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sábado, junho 14, 2008

Não passa no Senado

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Assentada a poeira da apertada aprovação na Câmara do novo imposto sobre o cheque, dedicaram-se os líderes do governo a projetar a votação no Senado. Trocando impressões, ontem e anteontem, concluíram todos, a começar pelos senadores governistas, que se a votação acontecer agora, a frio, o projeto não passa. Assim, salvo alterações posteriores, só depois das eleições municipais de outubro a mesa do Senado pensará em colocar a CSS na pauta do plenário. Imaginam os líderes, acolitados pelos ministros com gabinete no Palácio do Planalto, estar a CSS condenada caso não aconteça reviravolta profunda na tendência parlamentar.
Traduzindo a linguagem simbólica que costuma cruzar a Praça dos Três Poderes: só abrindo o cofre o governo poderá esperar a aprovação dessa nova contribuição. Haverá que cimentar, um a um, os votos dos senadores da base oficial. E desde logo, quer dizer, relacionar já as emendas ao orçamento apresentadas por Suas Excelências e não hesitar um minuto na liberação dos recursos.
Essa será a primeira fase, mas uma segunda não demorará muito, na forma de tentativas de "convencimento" de alguns senadores não enquadrados na maioria, mas susceptíveis de cooptação.
Tudo ficou claro a partir da análise da votação de quarta-feira, na Câmara. Apenas dois votos separaram a vitória da derrota, mesmo detendo o governo expressiva maioria entre os 513 deputados. E isso depois do atendimento de quase todas as emendas de partidários e aliados. Centenas de milhões de reais foram liberados e, mesmo assim, foi um susto. Os senadores que preparem suas reivindicações, porque serão atendidos...
As esquerdas, para onde foram?
Vamos descontar o PT, afinal, mesmo dito de esquerda, é o partido do governo. Deve cumprir suas determinações. Dos 80 deputados de sua bancada, 69 aprovaram a CSS.
A pergunta que se faz é sobre a performance dos demais partidos de esquerda, ou tidos como tal. No PC do B, doze votos, numa bancada de treze. No Partido Socialista, 21 em 29. No PDT, 14 em 25. Mesmo desprezando-se os demais penduricalhos, fica difícil entender como tantos "progressistas" admitiram votar pela criação de mais um imposto, e, no caso, daqueles que incidirão indiscriminadamente sobre cidadãos ricos e pobres. Exceção foi o Psol, porque nenhum dos integrantes de sua reduzida bancada aprovou o projeto.
Faz muito que doutos cientistas políticos e outro tanto de sociólogos sustentam o naufrágio das ideologias. Não há mais esquerda e direita, no conceito clássico de tempos idos. Pode não ser bem assim, mas, apesar da mistura de ações e de doutrinas, confundindo conceitos anteriores, salta aos olhos que aumentar impostos constitui prática conservadora.
Um tiro na água
Vinte e quatro horas depois de Denise Abreu haver falado no Senado, ficou clara a conclusão de que seu depoimento equivaleu a um tiro na água. De suas palavras não saíram e nem sairá mais qualquer ameaça ao governo, muito menos a Dilma Rousseff. Não foi cumprida a promessa da apresentação de provas documentais de pressão da chefe da Casa Civil sobre a Anac, no caso da venda da Varig.
Como dificilmente o outro acusado, advogado Roberto Teixeira, se deixará prender em arapucas, caso venha a depor, pode-se dar por encerrado mais esse capítulo da novela tão mal escrita pelas oposições, intitulada "De como perdemos o trem da História".
Nem arranhado o governo sai, apesar da mala de trinta quilos de documentos que dona Denise levou para a sala onde se reuniu a Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Nenhuma folha de papel serviu para relacionar Dilma Rousseff com ações pouco éticas na operação de venda da outrora maior empresa aérea brasileira. Continuando como vão as oposições, logo serão responsabilizadas pela elevação da popularidade da ministra aos dois dígitos, nas próximas pesquisas de opinião.
A Ilha dos Avestruzes
Brasília já foi injustamente chamada de "Ilha da Fantasia", muito pela contrariedade de paulistas e cariocas precisarem vir ao Planalto Central para apresentar e resolver suas questões. Chegou-se a apresentar a capital federal como antro de corrupção, esquecidos os acusadores de que a imensa maioria dos corruptos vem de fora, chega aqui às terças-feiras e, nas quintas, voam para seus estados.
Feita a ressalva, porém, é de justiça referir que Brasília, hoje, transformou-se na "Ilha dos Avestruzes", aquelas estranhas penosas que costumam enfiar a cabeça na areia em meio à tempestade.
O preâmbulo se deve ao fato de que nenhuma autoridade federal dá mostras de estar preocupada ou, mesmo, de ter conhecimento da organizadíssima baderna promovida pelo MST no País inteiro. Só esta semana, ocuparam usinas hidrelétricas, laboratórios, prédios públicos, ferrovias e rodovias. Para não falar no assalto a supermercados. Convenhamos, organiza-se a criação de um estado paralelo, com suas próprias regras, sem fazer caso da lei e da ordem que, mesmo de forma sofrível, vem sendo praticada entre nós.
Se eles podem, quem não poderá? Corre a versão de que a Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, tem levantadas as ações do MST, em andamento e em preparo. Se for assim, uma pergunta não pode calar: para quem são enviados os relatórios? O que faz deles o governo? Chegam ao gabinete do presidente da República? São lidos por ele?
Fonte: Tribuna da Imprensa

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