não tem medo” dele e não caiu na lábia de Lula, chamado de “encantador de serpentes” por Ciro. Atacou a misoginia de um e a corrupção atribuída ao outro.
Numa dobradinha que não pareceu combinada, mas fazia sentido, Soraya Thronicke ilustrou as falas de Tebet com cores vivas, vibrantes, e ambas se tornaram a surpresa da noite, cresceram ao longo do debate e geraram frases marcantes. Tebet: “Candidato Bolsonaro, por que tanta raiva das mulheres?” Thronicke: “Tchutchuca com homens, tigrão com mulheres”.
Nada poderia ser pior para um candidato que precisa crescer e foca no eleitorado feminino e nos evangélicos e evangélicas. Um eleitor desses dois segmentos, se está em dúvida, não apenas recua da aproximação com Bolsonaro como pode desviar para Tebet. E Thronicke tem algo mais: é bolsonarista arrependida, fala a uma ampla faixa de eleitores que votaram no “mito”, mas se desiludiram.
O JN foi ruim para Bolsonaro e bom para Lula. O primeiro debate foi péssimo para ambos e deve ter consequência, dificultando o crescimento já lento e gradual de um e a vitória em primeiro turno do outro. As vísceras do governo Bolsonaro estão à mostra, o fantasma da corrupção volta com tudo para assombrar Lula.
A campanha bolsonarista acha que o chefe foi mal, mas Lula
sofreu o maior dano. Por quê? Porque, na opinião dos assessores, Bolsonaro já apanha há anos por conta de pandemia e misoginia, mas nunca mais se falou da corrupção na era PT. Isso, segundo eles, volta com força e tira Lula do prumo nos debates.
As fragilidades dos favoritos reabrem a expectativa de uma terceira via, mas, a esta altura, Ciro se debate para se manter à tona e a dupla Tebet-thronicke tem mais fôlego para bagunçar o coreto de Lula e Bolsonaro do que para chegar ao segundo turno. O que, aliás, não é pouco.
O Estado de São Paulo