Por: Helio Fernandes (Tribuna da Imprensa) E quer eleger pelo voto os que estão no Órgão Especial sem voto O Conselho de Justiça decidiu, foi criado para superintender (não quero dizer fiscalizar) o funcionamento da Justiça: os Tribunais de Justiça do Brasil todo têm 30 dias para eleger pelo voto direto metade dos membros dos Órgãos Especiais. O recurso surgiu do Estado do Rio. O presidente Sergio Cavaliere e seu segundo, o poderoso Luiz Zveiter, resolveram não esperar os 30 dias. E por motivos mais do que óbvios decidiram acelerar a votação. Em vez de 30 dias, se fosse possível, 3 dias. Vai demorar uns dias a mais. Engendraram, que palavra, uma fórmula mágica de eleger esses 11 membros do Órgão Especial pelo voto direto, e ao mesmo tempo deixar tudo como está. A fórmula? Eleger pelo dito voto direto os 11 desembargadores que já estão lá. Por causa disso, os 160 desembargadores tiveram um terrível fim de semana, começando na sexta-feira. A cabala, a movimentação, o jogo de interesses, a "descoberta" de possíveis pontos fracos e até as amizades desses 160 desembargadores foram localizados, utilizados e até explorados, a palavra é exatamente essa. Até juízes de primeira instância (que algum dia, é lógico, serão desembargadores). E magistrados de todas as categorias, principalmente mulheres, foram convocados, com missão específica: fazerem pressão especificamente sobre mulheres. Sejam mulheres magistradas, sejam mulheres de magistrados influindo e influenciando os maridos. Diversos juízes, desembargadores e até a OAB do Rio trabalham intensamente para que o voto direto seja a ratificação do que já existe no Órgão Especial, sem eleição alguma. E como o maquiavelismo (?) é a vocação natural de alguns, estão cumprindo a primeira parte do plano, mas já têm pronta e está sendo trabalhada a segunda. Seria o seguinte. Agora, pelo voto direto, seriam eleitos 11 desembargadores, com mandato de 2 anos. Terminados esses 2 anos, os mesmos desembargadores seriam elevados para os 12 lugares cativos dos desembargadores mais antigos. Como são 160 desembargadores, a cota dos que caem na "expulsória" absurda é muito grande. Mesmo se não desse para preencher as 12 vagas, preencheriam as que fossem possíveis. E novamente pelo voto direto (de cabresto ou manipulado?), como tentam fazer agora. No final de 3 dias de intensa mobilização sobre os 160 desembargadores, euforia na cúpula do Tribunal: diziam que já haviam chegado aos 100 votos, mais do que suficiente para a vitória. Esses vão votar sem nenhuma dúvida. Outros, intransigentes, também votarão, contra. Com um terceiro grupo, indeciso, foram magnânimos e generosos: "Está bem, não precisa nos apoiar, basta não votar". A ministra Ellen Gracie precisa intervir, como interviu na questão da liminar que tinha quase 1 mês e foi dada "em cima da hora". E o Conselho de Justiça tem enorme responsabilidade na questão: mostrar ao presidente do Tribunal de Justiça que a eleição pelo voto direto é para renovar e não para tripudiar ou conservar. PS - Mas têm que agir rapidamente, com a mesma velocidade com que aqui trabalham pela ratificação do absurdo. Querem fazer a eleição dos 11 do Órgão Especial ainda esta semana. Precisam só definir a forma dessa eleição, imprimir as cédulas, publicar no Diário Oficial. PS 2 - Esta semana a Justiça estará em causa, mais em espírito e em credibilidade do que propriamente na escolha. E com o silêncio de toda a imprensa, nunca um assunto foi tão exclusivo para um único repórter. É que os interesses são fabulosos, o comprometimento da comunicação, total. Sergio Cavaliere Comanda a batalha dos 11 do Órgão Especial. Já são chamados de "seleção do Cavaliere". Querem ver se fazem a "escolha" esta semana. Serão os últimos dias de Pompéia. Mais 25 dias e estará terminado o prazo para registro de candidaturas. Todas. Para governadores e senadores dos 27 estados. A partir do final de junho, estará tudo consumado. Substituição, só por morte de candidatos, o que já aconteceu. Principalmente na Bahia e no Rio Grande do Sul. Sempre por causa de acidentes de avião. Nesse caso é permitida a troca, lógico. Não falei em presidente ou em vices. Na sucessão presidencial, nenhuma alteração. Serão Lula e Alckmin, por enquanto na batalha das pesquisas totalmente a favor de Lula. No dia 1º de outubro, a batalha do voto. Se o cidadão-contribuinte-eleitor confirmar a pesquisa, terá sido a eleição, ou melhor, reeeleição, mais fácil desde que implantado o voto direto. Quanto aos vices, a escolha será mais prolongada. É o segundo cargo na escalada para o Poder, com dois fatores importantes. 1 - Vice não disputa eleição. Se ganhar leva tudo, se perder, pode jogar a culpa em cima do "cabeça de chapa". Até dizer com certa convicção: "Se eu fosse o candidato principal, não teria perdido". 2 - O vice no Brasil tem uma longa história de assumir. Desde os 2 primeiros marechais das Alagoas (que surrupiaram o Poder dos civis, Propagandistas da República e Abolicionistas), vigora a tradição. Deodoro assumiu em 25 de fevereiro de 1891, em 3 de novembro do mesmo 1891 fechou o Congresso, o Supremo, prendeu civis e militares. Em 23 de novembro ainda desse prolongado 1891 foi substituído pelo também marechal Floriano Peixoto. Não renunciou, foi derrubado. No momento é impossível dizer quem será o vice de Lula. Como ele é favoritíssimo nas pesquisas, a vontade de ser vice é enorme. Mas nessa variedade de opções, Lula tem que se preocupar mais com o perfil do que com o nome. Lula começou o primeiro mandato num casamento perfeito com a opinião pública. Teve 53 milhões de votos declaradamente a favor. E outros 53 que não votaram nele, mas abençoaram a afirmação de que a esperança venceria o medo. Como não venceu, começará o quase provável segundo mandato debaixo de tremenda desconfiança. E essa desconfiança vai crescer ou diminuir de acordo com o vice. Se for conservadoríssimo, prejudica o Lula. Se for comunista, não favorece Lula, mas assusta a todos. Embora Aldo Rebelo não tenha nenhuma chance ou possibilidade, alimenta a idéia. Idem, idem para José Sarney. Ameaçado de ser derrotado no Amapá, na disputa pelo quinto mandato de senador, trabalha intensamente para ser vice. Com 76 anos, não assusta o presidente. Mas como escolher um cidadão que já foi vice e governou todos os 5 anos do mandato, com a morte do eleito? O Estado do Rio está cheio de candidatos que sutilmente pretendiam abandonar a vida pública. Quer dizer: sem nenhuma chance, se candidataram ao Senado. Exemplo: Jandira Feghali e Ronaldo Cesar Coelho. Agora, também apregoando candidaturas ao Senado, surgem Alfredo Sirkis e Carlos Minc. Prestaram bons serviços no Rio, não têm votos para o Senado. Pode surgir também Wladimir Palmeira. Ou desistirem todos desse Senado distante e se reelegerem onde estão. Anthony Mateus não pode ser candidato a nada. Quer dizer: poderia ser presidenciável, não tem legenda. Mas não consigo entender Dona Rosinha voltando pra casa, quando pode se reeeleger com facilidade. Ela é elegibilíssima pela Constituição. Só pode ficar inelegível por decisão do TSE ou STF. Sem ela, o PMDB pode perder. Para satisfação geral. O que me dizem: ela quer descanso, a volta mais alto em 2010. Mais alto? Alckmin declarou: "Nos 3 estados do Sul, ganhamos no Paraná e Rio Grande, só temos alguma dúvida em relação a Santa Catarina". Ha! Ha! Ha! Perde nos 3, sem a menor dúvida. Curiosidade: Requião e Rigotto riram. Os 3 são do PMDB, mas quem ficou furioso foi Luiz Henrique, de Santa Catarina. Na verdade, Alckmin pode perder nos 27 estados. Até em SP. Dos chamados cardeais do PMDB, quem está mais satisfeito e até silencioso é Michel Temer. Tem alguma esperança de ser vice de Lula, pode ser vice de Serra. Se não "ganhar" nenhuma indicação, será presidente da Câmara em 2007. Muita gente me pergunta: mas Temer não era porta-voz de Mateus? Eu lembro a todos: sempre deixei bem claro que era apenas habilidade. Como nenhum "líder" do PMDB se dava com Mateus, assumiu essa condição. Mas sabendo desde logo que o PMDB não teria presidenciável. Não teve. O presidente Lula, de camisa da seleção, não sei se foto melancólica ou demagógica. Quem sabe a mistura das duas coisas? Disse ao grande amigo, o corruptíssimo Ricardo Teixeira, "não assistirei nenhum jogo da seleção". Agora aparece com a camisa, até mesmo fazendo propaganda do patrocinador. Foi o primeiro presidente da República nessa posição. Nem Juscelino, que era um populista nato, nem os generais de plantão da ditadura ousaram o gesto inesperado. Medici e João Figueiredo iam normalmente ao Maracanã, eram violentos e perseguidores, mas sem camisa. O que pretende ou pretendia Lula com essa aparição inesperada? Incentivar a seleção de Parreira? Não precisa e não tem a menor influência. Não é porque o presidente vestiu a camisa que irão jogar melhor ou pior. E a frase: "Tenho uma relação de amor com esses artistas". E nas outras Copas, onde estava Lula? Mesmo antes de ser presidente, alguém viu Lula indo a algum jogo das eliminatórias, torcendo, revelando esse amor pelos "artistas?". Tudo demagogia. Lula gostou muito do gol do Kaká. Mas reincidiu no exagero: "Ninguém ganha dessa seleção". A Nova Zelândia é que é ninguém. XXX A melhor charge de 2006, disparada, foi a do Chico Caruso, sexta-feira. Lula olhando carinhosamente para Quercia, e dizendo com ternura: "O Dia dos Namorados é lá em casa, Quercia". Bestial, pá. XXX Maria Sharapova perdeu excelente oportunidade de se aproximar do título de Roland Garros. Enfrentando Safina, perdeu o primeiro set, numa tola dupla falta. No segundo, venceu facilmente, no terceiro fez 4/0 com 2 quebras. Sacava em 5/2 para fechar e passar às quartas, perdeu 5 games seguidos, foi eliminada. Inacreditável. Só que estava mais bonita ainda, nos seus exuberantes 19 anos. XXX Muita satisfação do repórter indo a São Paulo e falar e debater com alunos de jornalismo da PUC. Horas e horas ganhas em contato com jovens dos 4 anos de jornalismo. Orientados pela dedicada professora Rachel, o que mais me impressionou: a curiosidade insaciável de todos, as perguntas relacionadas com os caminhos do jornalismo e do Brasil. Gosto muito de falar para estudantes, na verdade gosto mesmo do debate em qualquer nível. Mas essa experiência, magnífica. XXX |
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segunda-feira, junho 05, 2006
Sergio Cavaliere desafia o Conselho de Justiça
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