Com ataque às urnas e vice general, Bolsonaro investe em eleitor fiel e ameaça
Jair Bolsonaro (PL) pode ver o copo meio cheio ou o meio vazio na mais recente pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial.
De mais favorável, a partir de sua perspectiva, preservou o apoio de 28% do eleitorado —parcela equivalente, na margem de erro, à de 27% apurada em maio— mesmo após nova rodada de dolorosos reajustes dos preços dos combustíveis.
Trata-se de um contingente considerável, até espantoso, para um governante que passou pelas intempéries de uma pandemia e de uma onda inflacionária global, tendo gerido ambas pessimamente.
Entretanto Bolsonaro permanece num distante segundo lugar na disputa, rejeitado por 55% e sob risco de perder já no primeiro turno, e tem cada vez menos chances de impulsionar sua candidatura.
A principal aposta governista, a ampliação do Bolsa Família a um custo de quase R$ 90 bilhões neste ano, mostrou-se até aqui um fiasco em termos de intenções de voto. À base de desespero, cogita-se agora elevar o valor do auxílio.
Diante das duas leituras, o mandatário prefere satisfazer seus apoiadores fiéis a moderar discurso e prática na busca de novos eleitores. Foi o que fez no domingo (26), em entrevista a um programa de simpatizantes na internet.
Bolsonaro retomou a defesa do pastor evangélico Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação preso na semana passada em meio a uma investigação sobre corrupção na pasta. O caso, aliás, pode ser novo foco de atrito entre o presidente e o Judiciário, se avançarem as suspeitas de interferência do Planalto na atuação da Polícia Federal.
Repetiram-se os ataques de tom golpista ao sistema eleitoral, incluindo a afirmação —cuja gravidade vai muito além de uma simples mentira descarada— de que uma fraude teria impedido sua vitória no primeiro turno em 2018.
Não menos importante, Bolsonaro anunciou que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e partícipe da ofensiva contra as urnas eletrônicas, será mesmo o vice em sua chapa —em vez de uma opção mais moderada e capaz de atrair novos votos, como a ex-ministra Tereza Cristina, da Agricultura, defendida pelo centrão.
A pouco mais de três meses do pleito, o mandatário investe no tumulto e na intimidação, mesmo ciente de que a mentira não elevará suas chances de vitória nem a aliança com militares vai impedir que a vontade popular seja respeitada.
Se não forem eficazes o uso da máquina pública e a campanha negativa contra o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro poderá conservar, de todo modo, patrimônio eleitoral suficiente para atazanar o país na oposição.
Folha de São Paulo