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terça-feira, setembro 01, 2020

Janaína Paschoal diz que Bolsonaro pode “reconhecer erro”, voltar para o PSL, mas sem fazer exigências


Janaina ignora que reconciliação exige concessão de ambas as partes
Thiago Herdy
O Globo
Quando disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seria bem recebido caso decidisse voltar ao PSL, a deputada estadual de São Paulo Janaína Paschoal (PSL) tornou-se um dos assuntos mais compartilhados nas redes sociais no fim de semana, já que há cinco meses ela pedia o impeachment do presidente.
Em entrevista ao O Globo, ela diz que não chamou o presidente de volta, mas pontuou que ele não poderia fazer exigências para o retorno. “Quer voltar? Tudo bem. É inclusive um reconhecimento de que foi um erro ter saído. O fez porque quis, ninguém o mandou embora. Mas não significa poder dizer quem entra e quem sai”, afirmou a deputada.
Embora ainda seja crítica da postura pública de Bolsonaro sobre a pandemia, ela elogia o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e as medidas econômicas adotadas pelo governo federal. Para a deputada, Bolsonaro ainda deve uma resposta sobre os R$ 89 mil depositados pelo operador Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ela disse também que pretende ficar neutra nas eleições municipais, inclusive na capital paulista.
Cinco meses depois de pedir a renúncia do presidente Bolsonaro, a senhora escreveu no twitter que se ele quiser volta ao PSL, será bem-vindo. O que mudou?
Na verdade, escrevi de uma maneira que deixou dúvidas, ou fui mal interpretada. Todo mundo sabe que não tenho vida partidária, defendo candidatura avulsa para cargo eletivo. O que eu quis dizer é que não tem sentido ele fazer exigências ao partido, se tiver interesse em voltar. Algumas pessoas interpretaram que foi como se eu estivesse pedindo para ele voltar, e não é isso.
Que exigências ele estaria fazendo?
A gente começou a ler na imprensa que ele não queria só voltar, mas também colocar o Eduardo (Bolsonaro, filho dele e deputado federal) para cuidar do diretório estadual, quer expulsar pessoas do partido, como a Joice Hasselmann (PSL-SP), Junior Bozzella (PSL-SP). Quer voltar? Tudo bem. É inclusive um reconhecimento de que foi um erro ter saído. O fez porque quis, ninguém o mandou embora. Mas não significa poder dizer quem entra e quem sai.
Para a senhora também foi um erro ele ter saído?
Achei que foi um erro muito grande da parte dele. Qualquer pessoa com conhecimento mínimo de Justiça Eleitoral sabia que o Aliança não ficaria pronto no prazo que esperavam. E quando ele saiu, estraçalhou a pouca direita que havia, favorecendo PT e PSDB. Muita gente boa da direita que me procurava no gabinete, com intenção de sair candidato a prefeito, vereador, gente que já tinha se filiado ao PSL, ficou dividida sobre o que fazer. O grupo de apoio ao presidente é muito aguerrido, começou a chamar essas pessoas de traidoras. Essa situação só favoreceu partidos como PT, DEM e PSDB.
As razões da senhora ter pedido o impeachment do presidente não são mais razão de incômodo?
Eu não me conformava e ainda não me conformo com a postura dele diante da doença. Respeito o argumento dele contrário à ideia de fechar tudo, pela questão econômica. Eu respeito este debate. Estamos agora vivendo o dilema sobre o que fazer com as escolas, há argumentos para os dois lados. Minha indignação foi quando o vi dizendo que a doença não era grave, que se tratava de uma gripe simples.
Que avaliação faz do enfrentamento do governo federal, hoje, à pandemia?
Acho que ele acertou em colocar o (Eduardo) Pazuello como ministro da Saúde. Ele tem defendido o tratamento precoce e acho que este é o caminho. O Bolsonaro errou muito em sua postura pública, mas acerta nas medidas mais palpáveis.
Por exemplo?
Ele acertou ao fazer com que a equipe econômica se movimentasse rapidamente para dar este auxílio, mesmo tendo casos de gente que recebeu e não merecia. Foi uma mobilização sem precedentes, um negócio muito legal. E esta linha do Ministério da Saúde me agrada muito, de falar que tem que tratar no início da doença. Não estou falando de cloroquina. Mas sou testemunha de que se você não se medica no início, os sintomas se agravam rapidamente. Ao colocar essas pessoas no comando do combate à doença, o presidente tem sido positivo. Mas a manutenção da sua postura rebelde, dessa irreverência, essa coisa meio infantil, não concordo.
A senhora acena ao presidente no momento em que ele vive o melhor momento de sua popularidade. Estes fatos estão relacionados?
Eu não me ligo nessas coisas. O caso do Flávio (Bolsonaro, acusado de promover um esquema de “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio) tem que seguir apurando. Não me pauto muito por pesquisa, eleição, inclusive alguns fizeram leitura de que minha fala sobre o PSL tinha a ver com o fato de estarmos perto da eleição. Não serei candidata e, a princípio, vou ficar neutra nas eleições. Esse timing da popularidade dele, para mim, não quer dizer nada.
A senhora diz que o caso das “rachadinhas” deve ser apurado, mas outro dia o presidente disse ter vontade de agredir um repórter que fez uma pergunta sobre o caso.
Esse tipo de comportamento me incomoda. O rapaz perguntou porque tem que ser perguntado. Não foi uma acusação, uma agressão, mas algo que precisa ser perguntado. Esse tipo de postura me incomoda demais no presidente. Outra coisa que me intriga muito é entender porque as pessoas mais próximas dele atacam tanto quem é da direita?
Este movimento se intensifica?
Parece que esses seguidores do presidente têm predileção em atacar pessoas da direita. Pessoas que muito possivelmente, eu inclusive, votaram nele. Acho isso muito estranho.
O presidente saiu do PSL, partido da senhora, no momento em que a legenda era acusada de operar desvios no fundo partidário. A senhora não se sente constrangida por continuar integrante do partido?
Me fale para onde vou, aponte um partido que seja bom. Eu não tenho o que fazer. A lei brasileira me obriga a ficar atrelada a um partido e, por esta característica, é ditatorial. Tem nenhum que preste. Por mim, acabava com tudo isso, inclusive fundo partidário.
O Brasil tem sido muito criticado internacionalmente por sua posição na pandemia. Como Bolsonaro mantém a popularidade em alta em um momento como este?
Ele tem linguagem próxima do povo, as pessoas também estavam cansadas do isolamento. Quando você bate demais, o povo se solidariza. É um pouco da psicologia da nossa população. Não acho que seja sinal para 2022. Mas precisamos construir alternativas. Não vejo candidatos aí que possam representar nosso voto.
Alguém em vista?
(Sérgio) Moro poderia ser este nome, mas precisa parar de se vitimizar e se mostrar como alguém com mais conteúdo para outros temas, como saúde e educação. Se conseguir se mostrar satisfatoriamente, ele é meu candidato.
Por que parou de falar no impeachment de Bolsonaro?
Quando fiz aquele discurso (a favor do impeachment, em março deste ano), várias pessoas me convidaram para tirar o presidente. Havia muita gente oportunista no meio. Não era uma coisa para o bem do país, havia um movimento conduzido pelas mesmas pessoas que no passado me chamaram de golpista. Eu não vou me juntar a este pessoal que é contra tudo o que eu defendi, que defendeu Lula, Dilma. Porém, tenho consciência de que precisamos encontrar alternativa para 2022. Não dá para pensar que está tudo bem.
Vai apoiar Joice Hasselman, a candidata à prefeitura de São Paulo de seu partido?
Não defini meu voto ainda. Nasci em São Paulo, quero o melhor para essa cidade, mas quero ouvir as propostas, vou analisar tudo como uma eleitora que se importa com detalhes. Hoje, se você me perguntar, quem você vai apoiar? Vou ficar neutra.

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