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quarta-feira, janeiro 27, 2021

Com racha na legenda, Maia tem conversa exaltada com general Ramos sobre interferência do Planalto no DEM


Ramos nega que governo Bolsonaro atue em busca de votos para Lira

Gustavo Uribe e Daniel Carvalho
Folha

Presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) telefonou nesta terça-feira, dia 26, para o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e reclamou do que considera uma interferência do Palácio do Planalto em seu partido.

Hoje há o risco concreto para Maia de o DEM migrar para a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) na diputa pela presidência da Casa. O atual comandante da Câmara, no entanto, articulou e apoia o nome de Baleia Rossi (MDB-SP). A eleição está prevista para o dia 1º de fevereiro.

INTERFERÊNCIA – Segundo relatos feitos à Folha por congressistas governistas, em uma conversa exaltada, Maia disse ao general Ramos que estava incomodado com o movimento do governo federal para gerar defecções no DEM. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Maia são rivais. Maia ressaltou ainda que não aceitava interferência em uma disputa legislativa e salientou que as investidas do governo Bolsonaro sobre deputados federais precisavam ter um fim.

Como resposta, de acordo com um assessor do governo, Ramos negou que o Palácio do Planalto tenha interferido no DEM. Ele disse ao deputado que o Poder Executivo tem mantido distância da disputa à sucessão de Maia, já que Lira tem coordenado sua própria campanha. O ministro tem afirmado a congressistas que tem pedido votos apenas para a eleição do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à sucessão de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na Casa vizinha.

LIGAÇÕES – Ramos tem telefonado para senadores a fim de garantir a vitória do candidato de Bolsonaro. Na Câmara, é Lira quem tem o apoio do presidente da República. A ligação de Maia ocorre no momento em que o presidente da Câmara tem enfrentado dificuldades até mesmo em seu próprio partido para garantir o apoio oficial ao seu candidato, Baleia Rossi.

Nesta terça-feira, deputados federais do DEM iniciaram movimento de migração do partido para o bloco de Lira. A ideia deles é registrar na segunda-feira, dia 1º, dia da eleição, uma lista com a assinatura da maioria dos integrantes da bancada em apoio ao candidato de Bolsonaro. Caso a iniciativa obtenha êxito, ela representará uma derrota a Maia. O atual presidente da Câmara, que está há quatro anos e meio à frente da Casa, tem atuado para evitar uma migração dos colegas do DEM.

Para tentar impedir o movimento, Maia tem contado com o apoio do presidente nacional do DEM, ACM Neto, que, segundo relatos feitos à Folha, tem telefonado a deputados do partido para demovê-los da mudança. Na segunda-feira, dia 25, em viagem a Salvador, Lira se reuniu com ACM Neto, porém, e com um grupo de deputados do estado, entre eles cinco do DEM.

CRÍTICAS – O encontro foi criticado, em caráter reservado, por aliados de Baleia, para os quais o presidente nacional do DEM não tem atuado de maneira enfática para a vitória do candidato de Maia. Como a Folha mostrou, em uma reunião fechada ocorrida nesta terça-feira, dia 26, Maia manifestou insatisfação com ACM Neto, em um reflexo da dificuldade interna da legenda de se unir em torno de Baleia.

Nesse encontro, Maia chegou a dizer que o DEM corre o risco de ganhar um apelido dado ao PT no passado, o “partido da boquinha”. A reunião ocorreu no Palácio da Cidade, sede da Prefeito do Rio de Janeiro. Hoje, a bancada federal do DEM é formada por 29 deputados. No início de janeiro, a previsão tanto dos blocos de Lira como de Baleia era de que 10 deputados votassem no candidato de Bolsonaro.

Hoje, os dois grupos reconhecem, em conversas nos bastidores, que as traições chegam a 20. Pelos cálculos do bloco de Lira, devem votar no líder do centrão a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e parlamentares como Arthur Maia (BA), Carlos Gaguim (TO), Luiz Miranda (DF), Elmar Nascimento (BA) e Paulo Azi (BA).

TOMA LÁ, DÁ CÁ – Segundo deputados do partido, caso ocorra a migração, o grupo de Lira sinalizou ao DEM um posto na Mesa Diretora. Segundo integrantes da legenda, dois fatores estimularam as traições no DEM. Um deles foi o apoio de legendas de esquerda a Baleia, o que irritou os deputados mais conservadores. O segundo foi a ameaça feita pelo Palácio do Planalto de demissão de indicados na máquina federal por deputados da sigla.

De acordo com cálculos do governo, o partido tem hoje pelo menos 16 indicados em postos federais, como a direção da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).

Além do DEM, Lira tem trabalhado para atrair o Solidariedade, que anunciou apoio oficial a Baleia. Hoje, segundo integrantes do partido, a bancada federal está dividida, apesar do apoio da direção da legenda ao candidato de Maia.

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