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terça-feira, junho 13, 2006

Vítimas do ódio

Adital - Entre 1980-2005, foram assassinados, no Brasil, 2.511 homossexuais, em sua maior parte vítimas de crimes homofóbicos. Segundo o Grupo Gay da Bahia, realizador da pesquisa, o ódio da homossexualidade se manifesta através dos requintes de crueldade como são praticados esses homicídios: dezenas de tiros ou facadas, uso de múltiplas armas, tortura prévia, declaração do assassino "matei porque odeio gay!".

O relatório Assassinatos de Homossexuais no Brasil (2005) apresenta o perfil dos gays, travestis e lésbicas vítimas de crimes homofóbicos nos últimos 25 anos. Os Estados de São Paulo e Pernambuco são os estados mais violentos. Entre as vítimas, ricos empresários, muitos cabeleireiros, padres e pais de santo e funcionários públicos. Os afro-descendentes são maioria. Menos de 10% dos criminosos são levados a julgamento.

Os crimes cometidos por "pura maldade", como qualificou a delegada da Cidade de Maracanaú, no Interior do Ceará, ao encontrar o corpo completamente desfigurado do cabeleireiro Emanuely, 49 anos, morto a pontapés por dois rapazes, um deles filho de um militar.

Dentre as vítimas, 72% são gays, 25% travestis e 3% lésbicas. Para uma população estimada em 20 mil indivíduos, as transgêneros (travestis e transexuais) são proporcionalmente mais agredidas que as lésbicas e gays, que somam mais de 18 milhões de brasileiros, 10% da população.

Segundo o Grupo Gay, no Brasil registra-se, portanto, um crime de ódio anti-homossexual a cada três dias. Dois por semana. Oito por mês. Uma média de 100 homicídios anuais. A partir de 2000, essa média vem aumentando: 125 crimes por ano, sendo que, em 2004, atingiu o recorde de 158 homicídios.

Se comparado com outros países do mundo, numa lista de 25 nações sobre as quais há informações disponíveis, incluindo Irã, Arábia Saudita, Somália, Argentina, Peru e Colômbia, além dos principais países europeus, o Brasil ocupa o primeiro lugar, com mais de 100 crimes homofóbicos por ano, seguido do México com 35 mortes anuais e dos Estados Unidos com 25. sendo que este último, além de ter 100 milhões de habitantes a mais, dispõe de coleta rigorosa de estatísticas sobre "hate crimes" ou crimes de ódio, enquanto no Brasil, tais dados dependem do limitado levantamento em jornais e Internet.

Segundo o antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB e responsável pela pesquisa: "estes números são apenas a ponta de um pavoroso iceberg de ódio e sangue. Não estamos sendo vitimistas, nem exagerando ao indicar que, certamente, todo dia, pelo menos um homossexual é assassinado no Brasil, embora tais informações nem sempre cheguem até os militantes. Prova disto é que, em 2004, foram registrados 158 crimes e, em 2005, este número baixou incrivelmente para 81. Infelizmente não porque estamos conseguindo erradicar o ódio homofóbico ou porque os gays estão se cuidando mais. Tal redução pela metade se deveu à suspensão do clipping semanal sobre homicídios, devido à falta de financiamento para a manutenção desta pesquisa."

Para Marcelo Cerqueira, atual Presidente do GGB, "o Governo, particularmente o Ministério da Justiça e a Secretaria Nacional de Direitos Humanos devem criar com urgência um departamento específico para a coleta rigorosa de informação sobre crimes de ódio - sobretudo contra minorias sexuais e raciais - pois somente conhecendo em profundidade tais crimes, o perfil das vítimas e de seus algozes, é que conseguiremos conter este genocídio. Que país é este que aplaude as travestis no carnaval e no dia seguinte mata um homossexual na esquina!"

A maioria das vítimas foram assassinadas a tiros, seguida de facadas, incluindo pedradas, asfixiamento, pauladas, enforcamento. É sobretudo nos fins de semana, em altas horas da noite, quando mais homossexuais são assassinados: as travestis, na rua, a tiros; os gays, dentro de seus apartamentos, a facadas. As idades das vítimas variam de 12 a 82 anos; a dos assassinos, de 14 a 50.

A partir de 2000, São Paulo, é o estado que registra o maior número de assassinatos de homossexuais: 21 por ano. Mais preocupante, porem, é Pernambuco, que com uma população cinco vezes menor, contabilizou no mesmo período 16 crimes homofóbicos anuais. Na Bahia, Goiás e Rio de Janeiro ocorre em média um crime homofóbico por mês. Essas estatísticas, contudo, apresentam enorme oscilação: O Distrito Federal, que, em 2001, registrou 11 homossexuais assassinados, em 2004, teve apenas um, e nenhum em 2005. Não há informação sobre crimes homofóbicos em sete estados, sobretudo no extremo norte, o que reforça o reconhecimento de que o número real destes homicídios deve ser o dobro do apresentado nesta pesquisa.

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