"Para Bolsonaro, andar de jet ski e de moto parece ser mais divertido e fácil do que liderar um país"
Por Thomas Milz*
O presidente negacionista chega ao fim de seu terceiro ano de mandato negando-se cada vez mais até mesmo a governar. Está na hora de o Brasil ter mais ambição e botar alguém com vontade de trabalhar na Presidência.
Nada mais simbólico do que o presidente andar de jet ski e dançar funk numa lancha, enquanto as casas de milhares de brasileiros estão sendo submersas por inundações, principalmente no sul da Bahia. Mas isso não é nenhuma novidade.
Em três anos de governo, Jair Messias Bolsonaro mostrou o desinteresse pelo cargo que ocupa. Ele tem sido um turista, e não um líder de governo e da nação. Andar de jet ski e de moto parece ser mais divertido e fácil do que liderar um país.
Bolsonaro já havia se omitido quando florestas brasileiras pegaram fogo e quando milhares morreram de coronavírus. Ele parece gostar do avanço da destruição, portanto não faz nada para detê-la. Às vezes, ainda sabota os bombeiros e joga gasolina nas chamas. Por outro lado, não sabe construir nada. Seu mandato presidencial é a continuação dos seus quase 30 anos como parlamentar, nos quais não criou nenhum projeto de lei digno de nota.
Por outro lado, ainda bem, diga-se de passagem. Assim, aqueles projetos malucos de costume, como a escola sem partido, já foram deixados de lado por ele. Assim como a criação de escolas militares em massa. Já não se fala mais em Olavo de Carvalho, graças a Deus, a não ser da fuga dele para os Estados Unidos. Aliás: de fugas hollywoodianas para lá, houve muitas ultimamente: o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, o blogueiro Allan dos Santos e aquele líder dos caminhoneiros que nem era líder dos caminhoneiros. Turma estranha.
E não se fala muito mais em Paulo Guedes. A última coisa que ouvi dele foi a explicação de como evitar pagar impostos ao criar empresas offshore no Panamá. O tal choque liberal na economia, por outro lado, ninguém viu. Ao invés de privatizar estatais como a Petrobras, o presidente quer mais interferência governamental para manipular o preço da gasolina. Como tantos outros governos antes dele já tinham feito.
E nada de combater a corrupção. Sob o governo Bolsonaro, acabou-se o lavajatismo. Ao invés disso, há rachadinhas generalizadas e orçamentos secretos. Sobraram, portanto, os velhos instrumentos dos populistas, nada mais. Alias, é a velha política que ele tinha prometido combater. Consequentemente, ele está de volta ao PL de Valdemar Costa Neto, de volta ao coração do Centrão. E não se ouve mais o general Heleno cantar "Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão".
Na América Latina, uma das regiões mais pobres e desiguais do planeta, o Brasil tinha dado sinais de se transformar num país sério, a partir de meados dos anos 1990. Tinha conseguido, pouco a pouco, ser destaque internacional na área de meio ambiente, de diplomacia global e de combate à pobreza. Tudo isso foi para o lixo no governo de Jair Messias. A única iniciativa de política externa foi repetir tudo o que Donald Trump fazia, até esse cair. Sem Trump, Jair Messias conversa com os garçons nas cúpulas internacionais.
Caetano Veloso já tinha cantado: "Nessa terra a dor é grande. E a ambição, pequena". Está na hora de ter mais ambição e botar alguém com visão e vontade de trabalhar na Presidência. O Brasil é grande demais para se apequenar com um presidente turista no Palácio do Planalto. A notícia triste é que, com tanta mamata, Jair Messias e sua família podem ficar o resto das suas vidas andando de jet ski e dançando funk num jatinho. Prova que a tal meritocracia não existe. Outra promessa que virou vento.
*Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
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