A forte chuva que começou na terça-feira à noite e se prolongou durante todo o dia de ontem soterrou um dos acessos do Túnel Rebouças, principal ligação entre as Zonas Sul e Norte do Rio, e parou a cidade. Motoristas de bairros próximos levaram até quatro horas para chegar ao Centro - um trajeto feito normalmente em 30 minutos.
O tráfego ficou três vezes mais lento, segundo as autoridades de trânsito. Onze bairros ficaram sem luz e a Defesa Civil do Estado registrou 205 atendimentos. Na Baixada Fluminense, onde a chuva também foi intensa, uma criança morreu ao ser arrastada pelas águas.
Todos os bairros da capital fluminense registraram engarrafamentos. Os Rios Maracanã e Joana, na Zona Norte, transbordaram e o trânsito ficou interrompido nos dois sentidos da Radial Oeste. No Jardim Botânico (Zona Sul), bolsões d'água dificultaram o tráfego.
No Aterro do Flamengo, via expressa da Zona Sul, os motoristas ficaram parados. Muitos desviaram por cima dos canteiros para alcançar as pistas da Praia do Flamengo, a fim de escapar do congestionamento. "Gastei R$ 50 só por causa do engarrafamento. Normalmente, a corrida sai a R$ 20. Se o motorista não tivesse feito bandalhas, eu acho que não chegaria ao trabalho", contou Patrícia Moreira, de 35 anos, que ficou três horas no Aterro.
As ruas da Lapa, no Centro, também ficaram engarrafadas. No cruzamento da Rua Gomes Freire com a Mem de Sá, uma árvore desabou. Não houve feridos, mas o trânsito ficou interditado. Os bueiros entupidos e o esgoto que jorrava de vários locais alagaram vias e deixaram cheiro forte nas ruas.
Comércio
As chuvas provocaram perdas de R$ 15 milhões no comércio do Rio. O presidente do Conselho Empresarial de Varejo da Associação Comercial, Daniel Plá, estima que a queda no faturamento foi de 50%. "A região do Centro foi a que mais perdeu, com 30 mil lojistas afetados. Cerca de 2 milhões de pessoas circulam por ali e ontem o fluxo foi reduzido em mais da metade", afirmou.
Nem os shoppings, que costumam ter aumento de venda nos dias de mau tempo, saíram ilesos. "Com o principal acesso da Zona Norte à Zona Sul interditado (Túnel Rebouças), as pessoas, ou ficaram nos engarrafamentos, ou decidiram não sair de casa." Segundo ele, a perda dos centros de compras foi de 30%.
Em meio à água suja, lojistas tiravam água dos estabelecimentos e pedestres lamentavam a travessia. "Saí às 7 horas da minha casa em Santa Cruz da Serra (Baixada Fluminense) e cinco horas depois consegui chegar na esquina do meu trabalho. Agora, tenho de atravessar a imundície", reclamou Agnaldo Ribeiro, de 52 anos.
A juíza Leydir Kling, diretora dos Foros Marquês do Lavradio e Haddock Lobo, do Tribunal Regional do Trabalho, deixou uma mensagem no site do TRT, avisando sobre o isolamento dos prédios pela água. "A diretora pede às partes e advogados que não se dirijam até o local", escreveu. Outras repartições públicas e o comércio liberaram funcionários cedo.
Para fugir dos engarrafamentos, muitas pessoas optaram pelo metrô. As composições partiram lotadas. A concessionária Metrô Rio colocou todos os trens em operação, com intervalos de 4 minutos, o que não foi suficiente para dar vazão. A empresa ainda usou bilheteiros extras, além de papa-filas circulando em Cinelândia, Carioca, Botafogo e Uruguaiana. Apesar disso, as filas se estendiam para fora das estações.
Pelo menos 11 bairros do Rio e regiões de três cidades da Baixada Fluminense (Duque de Caxias, Itaguaí e Nova Iguaçu) sofreram com a falta de luz. De acordo com a concessionária Light, a falta de luz ocorreu por conta de acidentes de trânsito, que afetaram postes e fios, além de causar queda de árvores.
"Registramos 205 chamadas na capital e na Baixada. Entramos em estado de alerta. O nível da chuva que atingiu o Rio em 24 horas equivale ao que era esperado para todo o mês. Em todo o estado, tínhamos 1.500 bombeiros trabalhando, além de 120 homens da Defesa Civil Estadual e dos funcionários da Defesa Civil de cada município", comentou o diretor-geral da Defesa Civil do Estado, coronel Djalma Souza Filho.
A despeito de todo o caos que parou a cidade, o prefeito Cesar Maia afirmou, por e-mail, que o Rio está preparado para enfrentar chuvas "como toda cidade do mundo". "Quando o nível de chuva ultrapassa a média, há problemas."
Morte
Em Mesquita, na Baixada Fluminense, Juan Ronaldo da Silva Ribeiro, de 9 anos, saía da escola quando caiu em um bueiro, no bairro Jacutinga. Ele ainda foi retirado do Rio da Prata e levado a um posto de saúde, onde morreu. Outra criança, cujo nome não foi divulgado, foi resgatada com vida. Houve ainda quedas de barreiras na região Sul fluminense.
A Rodovia Rio-Santos, por exemplo, ficou interditada no sentido Rio, próximo do km 449, em Mangaratiba. O tráfego teve de ser desviado por dentro de um condomínio. No sentido Angra dos Reis os carros seguiram pela Rio-Santos.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, as Rodovias Washington Luiz e Presidente Dutra ficaram engarrafadas no trecho próximo da Avenida Brasil, que ficou muito congestionada. Pela manhã, a Ponte Rio-Niterói também apresentou trânsito lento, desde o vão central até o Rio, também como reflexo do tráfego intenso na Avenida Brasil e no Centro da capital.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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