Leonardo Leão, do A Tarde
Os investimentos que o governo brasileiro têm feito para intensificar a produção de biocombustíveis no País fizeram com que o valor das terras agrícolas no semi-árido baiano tivesse uma alta de 2.000% em dois anos.
De acordo com corretores de imóveis rurais, o aumento é conseqüência do crescente interesse de empresários do agronegócio pelas propriedades da região, que estão entre as mais indicadas da Bahia para o cultivo de oleaginosas, que servem de matéria-prima para o biodiesel. “Por estarem na caatinga, essas terras sempre tiveram valor muito baixo, mas a possibilidade de se tornar fornecedor de insumos para as usinas tem atraído muitos investidores, valorizando a área. Há 12 meses, eu vendia um hectare por cerca de R$ 50. Hoje, existem locais em que a mesma porção de terra não sai por menos de R$ 1 mil”, afirmou o corretor Guilherme Braga Filho.
Ele conta ainda que a maioria dos interessados não pretende investir em mamona, planta típica da região, preferindo apostar no pinhão manso devido à divulgação feita, em março deste ano, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de que não é possível fabricar biodiesel apenas com a mamona devido à alta viscosidade do vegetal.
Especulação – A situação ameaça os planos do governo em utilizar a produção de mamoneiras para alavancar a agricultura familiar. “Inclusive, alguns pequenos agricultores estão vendendo suas propriedades para grandes empreendedores”, revelou Braga Filho, destacando que muitos empresários estão praticando especulação imobiliária, comprando imóveis para vendê-los no futuro. “Todos acreditam que o processo de valorização da área vai continuar”, afirmou o corretor, destacando que “a demanda é tanta que está faltando terra para vender”.
A Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado (Seagri) reconhece o problema, mas assegura que o foco do programa de biodiesel continuará sendo a agricultura familiar. “Entretanto, a produção de mamona na Bahia ainda é insuficiente para atender às quatro usinas já instaladas no Estado; mesmo assim, os usineiros terão que manter contrato com os pequenos agricultores”, ressaltou o secretário Geraldo Simões.
Etanol – A falta de terras para comercialização também afeta os investidores interessados em entrar na cadeia produtiva do etanol (álcool combustível). “Na Bahia, há pouca disponibilidade de áreas livres acima de 40 mil hectares, principal alvo dos empresários, ainda mais dos estrangeiros”, afirmou o consultor João Maurício Velloso. “Para atender aos compradores, tenho que ir aos Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins”, disse.
“A Bahia possui 870 mil hectares zoneados para o investimento em de cana-de-açúcar, sendo que somente o oeste e o extremo sul somam 600 mil hectares”, salientou Simões. “O problema é que essas áreas já estão praticamente tomadas pela produção de soja, algodão e eucalipto”, rebateu Velloso, lembrando que o preço das terras nessas regiões ainda não sofreu impacto com os biocombustíveis porque já têm altos preços decorrentes das outras culturas, “mas, diante da escassez de imóveis, os valores podem aumentar”.
Estrangeiros – Uma preocupação da Seagri tem sido o fato de empresários de outros países estarem comprando cada vez mais terras na Bahia. “Precisamos nos articular com o governo federal para rever a legislação sobre a questão e garantir a soberania nacional”, disse Simões. Dados de 2007 do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) indicam que apenas 0,9% das terras agrícolas da Bahia pertenciam a estrangeiros, mas a assessoria do órgão admite que os números não correspondem à realidade, já que muitos empresários brasileiros são usados como “laranja”, ou seja, compram imóveis em nome de grupos internacionais que não querem divulgar seus negócios no País.
Fonte: A Tarde
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