BRASÍLIA - O mundo político do presidente licenciado do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), desmoronou na sessão de terça-feira, quando ele percebeu que tinha perdido o apoio da bancada do PT e de grande parte dos colegas do PMDB.
Principais responsáveis pela absolvição de Renan no processo de cassação por ter, supostamente, permitido que a Construtora Mendes Júnior pagasse despesas pessoais dele, integrantes das duas legendas não suportavam mais a pressão da opinião pública por causa da permanência dele no comando do Senado.
"As pessoas botam o dedo no nariz da gente na rua e perguntam se vamos acabar com isso ou não. Tem político que não usa nem o broche de parlamentar na rua para não ser identificado", afirmou o senador Magno Malta (PR-ES), amigo de Renan. "Estamos asfixiados. Ou debelamos essa crise, ou ela debela com todos nós", acrescentou.
"É inegável que o desconforto aumentou muito nos últimos dias em todas as bancadas", disse o senador Paulo Paim (PT-RS). Na prática, nem mesmo os senadores mais próximos do presidente do Congresso suportavam a rotina diária de denúncias e ataques contra ele.
Habitualmente ponderado, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não teve dúvidas em prever quarta-feira que a saída de Renan do cargo de presidente do Senado era "questão de dias, talvez de horas", tamanho era o mal-estar dentro da Casa por causa da permanência no comando das sessões.
"Eu costumo correr no Ibirapuera e as pessoas me paravam sempre dizendo que o Senado precisava tomar uma atitude firme para que o senador Renan deixe o cargo. Também são centenas de e-mails que nos chegam pedindo que algo seja feito", avaliou, admitindo que o desconforto dentro da bancada do PT tinha aumentado demais nos últimos dias.
Os críticos do senador do PMDB de Alagoas também acham que ele chegou a uma situação-limite na terça-feira, algo que foi reconhecido por ele próprio no pronunciamento anunciando o afastamento do cargo. Na sessão, vários senadores se sucederam na tribuna pedindo que se licenciasse e Renan discutiu, asperamente, com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), deixando ele falando sozinho, durante um aparte, e com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), a quem cortou a fala, interrompendo o discurso crítico.
"Não há como negar que a situação dele piorou demais depois daquela sessão", disse Torres. "Ele perdeu o apoio da bancada do PT e pelo menos oito dos senadores do PMDB já defendiam, publicamente, sua saída e outros seguiam pelo mesmo caminho", disse.
"O pior foi a descoberta da história que um assessor dele estava me espionando e ao senador Marconi Perillo (PSDB-GO). Não adianta ele negar porque quem anda aqui no Senado sabe que houve essa tentativa de espionagem, ainda que ele possa não estar envolvido diretamente", declarou.
Um dos relatores da primeira representação contra o senador do PMDB, o senador Renato Casagrande (PSB-ES), lembra também que a retirada dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) também pesou para piorar o clima. Integrantes da ala autêntica da legenda, Simon e Vasconcelos foram afastados da CCJ por votarem, sistematicamente, contra o governo e apoiarem a saída de Renan.
O senador alagoano nega ter algo a ver com o assunto, mas até mesmo peemedebistas lhe atribuíram participação no caso. Ontem, a sigla recuou da decisão e propôs a eles a reintegração à comissão. "Sem dúvida, essa substituição pesou muito para acirrar ainda mais o clima contra ele. Essa história de investigação contra senadores só serviu para aumentar o isolamento dele", acredita Casagrande.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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