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quinta-feira, dezembro 30, 2021

Brasileiros derrotam negacionismo com adesão à vacinação - Editorial

 




Depois da ridícula pantomima do ministro Marcelo Queiroga — sugerindo exigência de receita médica e impondo uma inusitada consulta pública para a vacinação infantil contra a Covid-19 —, ficou claro que o Ministério da Saúde indicará a imunização para crianças entre 5 e 11 anos, seguindo a recomendação da Anvisa e de outras autoridades no mundo todo. Menos mal. O teatro de Queiroga não terá passado de mais um rapapé em deferência ao negacionismo antivacina do presidente Jair Bolsonaro, irresponsável a ponto de recusar vacinar a própria filha contra uma doença que tem matado uma criança a cada dois dias no Brasil.

Felizmente, a população e os governos locais dão de ombros aos arroubos de Bolsonaro. O brasileiro aderiu em massa à vacinação e certamente não deixará de levar as crianças aos postos de saúde. Tal contraste transformou o Brasil em exemplo num mundo em que o negacionismo é preocupante.

No fim de novembro, quando a quarta onda de Covid-19 se agravava na Europa, a revista alemã Der Spiegel fez um paralelo entre o caos que tomava conta da Alemanha e o avanço da vacinação no Brasil. Neste mês o Washington Post publicou reportagem de página inteira sobre a cidade de São Paulo, considerada caso exemplar por ter vacinado 100% da população adulta.

Ambas as publicações reconhecem que o cenário positivo por aqui decorre da estrutura universal do SUS, que chega às localidades mais remotas, da infraestrutura da Saúde e da disposição dos brasileiros em se vacinar. Nunca se duvidou da capacidade do Brasil nessa área. Criado nos anos 1970, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) adquiriu experiência notável e se tornou referência mundial. Graças a ele, o país erradicou ou controlou doenças como sarampo ou meningite. Mas essa estrutura competente ficou ociosa porque não havia doses suficientes para a demanda, já que o governo desprezara as ofertas que recebera. O antecessor de Queiroga, Eduardo Pazuello, chegou a dizer que não entendia a ânsia pelas vacinas. Só ele não entendia.

Em julho deste ano, o Datafolha mostrava que 94% dos brasileiros ou tinham se vacinado ou estavam dispostos a se vacinar. Ainda estamos longe disso. Mas os números da vacinação são animadores. Mais de 75% já tomaram a primeira dose, 67% completaram o esquema vacinal e quase 12% receberam a dose de reforço. Embora esses índices ainda sejam insuficientes para proteger a população diante do avanço da nova variante Ômicron, provocaram impacto nos indicadores. Em que pese o apagão de dados do Ministério da Saúde, o país que chegou a registrar mais de 4 mil mortes num único dia hoje soma ao redor de cem.

Isso não significa que a epidemia esteja controlada. Cenários positivos podem se deteriorar rapidamente, como se viu na Europa e nos Estados Unidos. A vacinação também é desigual. Enquanto Rio e São Paulo vacinaram quase todos os adultos, Amapá, Roraima e Acre estão muito abaixo da média. Estudos sugerem que duas doses apenas não bastam para deter a Ômicron. É necessário o reforço ou uma vacina específica, ainda em desenvolvimento. Por enquanto há poucos casos da Ômicron no país, mas eles não tardarão a subir. Não adianta tergiversar: é vacinar, vacinar e vacinar. É louvável o caminho percorrido — mérito dos brasileiros —, mas não dá para relaxar.

O Globo

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