Delegado reclama que até o apresentador Faustão tem acesso a dados de telefônicas
BRASÍLIA - Em depoimento ontem à CPI dos Grampos na Câmara dos Deputados, o delegado da Polícia Federal Élzio Vicente da Silva admitiu existir um "mercado negro" de grampos telefônicos no país. O mercado, segundo ele, seria comandado por empresas que realizam serviços de espionagem particular.
Ele afirmou ainda ter conhecimento de que as empresas têm "tabelas de preços" para as interceptações de telefones fixos e celulares. O delegado Élzio Vicente da Silva comandou a Operação Chacal, em que a Polícia Federal investiga suposta espionagem da Telecom Itália pela Kroll, "Não me lembro dos valores da tabela, mas telefone fixo era mais barato do que celular para grampear", afirmou. O depoimento de Silva aconteceu pela manhã e durou cerca de duas horas.
O delegado defendeu ainda maior autonomia da PF para recebimento, por parte de operadoras de telefonia, de dados cadastrais de clientes investigados pela corporação. Silva repetiu o discurso feito na véspera pelo também delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz.
"Em um dos sorteios do programa do Faustão (da TV Globo), a identificação de chamada era feita on line. Eu lembro que um dos autores de ligações para a Rede Globo foi um telefone do Corpo de Bombeiros. A identificação de chamada e do proprietário da linha era feita pela Globo. Por que a autoridade policial, em investigação, tem que primeiro acordar o juiz de madrugada, acionar o Oficial de Justiça de plantão e levar ao procurador para se manifestar?", questionou.
O delegado depôs pela terceira vez na CPI. Ele reclamou da demora no acesso aos dados cadastrais de clientes telefônicos advertindo que a lentidão já trouxe prejuízos às investigações da PF. "Até fazer tudo isso, morreu a vítima. O Faustão tem acesso a essa base de dados, a Polícia não tem".
Élzio da Silva confirmou que a Kroll foi contratada por um grupo para fazer investigação empresarial. "Tanto é que há ações correndo na Justiça", disse, limitando-se a não detalhar a investigação com o argumento de que ela corre em segredo.
Doação eleitoral
O presidente da CPI dos Grampos, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), admitiu ter recebido a doação de R$ 10 mil, durante a campanha eleitoral de 2006, do executivo Dório Ferman, que aparece em registros oficiais como dono do banco Opportunity, de Daniel Dantas. "Se eu recebi a doação e estou investigando (o banqueiro Daniel Dantas), está demonstrada a minha isenção. O dinheiro dado à minha campanha não estabelece relação de amizade com quem fez a doação", afirmou.
Itagiba ponderou ainda que a transferência de recursos de Ferman para ele ocorreu há dois anos, época em que o executivo não era investigado pela Polícia Federal. No mês passado, a PF deflagrou a Operação Satiagraha, que provocou a prisão de 18 pessoas, entre elas, Daniel Dantas. Segundo Itagiba, Ferman faz parte da comunidade judaica do Rio, da qual recebeu apoio durante sua campanha à Câmara dos Deputados. "Não recebi doação de aliados do senhor Dantas, mas uma colaboração de R$ 10 mil do senhor Dório, que faz parte da comunidade judaica".
Fonte: Tribuna da Imprensa
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