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segunda-feira, junho 05, 2006

Um recado à candidatura Alckmin

Por: Reinaldo Azevedo (Primeira Leitura)


Vamos lá. Deixe-me aqui provocar um pouco o desprezo dos especialistas em pesquisas: pelo menos metade dos brasileiros é contra Lula, a sua reeleição, a bandalheira em curso no país. Metade não cai nessa conversa de que sempre foi assim e reconhece que, ainda que a política não tenha sido conduzida por santos até a chegada do PT ao poder, cresceu enormemente o despudor. Metade ainda está, por uma questão de racionalidade comum, disposta a escolher o mal menor. E reconhece em Lula o mal maior.
De onde tiro essa metade? Daqueles dispostos a votar em Alckmin somados a indecisos e votos brancos e nulos. Aplique-se ali margem de erro, e se chega facilmente a essa conclusão. Sim, eu mesmo escrevi aqui, quando foram divulgados os números do Ibope, que essa fatia ainda sem candidato acaba se distribuindo entre Lula e Alckmin. Sim, tudo o mais constante, é mesmo verdade. Mas vou aqui raciocinar por hipótese e supor que tudo o mais não permanecerá constante.
Este texto é um recado à campanha de Alckmin. Os que sempre nos acusaram de tucanos podem perceber a nossa intimidade com o partido. Em vez de ligar para o “nosso” candidato, numa prova de proximidade, recorro a um texto público. Os petistas podem ficar tranqüilos: os tucanos não darão a menor bola. Sempre sabem “o que fazer”, como diria Lênin... Nelson de Sá, colunista da Folha, parece ter percebido. Ele nos chamava antes de “blog tucano”. Agora, de “blog de oposição”. Nada a opor.
Maioria silenciosaA única chance de as oposições vencerem as eleições é apelar àquilo de que parecem ter verdadeiro pavor: a maioria silenciosa. Numa democracia de massas, assaltada por variadas formas de “militantismo” (incluindo o do PCC), essa maioria se recolhe, engole as restrições que tem, se cala e fica à espera de um sinal, de alguma voz pública que a convoque para a batalha. Como diria São Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, essa gente espera distinguir claramente o som dos instrumentos para decidir que rumo tomar. E é justamente isso o que não vem.
No texto anterior, demonstrei como Lula, num único discurso, atacou severamente os tucanos e, querendo ou não, passou a mão na cabeça dos bandidos do PCC — em parte, para mitigar a vergonhosa omissão de seu governo nos assuntos de segurança —, santificando-o. Sobre os policiais mortos, não disse uma miserável palavra. Será que o homem comum, este que chamo de maioria silenciosa, que não é bandido, concorda com Lula? Estou certo de que não concorda.
Assim como o pobre rejeita a suposição de que é a miséria que está na origem da violência. O próprio Lula, aliás, deveria explicar, então, por que não é um bandido. Ou teria ele, por obra divina, escapado de um destino inexorável? Está certo que o procurador-geral da República acusa 40 de seus amigos de quadrilheiros, mas é uma quadrilha de outra natureza, como sabemos.
Ah, mas aí vem o grande temor de setores do tucanato de que uma campanha que enfoque tais aspectos, com clareza insofismável, seja confundida com “coisa da direita”, uma marca da qual fogem como o diabo da cruz, cedendo, assim, à patrulha politicamente correta.
Reportagens sem fundamento que tentaram vincular Alckmin ao Opus Dei, uma prelazia papal, foram rechaçadas de imediato, como se a organização estivesse ligada a alguma prática criminosa. Esses setores tucanos, sei, têm medo de certa mídia. Façam as contas e depois me digam: o que vocês acham que vai render mais artigos de jornal: a leitura sociológica que Lula fez do PCC ou a suposta (e falsa) ligação de Alckmin com o Opus Dei? Meçam o noticiário se tiverem tempo. Eu já sei a resposta. Para certo jornalismo, o PCC é muito menos perigoso. Afinal, seus membros sofreram muito quando tinham quatro ou cinco anos, como lembrou Lula.
Essas alas da oposição jamais teriam a coragem de comprar a briga contra as cotas universitárias, embora elas atendam a uma minoria organizada, que já é base eleitoral cativa do PT, e atentem contra os direitos da maioria. Oh, que horror! Isso seria considerado uma coisa “de direita”. E, afinal, no Brasil, somos todos, como sabemos, homens bons, honestos, virtuosos, bem-intencionados e de centro-esquerda.
O Bolsa Família, hoje, tornou-se um instrumento de caçar votos. Mas também isso não será dito porque, credo!, poderão dizer que os tucanos e pefelistas, se chegarem ao poder, tentarão acabar com esse benefício. É claro que não se trata de acabar, mas de fazer a devida crítica e de corrigir seus rumos. É bom lembrar que a maioria silenciosa não é atendida por bolsa nenhuma.
O MST, sob o governo Lula, passou a invadir terras produtivas, a depredar aparelhos da agroindústria e a chantagear abertamente as instituições. Nem mesmo existência jurídica tem. Mas também é outro confronto que não se quer comprar. Vai que digam que tucanos e pefelistas, porque combatem as utopias autoritárias do sr. Stedile, sejam partidos de direita... O governo de São Paulo, diga-se, em vez de chamar a polícia, fez acordos com cooperativas ligadas ao movimento no Pontal do Paranapanema. Não porque concordasse com ações criminosas. Mas porque cedia à chantagem de um movimento supostamente social. Também é preciso ficar atento à patrulha politicamente correta exercida pelo colunismo isento e progressista! Como sabemos, a suposição de que um político possa usar cilício é coisa muito mais grave do que a evidência de que ele rouba o Estado — ainda que em nome de uma causa.
Sabem por que a maioria é contra Lula, mas Lula tem o voto da maioria? Porque aqueles encarregados de chamar as coisas pelo nome evitam fazê-lo e evitam o confronto com as forças que têm de ser confrontadas. Não se pode vencer o PT cedendo a todas as chantagens dos aparelhos petistas. Sobretudo quando o chefe desse partido é um animal político raro — e é —, conseguindo encontrar um lugar no discurso que, ao mesmo tempo, o torna independente do partido e seu maior fator de coesão.
No que concerne à suruba dos gastos públicos, ao aparelhamento de Estado e às medidas populista-eleitoreiras do quarto ano de mandato, o PSDB e o PFL encontraram o caminho da crítica. Ocorre, senhores, que essa crítica fala aos já convertidos. Quem consegue entender essa fala e ver esses problemas já não vota em Lula — exceção feita àqueles que lucram com o Cassino do Chacrinha.
A maioria silenciosa é o povo. Aquele mesmo povo que, não faz tempo, diante de uma escolha entre o politicamente correto e a dura realidade dos fatos, disse um sonoro “não” à proibição da venda de armas legais. Porque entendeu que a questão era a proibição das armas ilegais, contra a qual o Estado nada fazia — como se viu no caso do PCC.
Sabem quem garantiu a vitória do “não”? A tal maioria silenciosa de que falo, o homem pobre, aquele que não é bandido, o que ainda não teve a vontade corrompida por partido, ONGs, pastorais disso e daquilo. Venceu-se uma poderosa máquina de publicidade, que juntou todas as pessoas supostamente bem-intencionadas do país. Teria sido até interessante se o “sim” tivesse vencido... Dada a explosão de terror promovida pelo PCC, o conjunto corresponderia a uma aula prática de política.
Que fique o recado. Quando o PSDB e o PFL se pegarem num beco sem saída para a campanha — é preciso antes cair a ficha —, a resposta é simples: basta descobrir o que pensa a maioria silenciosa. A maioria que é contra Lula. E sabem o que ela quer? Um pouco mais de decência, de verdade e de civilização. Ou se oferece isso a ela, ou Lula vai vencer, com o voto da maioria, ainda que seja o candidato das minorias.
A tassa do mundo é noçaE, bem, uns seis meses antes de o país chegar à suposta auto-suficiência de petróleo, dei aqui alguns toques às oposições sugerindo ações preventivas, já que a propaganda petista era certa — não, não incluíam explodir plataformas de petróleo. Eu falava de política. Lula, como o previsto, privatizou mais de 50 anos de história.
Agora, ele já está coçando os 19 dedos: “Nunca, ântis, nêsti paíz, a jente consegiu o héquissa. Foi precizo que o fílio de uma mulier que nasseu anaufabeta xegace ao puder”. O homem é um gênio num deserto. Governistas ganham e perdem eleições independentemente do resultado da Copa do Mundo, como sabemos. Mas "nunca antes neste país" o Brasil venceu com o PT no comando. Não é o caso de jogar urucubaca nos canarinhos só por causa disso. Afinal, apear Lula do poder é tarefa que cabe a outros jogadores — que, por enquanto, se negam a entrar no jogo e ficam só dando toquinho de lado.
[reinaldo@primeiraleitura.com.br]

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