Por: Ruy Guimaraes - professor de historia
(Carta aberta a Bruno Maranhão e à militância do MLST)
Tenho a pretensão aqui de acrescentar algo para os ignorantes e leigos em história. Os vândalos foram um dos inúmeros grupos de povos bárbaros que invadiram oImpério Romano provocando sua queda a partir do ano 476 d.C. A adjetivação pejorativa de bárbaros foi dada pelos cristãos ocidentais porque aqueles povos falavam línguas e dialetos completamente diferentes do latim e do grego, porque não eram cristãos e/ou monoteístas, porque eram povos guerreiros e alguns até carne crua comiam. As chamadas invasões bárbaras, que não foram planejadas e nem executadas em data previamente marcada, se deram ao longo de anos, como conseqüência natural da opressão política, econômica, cultural e da expansão territorial do Império Romano do ocidente. A repressão militar do Estado romano provocou a reação de povos que não tinham quase nada a perder. E essa reação foi, muitas vezes, violenta. Entravam nas cidades saqueando, matando e destruindo o que estivesse pela frente ou simbolizasse a opressão imperialista. Por isto, a dita "civilização" ocidental passou a se referir aos atos de resistência dos povos pobres e oprimidos como vandalismo, baderna e a tachá-los de criminosos. Com a hegemonia ocidental no mundo, os conflitos políticos de baixa e média intensidade passaram a ser resolvidos em salas fechadas, distantes dos reais interesses do povo por senhores das elites que se autointitularam representantes deste. Deste modo, não causa estranheza que ainda hoje quando os movimentos sociais se mobilizam para exigir das elites aquilo que é seu por direito sejam tratados como criminosos pelos arautos da democracia burguesa, os que "resolvem" os conflitos pelo conchavo nos bastidores sem mexer nos seus interesses particulares. Tive a honra e o prazer de participar do ato de fundação do Movimento de Libertação dos Sem Terra, em 1997, em Brasília. Lá vi e convivi por três dias com homens e mulheres honrados. Pobres, muito pobres. Mas, com uma dignidade que quase nenhum político ou homem de mídia tem. Com um espírito de luta capaz de lhes fazer enfrentar as piores adversidades com a cabeça erguida, sem vender ou negociar esta dignidade. Conversam dizendo a verdade olhando nos olhos, muito diferente da imensa maioria dos políticos. Confiam nos semelhantes, até serem traídos. Lutam pela terra para seu sustento. Mas não olvidam das lutas gerais dos outros pobres da terra. Saíram para as ruas e os campos carregando a bandeira da reforma agrária e acreditaram como milhões de brasileiros, que um operário na presidência da República ao menos daria início à resolução dos problemas históricos da classe trabalhadora. Foram traídos. Viram os principais escudeiros do governo e do seu partido afogados num mar de lama ao lado de uma lumpem-burguesia da pior espécie. Tenho a honra e o prazer de ser amigo de Bruno Maranhão e de ter sido seu companheiro de militância por dezoito anos dos vinte em que estive no PT. Trata-se de um homem reto, digno e honrado que doou, como milhares, os melhores anos de sua vida à luta contra a ditadura militar. Engenheiro, filho de tradicional família nordestina, poderia, aos 65 anos, levar uma vida tranqüila com seus filhos e sua companheira Suzana. Mas, não. Ambos, ele e Suzana, são espíritos inquietos e inconformados com as injustiças sociais e seguem lutando ao lado dos pobres contra elas. São estas atitudes de Bruno e dos companheiros do MLST que provocam a ira dos políticos, desde os mais escrotos como Ronaldo Caiado que cometeu a sandice de comparar e forçar a vinculação do MLST ao PCC até os mais polidos da dita "esquerda" parlamentar-governista-legalista que se apressaram em exigir a cabeça de Bruno no PT e a prisão dos militantes. O Império Romano caiu há séculos. Ergueu-se o Império do Capital com seus centuriões incrustados em todos os setores da vida pública e nos meios de comunicação que fazem a cabeça das massas. Pensar passou a ser um privilégio de poucos. A juventude é estimulada à alienação e ao vício. Aqueles que cresceram politicamente na luta contra a ditadura e galgaram postos na superestrutura do Estado lambuzam-se com as migalhas caídas da mesa das elites. Administram o Estado e a crise da burguesia com denodo e servilismo repugnantes, o que explica os altos índices eleitorais do presidente. Ninguém melhor para legitimar a exploração do capital do que um operário vaidoso, um ex-líder sindical que cresceu politicamente ocupando fábricas e apontando os picaretas do Congresso. Agora, ele próprio e seus asseclas fazem parte da picaretagem e condenam as ocupações de terras e prédios públicos, chamando os ativistas de vândalos. Viram as costas para quem os carregou nas costas e abraçam-se com os coronéis do nordeste, com os banqueiros e a lumpem-burguesia que saqueia os cofres públicos. Diz que não sabia de nada! Quem são os vândalos? Os que lutam por vida digna, são reprimidos com violência e reagem ou os que destroem o patrimônio público, respaldados em altos cargos,com suas roubalheiras? Quem promove a baderna? Os que se mobilizam em busca de direitos básicos ou os que rasgam os direitos conquistados em anos de lutas do povo a pretexto de reformas modernizadoras? Quem são os criminosos? Os que,movidos pela ira justa dos explorados quebram as vidraças dos palácios e rompem as cercas dos latifúndios, ou os que, em quadrilhas estruturadas com requintes de sofisticação e complexidade desviam bilhões de dinheiro público para atender seus interesses mesquinhos, os que mandam exterminar quem ousa denunciá-los, como aconteceu com Celso Daniel e Toninho do PT? Nesta semana foram os militantes do MLST. Logo serão milhões de indignados e inconformados a quebrar as estruturas físicas e (i)morais dos exploradores e seus serviçais. Abraço forte a Bruno Maranhão e seus camaradas. Vida longa ao MLST e a todos os que lutam contra a exploração. Viva a classe trabalhadora!
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