Governo acusa funcionários e ex-funcionários do portal pró-democracia Stand News de "conspiração para publicações sediciosas", minando ainda mais a liberdade de imprensa no território semiautônomo chinês.
A polícia de Hong Kong prendeu na manhã desta quarta-feira (29/12) seis pessoas ligadas a um portal de notícias online independente.
Eles são acusados de "conspiração para publicações sediciosas" (que incitam a insurreição), disse o governo de Hong Kong em um comunicado à imprensa.
A emissora Hong Kong TVB informou que os seis são atuais ou ex-funcionários do site de notícias pró-democracia Stand News.
A agência de notícias AFP afirmou que o editor-chefe do Stand News, Patrick Lam, foi algemado. O ex-editor-chefe Chung Pui-kuen e quatro membros do conselho que renunciaram em junho estão entre os presos, segundo a mídia local.
Mais tarde nesta quarta-feira, o Stand News anunciou seu fechamento.
Em comunicado à imprensa, a polícia de Hong Kong disse que realizou uma operação de busca contra uma "empresa de mídia online", com a participação de "200 policiais uniformizados e à paisana".
Revista em casa
O comunicado oficial da polícia não identifica os presos, mas afirma que são três homens e três mulheres, com idades entre 34 e 73 anos.
De acordo com a correspondente da DW Phoebe Kong, oficiais do departamento de segurança nacional da polícia de Hong Kong vasculharam a casa de Ronson Chan, presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong.
Chan, que também é vice-editor do Stand News, informou que a polícia confiscou seu computador, celular, tablet, credencial de imprensa e registros bancários. Ele foi levado para interrogatório, mas liberado em seguida.
"O Stand News sempre conduziu reportagens profissionais, disso não há dúvidas", disse Chan a repórteres. "As acusações criminais não vão mudar esse fato."
A polícia disse em comunicado que conduziu a busca com um mandado que autorizava "procurar e apreender materiais jornalísticos relevantes".
O Stand News postou um vídeo no Facebook de policiais afirmando que tinham um mandado para investigar "publicações sediciosas".
"Precedente perigoso"
Eric Lai, pesquisador de direito de Hong Kong no Centro de Direito Asiático da Universidade de Georgetown, disse à DW que as prisões abrem um "precedente perigoso", já que o governo pode prender pessoas "retroativamente".
"A acusação de publicação sediciosa também foi usada contra sindicalistas que publicaram um livro infantil há alguns meses", disse Lai, referindo-se a cinco pessoas detidas em julho por publicar a obra chamada Defenders of the Sheep Village.
"Foi muito perturbador porque a lei sediciosa em Hong Kong é um tipo de crime de fala que o governo pode usar sempre que precisar, uma vez que interpreta qualquer expressão ou publicação que seja antigovernamental".
Lai alertou que as acusações de publicação sediciosa teriam um "efeito sem precedentes" e "arrepiante" em todo o território.
"Isso forçaria os jornais de Hong Kong a decidir se ainda querem agir de forma independente e crítica em relação ao governo", acrescentou.
Ataque à liberdade
O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) descreveu a operação como "um ataque aberto à já deteriorada liberdade de imprensa de Hong Kong" e pediu que as acusações sejam retiradas.
Esta não é a primeira vez que a polícia de Hong Kong realiza operações contra jornalistas.
Em junho, centenas de policiais invadiram as instalações do jornal pró-democracia Apple Daily. Os executivos do jornal foram presos por "conluio com um país estrangeiro".
Na terça-feira, promotores de Hong Kong entraram com uma acusação adicional de "publicações sediciosas" contra o fundador do Apple Daily, Jimmy Lai.
Hong Kong tem perdido cada vez mais liberdades desde que Pequim impôs, em junho do ano passado, uma polêmica lei de segurança nacional. No início deste mês, Hong Kong realizou uma eleição legislativa "apenas para patriotas".
Em setembro, organizadores da vigília anual em homenagem às vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial disseram que polícia ordenou que páginas do grupo fossem tiradas do ar. Em outubro, a Anistia Internacional fechou escritórios em Hong Kong.
Deutsche Welle