Por Eugênio Bucci (foto)
Para começar, tenhamos bem claro: até aqui, o evento de maior impacto na campanha eleitoral para a Presidência da República foram as sabatinas com os candidatos no Jornal Nacional. Foi a TV, não foram as redes sociais. Não foram os canais no Youtube, não foram as correntes de baboseiras no Whatsapp ou no Telegram, mas a velha televisão de sinal aberto que gerou o fato mais determinante da corrida eleitoral. As duas entrevistas de maior repercussão, a de Bolsonaro, na segunda-feira, e a de Lula, anteontem, foram vistas por cerca de 42 milhões de pessoas (a audiência do primeiro ficou pouca coisa acima, mas, em ordem de grandeza, ambos alcançaram o mesmo patamar). Com elas, o Jornal Nacional bateu recordes de público. Algo como um quinto ou um quarto dos habitantes do País grudou na tela para ver Renata Vasconcellos e William Bonner entrevistando (e bem) o atual presidente e seu maior rival, o ex-presidente Lula.
Esse fato, tão singelo quanto retumbante, deveria nos ajudar a ter claro que a televisão ainda conta, e muito, para formar a opinião do eleitor brasileiro. O velho meio mantém seu peso. É por isso que, em 2022, como bem sabem os partidos, o horário eleitoral na TV vai fazer diferença, como nas eleições anteriores.
É verdade que, em 2010 e em 2014, Marina Silva teve um desempenho notável nas mídias digitais, conquistando milhões de votos. Também é verdade que, em 2018, com poucos segundos no horário eleitoral, Bolsonaro ganhou a eleição. À primeira vista, isso poderia indicar a vitória das plataformas digitais, nas quais sua campanha jogou toda a energia, sobre as velhas ondas eletromagnéticas. Mas não foi bem isso o que aconteceu. O então candidato da extrema direita recebeu, sim, uma cobertura suplementar valiosíssima nos telejornais em função da facada que levou em Juiz de Fora (MG). Os efeitos eleitorais que essa cobertura teve nas urnas ainda estão por ser avaliados.
Há ainda outro aspecto que fortaleceu a TV. Embora o chamado jornalismo dito convencional tenha perdido espaço na dieta informativa (e desinformativa) das sociedades democráticas, a pandemia levou as pessoas a buscarem informações confiáveis na imprensa profissional, especialmente nos telejornais. Houve aí um ganho residual de credibilidade, que também contribuirá para que eleitoras e eleitores olhem com alguma atenção para o horário eleitoral.
Os marqueteiros mais sabidos sabem que, em tempos de tecnologias digitais, alguma coisa no eleitor ainda é analógica. Sabem, igualmente, que a televisão ainda mora no centro do espaço público brasileiro.
*Eugênio Bucci, jornalista e professor titular da ECA-USP
O Estado de São Paulo