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segunda-feira, setembro 28, 2020

Itamaraty faz chantagem tola com a União Europeia e exibe a derrocada da diplomacia


Ernesto Araújo afirma que o Brasil pode sair do Mercosul | bloglimpinhoecheiroso

Charge do Aroeira (Portal O Dia/RJ)

Deu em O Globo

O Itamaraty já foi referência mundial de diplomacia. Sob o comando do bolsonarista Ernesto Araújo, dominado por uma visão estreita, não consegue contornar as resistências europeias a ratificar o acordo do Mercosul com a União Europeia (UE). O presidente Bolsonaro não ajuda, é certo, mas o Brasil não jogar o jogo diplomático que sempre soube jogar torna tudo pior. O governo e o chanceler são exímios em fazer gols contra.

O alcance do acordo para o Brasil não é percebido em Brasília. O ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa, especialista em comércio internacional, chama a atenção para a amplitude do tratado. Não é apenas um conjunto de regras comerciais. Entre as vantagens está o aumento na integração industrial do país ao mundo, permitindo acesso a tecnologias avançadas.

QUESTÃO DE ESTADO – O acordo precisa ser encarado como questão de Estado, não de governo. Afinal, foram vinte anos de negociações. Seria o cúmulo que, depois de assinado, tudo viesse por água abaixo.

Pois é o que parece vir acontecendo. Pressionado por agricultores que temem competir com exportações do Brasil e da Argentina, o governo francês está à frente das resistências ao acordo. Resultados de um estudo passaram a dar ao presidente Emmanuel Macron argumentos para pregar que os parlamentos da UE não homologuem o tratado.

Por algum método a que o Itamaraty precisaria ter acesso, calculou-se o desmatamento que as exportações de alimentos permitidas pelo acordo causariam. Foi estimado, também não se sabe como, o “custo climático” do fluxo de comércio: “entre 4,7 milhões e 6,8 milhões de toneladas equivalentes de CO2”.

UMA NOTA BUROCRÁTICA – Para responder ao estudo francês, a diplomacia de Ernesto Araújo redigiu uma burocrática nota conjunta com o Ministério da Agricultura e caiu na esparrela de ensaiar uma chantagem com a UE:

“A não entrada em vigor do Acordo Mercosul-UE (…) estabeleceria claro desincentivo aos esforços do país para fortalecer ainda mais sua legislação ambiental”. Aquela que o próprio governo descumpre. A reação envergonha o Itamaraty secular, aquele que, na Guerra das Malvinas, não rompeu com a Inglaterra e ajudou a Argentina. Uma proposta de fazer da Amazônia refém, para pressionar pela homologação do acordo, nem sequer chegaria a ser posta sobre a mesa de qualquer reunião no velho ministério.

DIPLOMATAS “ESPERTOS” – A diplomacia bolsonarista deve se achar esperta, mas abrir a Amazônia a garimpeiros e madeireiros ilegais só ajuda o protecionismo europeu, cujos argumentos se fortalecem a cada faísca nos biomas brasileiros. Escapa ao Itamaraty de Araújo que o país não tem aquilo que o jargão diplomático chama de “excedente de poder” — economia desenvolvida, força militar etc. — para tentar tal chantagem.

Por si só, ela seria indefensável. É essencial cuidar do meio ambiente, não só para não dar argumentos aos europeus, mas sobretudo em benefício próprio, já que a floresta é a garantia das nossas condições climáticas e da maior produtividade agrícola. O risco do Brasil é ficar sem acordo e sem floresta.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A matéria de O Globo esqueceu de mencionar que os Estados Unidos serão o país que mais se beneficiará com o malogro do acordo entre o Mercosul e a União Europeu. O governo do “muy amigo” Trump torce desesperadamente para que o governo brasileiro se incompatibilize com os países europeus. Mas o presidente Bolsonaro e o “chanceler” Ernesto Araújo não são capazes de entender o que está acontecendo. A ala militar do Planalto até entende, mas se omite porque Bolsonaro aumentou os salários dos militares e os ministros estão ganhando mais do que o dobro do que recebiam antes. E o poder embriaga os ministros, sejam civis ou militares. (C.N.)   

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