Por Ricardo Noblat (foto)
A vida de um chefe de Estado costuma ser muito dura e, como qualquer servidor público, ele tem direito a tirar férias. Todos tiram. No caso de Bolsonaro, o problema é que ele tirou férias quando chuvas torrenciais inundam a Bahia, matando 24 pessoas e desabrigando milhares delas. E agora avançam sobre Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas não só por isso.
Ao longo de sua vida, ele jamais se destacou como um sujeito que gostasse de trabalhar. Como soldado, gostava de disputar corridas de curto fôlego e foi elogiado por isso. Como vereador, primeiro, e deputado federal por quase 30 anos, dedicou-se mais ao descanso bem remunerado. Frequentemente era visto cochilando durante as sessões da Câmara. Compareceu a poucas reuniões de comissões.
É um presidente que mal dorme, mas não porque o emprego assim exija. Tem insônia e aproveita as madrugadas para bisbilhotar o que dizem a seu respeito nas redes. Chega ao Palácio do Planalto por volta das 7 horas da manhã. Cochila depois do almoço, e antes das 6 horas da tarde parte para o Palácio da Alvorada, onde mora. Terceiriza tudo o que pode, menos as diversões.
Somente este mês, esteve em Guarulhos, no litoral de São Paulo, entre os dias 17 e 23. Passeou de lancha e dançou funk. Voltou a Brasília para gravar sua mensagem de Natal ao lado de Michelle, a primeira-dama. Mas dois dias depois já estava na praia em São Francisco do Sul, Santa Catarina, onde se valeu de um jet-ski da Marinha para navegar com a mulher e a filha Laura.
É esperado em Brasília no próximo dia 4. Mandou avisar que no dia 5 participará de um jogo de futebol beneficente promovido por uma dupla de cantores sertanejos. Desconhece-se, por enquanto, o que pretende fazer ao longo de janeiro, ou o que parece mais provável: não fazer. Seus assessores garantem, contudo, que ele despacha com ministros por telefone.
São curtos despachos, como curtos são seus pronunciamentos oficiais. Deve-se ao seu vocabulário rastaquera e à sua falta de paciência para ler qualquer texto que exceda uma página. Nem mesmo portarias, decretos, Medidas Provisórias ele lê de cabo a rabo. Pede que leiam por ele, e assina-os. O que não o impede de alardear que não desejaria a ninguém a vida estafante que leva.
Não foi à Bahia depois que a situação por lá se agravou. E não pretende ir porque do ponto de vista eleitoral, ouviu Evandro Éboli, repórter deste blog, de um dos seus acompanhantes, a Bahia é um Estado “perdido” para ele. De fato, a Bahia é governada há 16 anos pelo PT. Votou em Lula duas vezes, duas vezes em Dilma, e está pronto para eleger Lula de novo.
Ocorre que ali Bolsonaro também tem muitos votos. E poderá perdê-los dada a sua indiferença com o sofrimento dos baianos. O governo argentino ofereceu ajuda humanitária aos atingidos pela chuva no Estado. Orientado por Bolsonaro, o Ministério das Relações Exteriores recusou a ajuda. O governo argentino é de esquerda e recepcionou Lula outro dia. Bolsonaro detestou.
A hashtag #BolsonaroVagabundo ficou entre os principais assuntos do Twitter por dois dias seguidos. Nesta madrugada, ainda estava. Faz sentido.
Jornal Metrópoles