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quarta-feira, dezembro 29, 2021

Para conter perda de votos de Bolsonaro, governo manda Queiroga anunciar vacinação

Publicado em 29 de dezembro de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Zé Dassilva (nsctotal.com.br)

Pedro do Coutto

Para conter a perda de Bolsonaro na planície eleitoral, o Planalto claramente determinou ao ministro Marcelo Queiroga que anunciasse a vacinação das crianças de 5 a 11 anos de idade, como vem sendo feito no mundo, e como deseja a maioria da população e, portanto, do eleitorado brasileiro.

O bloco do Centrão, base de Bolsonaro no Congresso, revelou preocupação com o desgaste maior do presidente se ele permanecesse na sua posição negacionista e isolada da população. O temor do Centrão em perder votos está bem retratado em reportagem de Julia Lindner e Jussara Soares, edição desta terça-feira, no O Globo.

CONTRA AS VACINAS – O lance do governo voltou-se na realidade contra a vontade do próprio Jair Bolsonaro. Tanto assim que o presidente da República afirmou, está na mesma reportagem, que não vacinará a sua filha Laura de 11 anos de idade. Bolsonaro tem algo de profundo contra as vacinas e a própria vacinação. Não sei explicar o motivo.

Mas o fato é que a pressão popular interpretada por uma corrente governista desencadeou uma pressão irresistível sobre o Executivo, com reflexo da campanha eleitoral, e fez com que o ministro Marcelo Queiroga, que vinha colocando obstáculos seguidos à vacinação infantil, revelou Paula Ferreira no O Globo de ontem, fosse forçado a anunciar que a vacinação de crianças a partir de 5 anos deve começar em janeiro, provavelmente após o dia 5, para disfarçar o limite de tempo que havia fixado para conclusão da sombria consulta pública sobre a matéria de interesse social.

INSENSIBILIDADE – Bolsonaro, no episódio, demonstrou insensibilidade política, pois já deveria ter percebido  e agido em função do intenso apoio popular à vacina contra a Covid-19 e contra a gripe Influenza. Basta ver que 165 milhões de brasileiros e brasileiras se vacinaram numa escala percentual bastante firme e reveladora de uma tendência em favor da vida humana.

Como Bolsonaro poderia ficar contra a imunização ? Difícil interpretar a razão. Mas foi o que ele fez e continua fazendo ao dizer que a sua filha de 11 anos não será vacinada. Esqueceu da sua mulher, Michelle Bolsonaro, que vacinou-se quando ambos estiveram em Nova York para a Conferência da ONU. Jogar-se contra a vacina num panorama como o brasileiro, em que morreram 610 mil pessoas em decorrência da pandemia, é uma loucura arrematada. Isso sob a ótica individual. Sob a ótica coletiva e política, significa jogar fora um novo mandato que a cada dia torna-se uma perspectiva mais distante.

Ontem, em artigo no O Globo, Merval Pereira focalizou o quadro político, admitindo o surgimento de uma terceira alternativa em decorrência do esvaziamento de Bolsonaro. Mas é difícil, a meu ver, a terceira via, sobretudo porque os acordos políticos na disputa dos governos dos estados, em reflexo do Datafolha e do Ipec, vão se deslocar para a chapa Lula-Alckmin porque, afinal de contas, os rios correm para o mar. A expectativa de chegar ao poder isola ideologias. Política é assim.

TÍTULOS DE APOSENTADORIA  -Trata-se de mais um delírio fantasioso em deliberação da usina do ministro Paulo Guedes. O Tesouro lançaria um título a ser adquirido pelas pessoas físicas, a população,  portanto, que daria direito à aposentadoria a quem o adquirisse daqui a trinta anos ou daqui a quarenta anos, dependendo de sua opção, uma vez que o resgate quatro décadas depois seria mais vantajoso. Um delírio.

A ideia de Paulo Guedes ressurge para anular o sistema atual de aposentadoria por um método de aquisição pessoal através da apólice do Tesouro.Quem assumiria esses papéis ? Só loucos. Ainda mais em um momento em que o governo faz aprovar pelo Congresso o calote dos precatórios que vencem no final deste ano, em 2022 e até em 2023. Se o governo não paga créditos originários de decisões judiciais, vai garantir o pagamento de títulos daqui a três décadas? Guedes é assim.

Títulos para os que trabalham, vencimento daqui a trinta anos. Títulos assumidos pelos bancos, regidos pela taxa Selic, resgate em trinta minutos. A questão da emissão de tais títulos foi focalizada por Adriana Fernandes, o Estado de S. Paulo de segunda-feira, por Idiana Tomazelli, Folha de S. Paulo de ontem, e por Geralda Doca, O Globo também de terça-feira.

REIVINDICAÇÃO – A Associação dos Magistrados Brasileiros – reportagem de Thiago Resende e Ana Tomazeli, Folha de S. Paulo, dirigiu documento ao ministro Luiz Fux, presidente do STF, para que endosse a reivindicação da magistratura federal no sentido de que os juízes e desembargadores, além dos ministros do STJ e do próprio STF, sejam incluídos no reajuste salarial proposto pelo presidente Jair Bolsonaro aos integrantes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária e da Polícia Judiciária, órgãos vinculados ao Ministério da Justiça.

A reivindicação, entretanto, não fixa um percentual, mas a questão é que Bolsonaro autorizou o aumento, mas não fixou qual a porcentagem em sua entrada em vigor. Enquanto isso, o presidente do Fórum Permanente das Carreiras de Estado, Rudinei Marques, marcou para hoje, quarta-feira, uma reunião das lideranças dos servidores públicos para discutir o mesmo problema. Rudnei Marques disse que uma das propostas em discussão será uma greve de 24h a 48h para iniciar um processo de conciliação com o governo federal.

IGUAL PARA TODOS – A mesma iniciativa está sendo colocada em prática pelo secretário geral da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público, Sérgio Ronaldo da Silva. O movimento do funcionalismo federal era esperado, inclusive porque pelo artigo 37 da Constituição Federal o aumento do funcionalismo público tem que ser igual para todos, a partir da mesma data e com a mesma percentagem.

Distinguindo apenas a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária e a Polícia Judiciária, Bolsonaro, mantida essa posição, perderá muito mais votos do que aqueles que ele pensar que vai ganhar. Tal situação é fácil de prever, pois se baseia num princípio eterno dos seres humanos.

DIFICULDADE DE MORO – Malu Gaspar, O Globo, edição de ontem, revela que Sergio Moro está encontrando dificuldade para contratar um marqueteiro para a sua campanha e, a meu ver, dificuldade também para colocar a sua campanha nas ruas, nas telas da TV e da internet e nas páginas dos jornais. No caso do marqueteiro isso ocorre porque não é fácil encontrar financiadores. Afinal, ele prestou um serviço importante para o país de combater a corrupção que une políticos e empresários, exceções confirmando a regra.

Em segundo lugar, porque ele terá que descobrir uma mensagem a ser enviada ao eleitorado, o que seria muito mais fácil se ele não tivesse aceitado ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Além disso, foi o de reivindicar e não obter o controle do Coaf. O Coaf é um ponto estratégico para o universo político e empresarial. Ele detecta as transferências bancárias de difícil explicação e de depósitos no exterior,  mais difíceis ainda de revelar e traduzir.


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