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quarta-feira, junho 01, 2022

Presidente monta palanque em cima da tragédia em PE




Presidente faz campanha para seus candidatos e para sim mesmo, aparelha ministério e ataca governador

Por Maria Cristina Fernandes 

O presidente Jair Bolsonaro transformou sua visita a Pernambuco - que registrou, até a manhã de ontem, 91 mortes, 26 desaparecidos e cinco mil desabrigados em decorrência das chuvas - num palanque eleitoral em defesa de seu grupo político no Estado e de sua própria reeleição. Valeu-se ainda de sua presença na cidade para tentar remediar a imagem negativa de sua atuação na pandemia. Não faltou nem mesmo a associação da morte de Genivaldo Santos, motociclista morto em Sergipe pela Polícia Rodoviária Federal, à “bandidagem” ao lado de quem, disse ele, a “mídia sempre está”.

Depois de sobrevoar as áreas alagadas, sem pousar em nenhuma delas, o presidente deu entrevista na Base Aérea do Recife antes de voltar a Brasília. Estava acompanhado de seis ministros (Defesa, Saúde, Desenvolvimento Regional, Cidadania, Turismo e GSI) e o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, todos de colete para dar a imagem de equipe em operação. No Recife, integraram-se à comitiva o comandante militar do Nordeste, general Richard Nunes, o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Luiz Medeiros, que assumiu a gestão com a desincompatibilização do titular, Anderson Ferreira (PL), candidato do bolsonarismo ao governo do Estado, além do deputado federal Pastor Eurico (PL-PE), candidato à reeleição e integrante do núcleo político local do presidente.

Bolsonaro criticou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), por “não ter tido a iniciativa de procurá-lo”, por não estar na base aérea (“resolveu ficar em casa apesar de a pandemia ter acabado”), evento para o qual governador informou que não foi convidado a participar, e por “fazer política” em cima da tragédia. Tradicionalmente, são os presidentes que procuram e oferecem ajuda aos demais entes federativos, em tragédias do gênero. Mas o governador Paulo Câmara resolveu não polemizar. “Não vou comentar ato político. Nosso foco está no atendimento à população e no apoio aos municípios. Estamos no meio de uma emergência, com 26 pessoas ainda desaparecidas. Toda ajuda ao povo de Pernambuco será bem-vinda”, disse, em nota.

O clima de campanha eleitoral contaminou a coletiva de Bolsonaro. A começar do anúncio de que a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, vitrine da campanha do candidato do presidente ao governo do Estado, o ex-prefeito Anderson Ferreira (PL), foi a primeira a receber recursos (R$ 2,3 milhões) federais para enfrentar as chuvas. No balanço do governo do Estado de onze trechos de estradas com alagamento e deslizamento de barreiras, seis ficam no município. O ministro do Turismo, Carlos Brito, disse que estava sendo informado sobre a situação no Estado pelo antecessor, Gilson Machado, de quem foi assessor. Machado hoje é o candidato do PL ao Senado.

O presidente não informou a razão pela qual a Pasta foi incluída na comitiva além de ter um ministro pernambucano e um ex-titular candidato. O ex-ministro candidato tem sido o elo entre o governo federal e prefeitos da Região Metropolitana que buscam recursos sem a intermediação do governo estadual. Os recursos só podem ser liberados mediante decretação de estado de emergência, situação que desobriga licitação para contratação. A administração pública, em todo Brasil, está a um mês de ter novas contratações de obras e serviços públicos suspensas em função do calendário eleitoral.

O ministro do Turismo chegou ao Recife na véspera, junto com os ministros Daniel Ferreira (Desenvolvimento Regional), Ronaldo Bento (Cidadania) e Marcelo Queiroga (Saúde). Apenas o titular do MDR ligou para o governador e para o prefeito do Recife, João Campos. A comitiva foi ciceroneada por Gilson Machado, que dominou a coletiva dos ministros.

Seu sucessor não foi a única autoridade a citá-lo. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, cuja missão parecia ser a de defender a política habitacional do governo, paralisada desde a posse de Bolsonaro, também disse ter prestado contas de suas ações ao candidato do PL ao Senado. O clima de campanha contaminou ainda o ministro da Justiça, Anderson Torres, que, em 70 segundos, citou cinco vezes o trabalho da Polícia Rodoviária Federal - cujos agentes torturaram e mataram Genivaldo dos Santos - no socorro às vítimas das chuvas.

No Palácio do Campo das Princesas, a única autoridade presente à coletiva do presidente a ser elogiada é o general Richard Nunes, comandante militar do Nordeste. Tanto as páginas do Exército quanto a do governo de Pernambuco no Twitter postaram as fotos da reunião em que o general participou no gabinete de crise montado pelo governador. Relatos dão conta de uma relação tão boa quanto o foi com o titular anterior do CMNE e atual comandante do Exército, general Freire Gomes.

Valor Econômico

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