Deputado que desconsiderou pedidos de impeachment busca mais poder
Por Alvaro Costa e Silva
A mania começou no futebol. O atacante marcava um gol daqueles que até você faria. Então saía em disparada gritando para si mesmo: "Eu sou foda!".
Depois virou moda no mercado editorial. O português Miguel Esteves Cardoso leva a culpa de ser o pioneiro, ao lançar em 1994 o best-seller "O Amor é Fodido" —aliás, um belo romance. De 2010 a 2020, era impossível entrar numa livraria sem se deparar com os títulos de autoajuda: "Seja Foda", "Ligue o Foda-se e Seja Feliz", "Como Ser uma Pessoa Foda", "Liberdade, Felicidade e Foda-se", "A Sutil Arte de Ligar o Foda-se", "Seja Foda, Seja Inteligente", "Ninguém é Fodido por Acaso", "Coragem e Foda-se o Resto", "Fodeu Geral" e --o meu preferido-- "Como Ser uma Mãe Foda".
Agora o fenômeno chegou às altas rodas do centrão. O jornalista Chico Alves contou que, no horário político dedicado ao PP nas emissoras de televisão em Alagoas, "Arthur Lira é foda". É o que diz o slogan de campanha à reeleição do presidente da Câmara. A propaganda é tosca, não há jingle, apenas um refrão mal cantado, confirmando o lugar-comum segundo o qual a crise no país é também estética.
Com tanto dinheiro que lhe foi destinado em emendas do orçamento secreto —entre 2020 e 2021, R$ 357 milhões para cidades alagoanas—, o candidato poderia ter caprichado mais no audiovisual da bagaça. O vídeo diz que "o homem é forte em Brasília", mas se cala sobre ele ter sentado em cima de todos os pedidos de abertura de impeachment contra Bolsonaro. Omite o único fato que fará com que no futuro Lira seja citado numa pequena nota nos livros de história do Brasil.
O principal fica sem explicação: o deputado é foda por quê ou em quê? E para quem? Só se for para ele mesmo. Trabalhando para derrubar a Lei das Estatais e já articulando sua permanência por mais dois anos no comando da Câmara, Lira não abre mão de ser o dono do dinheiro que jorra secretamente.
Folha de São Paulo