O presidente americano, Joe Biden, alertou nesta quinta-feira (30) seu colega russo, Vladimir Putin, que os Estados Unidos vão responder "firmemente" se a Rússia invadir a Ucrânia, enquanto o líder russo respondeu que sancionar Moscou seria um "erro colossal".
Depois do telefonema de 50 minutos, o segundo em pouco mais de três semanas, os dois presidentes elogiaram a via diplomática para sair da crise gerada pela ameaça de uma invasão russa após a mobilização maciça de tropas russas na fronteira com a Ucrânia.
Mas qualquer avanço diplomático passa por "uma desescalada", alertou o presidente americano.
Biden "deixou claro que os Estados Unidos e seus aliados e sócios vão responder com firmeza se a Rússia invadir mais a Ucrânia", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki. Em 2014, Moscou anexou a península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia.
Putin ficou "satisfeito" em geral com a conversa, disse a jornalistas o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov. Um alto funcionário americano declarou, sob anonimato, que o tom da conversa foi "sério e substancial".
Biden está em Wilmington, Delaware, onde tem casa e passa as festas de fim de ano. A Casa Branca publicou uma foto do presidente ao telefone em um cômodo com paredes revestidas com madeira.
Segundo Ushakov, Putin alertou Biden para a necessidade de "um resultado" positivo para Moscou nas próximas conversas sobre segurança, previstas para 10 de janeiro.
Este mês, a Rússia fez uma série de exigências para resolver as tensões na Ucrânia, que incluíam garantias de que a Otan não se expandiria para além de suas fronteiras e de não construir novas bases militares americanas nos países da antiga União Soviética, que Moscou considera sua área de influência.
- "Pleno apoio" -
Segundo a Rússia, suas demandas buscam apenas evitar o agravamento das tensões, já que Moscou considera o apoio dos Estados Unidos, da Otan e da União Europeia à Ucrânia, com um governo pró-Ocidente, uma ameaça direta aos seus interesses.
Os Estados Unidos, acusados de dirigir alguns temas internacionais sem muita concertação com seus aliados, insistem em coordenar posições estreitamente com os europeus e os ucranianos.
Na quarta-feira (29), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, e, em seguida, com seus homólogos de França, Alemanha e Reino Unido.
Zelensky enfatizou ter recebido garantias do "total apoio americano" para "combater um ataque russo".
- Sem concessões -
Os países ocidentais descartaram até agora uma resposta militar a uma possível invasão russa, e o Kremlin deu pouca atenção às ameaças de sanções.
Segundo Ushakov, Biden advertiu para a imposição de fortes sanções contra Moscou se a escalada continuar.
Putin alertou que estas medidas poderiam levar a uma "completa ruptura" dos vínculos entre a Rússia e o Ocidente, destacou este assessor. "Isto seria um erro colossal, que poderia levar a consequências graves, as mais graves. Esperamos que não ocorra", acrescentou.
A Rússia e sua elite governante já são alvo de inúmeras represálias econômicas dos países ocidentais pela questão ucraniana e pela repressão no país. Nenhuma dessas medidas fez o Kremlin mudar de atitude, muito pelo contrário.
Moscou nega estar ameaçando a Ucrânia, embora em 2014 tenha anexado a península da Crimeia, e afirme agir em resposta à hostilidade do Ocidente que apoia Kiev, especialmente em seu conflito contra separatistas pró-russos no leste do país.
Estes últimos, embora os dirigentes russos o neguem, são suspeitos de estar sob ordens do Kremlin.
Por enquanto, as negociações de 10 de janeiro em Genebra sobre a Ucrânia e a estabilidade estratégica se anunciam tensas. O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, já descartou a possibilidade de "concessões" por parte de Moscou, e os Estados Unidos alertaram que alguns pedidos russos são "inaceitáveis".
Essas discussões, lideradas pela vice-secretária de Estado americana, Wendy Sherman, e seu homólogo russo, Serguei Riabkov, serão seguidas por uma reunião entre representantes de Moscou e da Otan em 12 de janeiro e por outra, no dia seguinte, no âmbito da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
AFP / Estado de Minas