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quinta-feira, dezembro 30, 2021

Bolsonaro entra no ano eleitoral em má posição - Editorial




Nunca um incumbente esteve em situação tão ruim quando tentou a reeleição a um ano antes do pleito

O presidente Jair Bolsonaro chega ao ano final de seu mandato colhendo o que plantou: instituições desfazendo diariamente decisões ilegais de seu governo, inquéritos para apurar fake news em que o mandatário está envolvido e queda de popularidade. A mais recente pesquisa Datafolha revela aspectos relevantes para um candidato à reeleição - 53% consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, 48% julgam que ele é o pior presidente que o país já teve e 60% afirmam que nunca confiam no que ele diz.

O prestígio de Bolsonaro já começara a descer ladeira abaixo logo no início de seu governo, quando decidiu, ao lado de generais que presumiam entender de política, que não precisaria ter uma base de apoio no Congresso. Os legisladores aprovaram uma reforma já amadurecida anteriormente, a da previdência, e barraram todas as pautas conservadoras com que Bolsonaro anima a minoria radical que o admira nas redes sociais. Veio a pandemia e houve mais entendimento entre governo e Congresso diante da catástrofe. Mesmo assim, o protagonismo nunca foi do Planalto.

Bolsonaro fez - e ainda faz, 618 mil vítimas depois - tudo o que pode para impedir que medidas para combater a covid-19 fossem tomadas. Sua mais recente investida foi contra a vacinação das crianças. A magnitude do auxílio emergencial usada para amparar 66 milhões de pessoas que repentinamente ficaram sem fonte de renda colocou no limbo os atos criminosos do presidente, enquanto governadores, prefeitos e serviços públicos de saúde se encarregaram de fazer o que precisava ser feito contra a pandemia.

O ápice das investidas do presidente contra as instituições ocorreu no 7 de Setembro, e, logo depois, foi contido pelo Centrão, já de posse da Secretaria de Governo, da Casa Civil e do comando da Câmara dos Deputados. A aliança foi selada à base de emendas do relator em troca do afastamento da possibilidade de impeachment.

Quem achava que Bolsonaro com uma base parlamentar de apoio abriria a rota menos acidentada para as reformas teve logo de abandonar suas ilusões. As reformas foram deixadas de lado - em primeiro lugar pelo próprio presidente da República, que nunca viu sua necessidade. A reforma administrativa foi um exemplo claro: Bolsonaro topou até mexer neste vespeiro, desde que os atuais funcionários ficassem fora dela.

O presidente escapou de consequências legais sérias porque, a seu modo, e com custos para a nação, montou uma rede de proteção. Além da Câmara, com Arthur Lira - que só viu a pilha de 142 pedidos de impeachment crescer -, ele conta com a complacência da Procuradoria Geral da República, que o auxiliou a arquivar a Lava-Jato, com modificações na cúpula da Polícia Federal e, a partir de janeiro, com dois ministros indicados para o Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro terceirizou o orçamento para o Centrão, apenas requerendo privilégios para suas “bases”, os militares e policiais. Do meio ambiente à saúde e educação, sua gestão oscilou entre a omissão deliberada, a política ideológica destrutiva, a defesa de interesses privados e, por fim, uma desumana incompetência. Os atos de governo são felizmente desfeitos dia após dia. O STF, por exemplo, mandou o Executivo recompor o Conama, devastado por Ricardo Salles, que eliminou na prática a participação da sociedade civil no órgão.

Mesmo com dezenas de bilhões de dólares entregues aos partidos que o apoiam no Congresso, Bolsonaro é o presidente com a menor taxa de sucesso em três décadas. Em 2019, primeiro ano de administração, quando o governo deveria estar no auge de seu prestígio, foram aprovados apenas 30% dos projetos enviados ao Congresso. Na pandemia, foram 42,9% e neste ano, com emendas secretas e tudo, 29% (levantamento do Iesp).

A campanha eleitoral mal está começando e tudo ainda pode acontecer. O ponto de partida do presidente, porém, é muito desfavorável. Pesquisa Datafolha (13 a 16-12) mostrou que Bolsonaro esteve adiante de seu maior rival, o ex-presidente Lula, disparado à frente, apenas como presidente que mais pensa em Deus antes de tomar decisões e o que mais defende os ricos (56%). Ele terá de reconquistar 4 de cada 10 eleitores que o apoiaram em 2018 e bateram em retirada. O Auxílio Brasil deve ter efeitos a seu favor, mas nunca um incumbente esteve em situação tão ruim quando tentou a reeleição a um ano antes do pleito. E a capacidade de Bolsonaro se reiventar é zero.

Valor Econômico

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