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quinta-feira, junho 12, 2008

Denise diz que ingerência na Anac foi imoral

Denise reafirmou que foi pressionada a tomar decisões favoráveis à venda da Varig
BRASÍLIA - Pressões da Casa Civil e a interferência "imoral e até ilegal" do compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado Roberto Teixeira, pavimentaram a compra da Varig pela Gol. Espectadora privilegiada da operação, a ex-diretora da Anac Denise Abreu afirmou ontem, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, que foi pressionada para tomar decisões favoráveis à venda da empresa.
Segundo Denise, a pressão da pasta comandada pela ministra Dilma Rousseff materializou-se no acompanhamento minucioso que a Casa Civil fazia das decisões da agência e numa estranha simetria entre os desejos do Planalto de viabilizar o negócio e a dança de pareceres, que, de contrários à negociação, foram convertidos em favoráveis.
"Sem dúvida nenhuma, as ingerências praticadas e a forma como o escritório Teixeira Martins atuou na Anac são imorais e podem gerar ilegalidades. Éramos tratados pelos membros desse escritório de forma absolutamente desrespeitosa", afirmou. Ela disse que houve pressão grande para que a Anac agilizasse os trâmites da venda da Varig à Gol, a fim de que o negócio se concretizasse o mais rápido possível.
Um exemplo dessa pressão foi a representação contra a então diretora, aberta pelo Ministério da Defesa a pedido do advogado Roberto Teixeira. Denise disse ter sido informada do fato numa reunião na Casa Civil.
Em junho de 2006, a VarigLog foi comprada por um consórcio formado pelo fundo estrangeiro de investimentos Matlin Patterson e três sócios brasileiros. Na época, a ex-diretora da Anac exigiu provas da capacidade econômico-financeira dos participantes e também informações sobre o ingresso do dinheiro no País.
Seus pedidos foram avalizados, em abril de 2006, pelo então procurador-geral da Anac, João Ilídio Lima Filho. Mais tarde, ele voltou atrás e afirmou que não havia necessidade de tais exigências.
Outra reviravolta envolveu as dívidas da Varig, estimadas em R$ 7 bilhões. O então procurador-geral da Fazenda Nacional, Manoel Brandão, avaliara que os novos donos herdariam a dívida. Logo depois, pediu exoneração do cargo e seu sucessor fez parecer no sentido contrário. Isso abriu caminho para que a Varig, comprada por R$ 24 milhões pela VarigLog, fosse depois revendida à Gol por R$ 320 milhões. A revenda ocorreu sem conhecimento prévio da Anac, segundo Denise.
Ela admitiu ter tido embates com a ministra Dilma, mas negou ter sido pressionada diretamente por ela. "Sejamos objetivos: de maneira nenhuma a ministra Dilma Rousseff nunca mandaria eu fazer nada. Não recebi ordem de ninguém. Ninguém disse para mim faça isso ou aquilo. Não tenho perfil de receber ordens".
Fonte: Tribuna da Imprensa

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