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segunda-feira, maio 29, 2006

Bernardes, Vargas, FHC, Lula ou Pedro Simon, com esse quadro partidário

Por: Helio Fernandes

ENTRAM NA HISTÓRIA PELA PORTA DA OMISSÃO
Pedro Simon sempre foi o candidato do grupo não governista do PMDB. E por que só foi aparecer praticamente 1 mês antes da convenção ou de que forma a legenda chama essa escolha do candidato? Elementar. Primeiro porque Pedro Simon não gosta de badalação, não dava o tão desejado sim a essa parte do PMDB que pretendia o candidato próprio. Ou aparecer com ele.
Qual a razão de Pedro Simon unificar esse grupo da base-governista? Novamente elementar, pelo motivo muito simples de que ele é Pedro Simon, intocável e inatacável. Senador várias vezes, governador, ministro de Estado, ninguém jamais teve motivo ou a audácia de fazer qualquer restrição a ele.
Mas se Pedro Simon unia essa parte do PMDB, não há a menor dúvida: consolidava num bloco firme e indestrutível, todos os que não queriam um presidenciável, achavam muito melhor se concentrar em eleger a maioria na Câmara, a maioria do Senado e a maioria dos governadores. E aí, recolheriam o resultado de todas essas vitórias, irrevogáveis.
E embora a cúpula do PMDB tenha indisfarçáveis simpatias por Lula, com essas maiorias no Congresso e entre os governadores, fará composição-obrigação com qualquer presidente. Seja ele do desejado PMDB ou dos não tão íntimos PSDB, PFL ou o presidente que chegue ao Planalto no dia 1º de janeiro de 2007. Por que essa fórmula insuperável?
Além de ninguém no Brasil ter um projeto de governo, saber o que precisa fazer, identificar as omissões do governo desde o Império ou a República, falta ao País uma profunda reforma partidária. E quando digo PROFUNDA, é porque tudo precisa ser mudado e modificado, é obrigatório passar um trator em cima de tudo, destruir para construir ou reconstruir de forma a acabar os 506 anos de atraso do País.
E basta citar apenas 3 exemplos de incapacidade política eleitoral de 3 presidente. Artur Bernardes (1922-1926) disse: "Qualquer presidente só pode governar em estado de sítio". E como a Constituição de 1891 permitia, Bernardes governou os 4 anos em estado de sítio, fechando o Congresso, perseguindo, prendendo adversários de 30 em 30 dias.
De 1889 a 1930 plantaram a discórdia, a divergência, não fizeram coisa alguma. Por fatores os mais diversos, foram 41 anos de golpes e mais golpes, enquanto o País não saía do lugar. Em 1930 houve o que chamam histrionicamente e não historicamente de "revolução". Vargas que não queria essa "revolução" nem foi o seu chefe, assumiu, não seguiu nenhuma regra, implantou a sua, que era a permanência no Poder. Ficou 15 anos.
Essa ditadura foi derrubada, mas as coisas continuaram as mesmas. Dutra, que em nome do Exército garantiu a ditadura, foi feito (e não eleito) presidente. Fez a primeira "aliança", que Carlos Lacerda rotulou como "chapa-branca". De certa maneira era mesmo. O sistema continuou tão falso, que depois de Dutra veio Vargas, ditador por 15 anos, que com sua incompreensão do que era democracia, montou tudo o que está aí até hoje.
FHC (1994-2002) fez também a sua frase definição sobre o Poder: "Sem medida provisória não há governabilidade". A visão era clara e correta, mas o remédio acabaria por matar o doente. Logo a seguir surgiu um trabalhador, na primeira alternância do Poder. Só que não sabia o que era governar, entre o projeto de governo e o projeto de Poder, evidentemente ficou com o segundo, mobilizado, manipulado e monitorado por todos os lados. Não sabia de nada.
Em 2002, em 513 deputados (um exagero, não deveriam existir mais do que 300 ou 350) o PT elegeu o presidente e apenas 85 deputados. Como governa? Só com os "chapas-brancas" de 1945. Agora marchamos para nova eleição, com o mesmo esquema partidário, que é no mínimo suicida. Por isso, o PMDB, sabiamente dentro desse quadro, preferiu não fazer o presidente, prefere controlá-lo através dos cargos mais importantes.
Para terminar por hoje, a constatação: se optasse por ter candidato a presidente, o PDMB jamais escolheria Pedro Simon. Dentro da legenda, Simon é tido como intratável e não conversável. E é mesmo. Nos regimes dominados pela corrupção, os homens honestos "atrapalham" tudo. Simon sabe disso. Só queria embalançar o PMDB, obrigá-lo a raciocinar e mudar alguma coisa. Nem que seja apenas Ney Suassuna. Já que não atingirá Renan, Sarney, Jucá, Jader Barbalho e todos do mesmo time.
PS - E mesmo que o PMDB lançasse Pedro Simon, (não fará isso nunca) Anthony Mateus não poderia ser o vice. Pela Constituição, é inelegível. E apesar da cúpula do PMDB ser poderosa, não é mais poderosa do que a Constituição.
Alvaro Uribe
É mais um personagem quase indecifrável na América do Sul. Nos 4 anos de presidente, mostrou que não tem ideologia. Adora apenas o Poder.
As penitenciárias têm nomes de grandes juristas, personalidades que se destacaram, principalmente como criminalistas, magistrados e até presidente da República. Nessa confusão de SP, o centro da rebelião ficou em Presidente Prudente, Epitácio, Wenceslau. Aqui mesmo no Rio, existe o presídio Nelson Hungria, extraordinária figura, um dos maiores ministros da história do Supremo Tribunal.
Por causa disso, sabendo que estava morrendo, mocíssimo, o grande criminalista que foi Antonio Evaristo de Moraes filho, recomendou aos filhos: "Não deixem que coloquem meu nome em alguma penitenciária".
Bernard Shaw: "Numa penitenciária, o homem mais angustiado é o seu diretor".
Romero Jucá queria ser governador. Estava separado de dona Teresa, que exibia um dossiê tremendo contra ele, não escondia nada. Como ex-mulher é para sempre, Romero fez um acordo, voltou para dona Teresa.
O acordo: ele governador (trocando os 4 anos do Senado por 4 ou 8 no governo) e ela senadora. Acontece que dona Teresa está eleitíssima e Romero não será governador de jeito algum. O Senado terá então ao mesmo tempo, marido e mulher. Até 2010 quando ela tentará o governo. E ele?
De Anthony Mateus: "Não acredito que o povo brasileiro irá referendar pelo voto o governo mais corrupto que já existiu". Mateus não é candidato, portanto não falava por si mesmo. Supostamente se referia a Lula.
O presidente Lula não é só incontrolável, é também inexplicável. No mesmo dia elogiou Claudio Lembo e José Sarney. Ninguém entendeu, nem ele.
Depois que o governador em exercício de São Paulo repudiou a "elite branca" e virou herdeiro de Zumbi dos Palmares, Lula resolveu investir nele. Faz sentido? São Paulo é São Paulo, apesar da confusão geral.
Quanto ao elogio a Sarney, impenetrável. Lula não percebeu que Sarney quer ser o seu vice? E como é que um presidente teria a coragem de escolher um substituto que já assumiu o mandato inteiro? Para favorecer Sarney (que corre perigo no Amapá), Renan se tornou deliberadamente inelegível.
Dia 1º de junho, a Academia promove Seminário intitulado "Brasil, Brasis". Boa idéia, desperdiçada. Esse Seminário vale pelo coordenador, pelo expositor e apenas por um debatedor. Podiam ter tido mais cuidado.
Amanhã o Conselho de Justiça continua o julgamento do recurso do desembargador Lins e Silva, argüindo a inconstitucionalidade do Órgão Especial do Tribunal de Justiça. Segundo ele, tem que eleger metade do Órgão Especial. E pelo voto direto dos desembargadores. Terão que eleger 12.
O relator concedeu a liminar ao pedido de Lins e Silva, e naturalmente submeteu a decisão ao plenário. O relator, Vantuil Abdalla, está ganhando de 4 a 0. Faltam votar 9 conselheiros. Nenhuma surpresa se houver unanimidade.
Paulo Bernardo, ministro de Lula, queria ser candidato a governador ou senador. Sem nenhuma chance, ficou, lançou a mulher para o Senado.
Ela, que era diretora da Itaipu Bi-Nacional, deixou o cargo e é candidatíssima, garante que ganha. Me dizem: "Vai correr muito dinheiro nesta campanha". Requião e Alvaro Dias, reeleitíssimos. Sem risco.
Candidatura incompreensível e sem explicação: Artur Virgílio candidato a governador do Amazonas. Não iria para o segundo turno, apoiaria Amazonino. Está bem, tem mais 4 anos no Senado. Mas se submeter a uma derrota certa? Logo ele, "a voz da oposição?"
Outra coisa: no Amazonas tudo girava em torno do Amazonino para governador e Mestrinho para senador. Inesperadamente sugiram vários nomes. E até Mestrinho e Eduardo Braga, ligadíssimos, já não são tanto. E Alfredo Nascimento que apareceu tão forte?
Quando conseguiu o primeiro BILHÃO, PC Farias deu uma festa em Paris. E olha que era cruzeiro, muito menos do que hoje, 1 BILHÃO de reais. Adivinhou ao dizer: "Vou parar por aqui senão me matam". Parou e morreu.
Sergio Motta, o PC Farias de FHC (e já em real), o grande arrecadador da legenda e do amigo, foi muito mais sábio do que todos: morreu na cama.
Agora chegou a vez do PT-PT, só que não existe apenas alguém para juntar 1 BILHÃO, são muitos. Silvinho pensou (?) que era ele, resolveu dar entrevista descabida e inesperada. Furiosos, personagens da cúpula do PT-PT mandaram o recado urgente: "Não era você, agora pode ser".
Dirceu, Duda, Delúbio, Marcos Valério, Palocci, (quem mais?) se entregam agora à reflexão ou meditação. Tema que serve a todos mas sem resposta: "Se a vez não é do Silvinho, pode ser de um de nós". Pode.
Ontem houve mais uma eleição polêmica e controvertida na América do Sul. Agora na Colômbia, que regrediu, permitindo a reeeleição dos presidentes. O que nós fizemos em 1996, valendo para FHC que estava no Poder, na Colômbia fizeram para favorecer Alvaro Uribe, presidente.
A reeeleição é um erro e um equívoco, a não ser que se faça como nos EUA: uma reeeleição, e depois mais, nada, o presidente fica fora da vida política para sempre. Pode ser radical, mas a moral exige isso.
Escrevendo no domingo à tarde, ainda não sei se haverá segundo turno, a única dúvida. Pois que Uribe ganhará, é indiscutível.
Ele é uma espécie de Janio Quadros sóbrio, com a volúpia do Poder, fingindo o contrário. Tem uma formação intelectual irrepreensível. Ao contrário de Janio.
Politicamente, no entanto, é capaz de tudo. Tem muitas semelhanças com Janio (e até com Hugo Chávez), mas uma coerência. Foi eleito sempre por partidos pequenos, manteve o comportamento na eleição e agora na reeeleição. Janio Quase até presidente, só esteve em partidos pequenos, mudou.
Uribe é bom para a Colômbia e para a América do Sul? Num quadro "bolivariano", o atual (e futuro) presidente, pode ser definido de várias maneiras. Não é de esquerda, nem de centro, nem de direita. É o quê?
Cora Ronai, craquíssima em muitas coisas, lança livro, com o título, "Fala Foto". Além do mais ela é especialista em informática. O lançamento será amanhã, terça-feira, na Livraria Argumento. Têm que ir correndo, ela fará o mesmo, não no mesmo sentido. É que no dia seguinte viaja para a Alemanha, vai cobrir a Copa do Mundo para O Globo. Que ecletismo. Mas é um ecletismo anunciado pela genética.
Na Fórmula 1 monótona e longe da empolgação do passado, Alonso ganhou mais uma, vai ficar aí pelo menos uns 10 anos. Como Schumacher.
Se Dona Rosinha não for candidata à reeeleição, e como o marido não pode ser candidato a nada, terão 4 anos para se divertirem na Disneylândia. É o que fazem os garotinhos.
A América estará sendo "civilizada"? Uribe que deve ser reeeleito presidente da Colômbia, teve o pai seqüestrado e morto pelas Farc. Estava então com menos de 30 anos, já pensava na presidência. Foi eleito exatamente com 50 anos, combateu essa mesma Farc em nome da Liberdade, mas não perseguiu ninguém para vingar o pai. Isso é raro, digamos até inédito. Na primeira eleição, teve apenas 51% dos votos. Mas obteve a unanimidade no julgamento: NÃO ROUBA.

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