Por: Adelson Barbosa dos Santos (Correio da Paraiba)
O
Governo do Estado gastou R$ 939.476,77 para construir 2,8 quilômetros de estrada, em paralelepípedos (calçamento), entre as cidades de Duas Estradas e Serra da Raiz, na região do Brejo.
A estrada em questão é a rodovia PB-071, que já teve vários trechos destruídos pelas chuvas e tem tamanho menor que a metade da Avenida Epitácio Pessoa, na Capital.
Os deputados estaduais Tião Gomes (PSL) e Vital Filho (PMDB) fizeram as contas e chegaram à conclusão que se trata da "estrada mais cara do mundo". Ao dividirem o valor da estrada pelo tamanho, os deputados constataram que o custo da obra foi de R$ 335,52 mil por cada quilômetro.
Isso significa que cada metro linear custou R$ 335,52. Os deputados transformaram o tamanho da estrada em metros quadrados.
Multiplicaram os 2,8 mil metros de comprimento por oito metros aproximados de largura. Concluíram que a estrada tem 22.400 metros quadrados.
Levando-se em conta que o metro quadrado de calçamento na região de Guarabira é de R$ 21,33 para as prefeituras, o custo da estrada deveria ter sido de R$ 477.792,00.
Os parlamentares dizem não ter entendido os motivos que levaram o Governo a construir a estrada em paralelepípedos, quando o normal, em 99% dos casos, é construção em asfalto.
"E além do mais, a chuva está levando trechos da estrada", disse Tião Gomes, para quem não há dúvidas de que houve irregularidades que precisam ser muito bem explicadas.
Segundo Tião, a população de Serra da Raiz e Duas Estradas "não engole mais este engodo do governo Cunha Lima". Vital vai convocar o superintendente do DER, Inácio Bento, para explicar, na Assembléia, como é que o Governo paga quase R$ 1 milhão por menos de 3 quilômetros de estrada.
"Uma estrada com este valor deve ter sido construída em diamante", disse Vital Filho. "Só pode ser uma estrada com pedras preciosas, em vez de paralelepípedos", completou Tião.
Morais: preço compatível
O superintendente do DER, Inácio Bento de Morais, tem uma explicação. Segundo ele, a estrada custou quase R$ 1 milhão por conta dos serviços de drenagem, que, segundo ele, são muito caros, em uma região montanhosa.
Segundo ele, a obra está perfeitamente compatível com os preços de mercado e as características geotécnicas daquela região, que apresenta relevo montanhoso, afloramentos de rocha e elevado índice pluviométrico. Disse, ainda, que a opção pelo paralelepípedo foi por ser uma estrada quase urbana.
"Como é, então, que o DER passou asfalto dentro das cidades de Bananeiras, Solânea e Arara, por exemplo, cobrindo o calçamento?", indaga Tião Gomes. Segundo ele, a explicação de Inácio Bento não convence a ninguém.
Inácio Bento insiste que o custo elevado da estrada em questão ocorre por ser uma região de serra. "Além de ter muitas rochas, em toda estrada de serra há a necessidade de se fazer a drenagem superficial e profunda, que encarece a obra em 40% do orçamento", frisou.
Segundo Inácio Bento, há outra razão pela opção do calçamento: "Se trata de uma cidade que tende a se expandir ao longo da rodovia. Por isso, se fez a opção pela pavimentação em paralelepípedos".
Tião, que conhece bem a região, insiste: "Por que o Governo não está construindo em calçamento a estrada entre Pilões e Cuitegi, que também fica numa região montanhosa?".
Tião Gomes e Vital Filho dizem não entender, também, como é que o Governo gastou R$ R$ 939.476,77 em 2,8 quilômetros de estrada em calçamento e gastou R$ 1.045.000,00 nos cinco quilômetros de asfalto da estrada que dá acesso à cidade de Riachão do Poço. Inácio Bento diz que não se pode fazer comparativos entre preços de rodovias. Segundo ele, a estrada de Riachão do Poço foi mais barata porque o terreno é diferente e não tem serras.
No entanto, a estrada entre Pilões e Cuitegi tem serras e, no comparativo, o custo é menor do que o preço da estrada entre Serra da Raiz e Duas Estradas. Se foram gastos recursos da ordem de R$ 1 milhão numa estrada (serrana) de 2,8 quilômetros, é de supor que os gastos fossem bem superiores a R$ 5 milhões milhões numa estrada de 12 quilômetros na mesma região.
No entanto, a placa indicativa do Governo apresenta um orçamento de R$ 3,324 milhões para os 12 quilômetros entre Pilões e Cuitegi. Talvez o valor menor (proporcionalmente) se explique porque o DER não está usando calçamento, como em Serra da Raiz. Um detalhe: o relevo da região do Brejo é o mesmo, e coincidentemente, Pilões e Serra da Raiz ficam em regiões serranas.
Estrada
A presidente da Câmara Municipal de Pilões, Dalva Confessor, assegura que o Governo deixa de cobrir um santo para cobrir outro, quando ignora a estrada completamente esburacada entre a sua cidade e a cidade de Areia, para construir uma estrada nova entre Pilões e Cuitegi.
Segundo Dalva, o governador Cássio Cunha Lima prometeu ao prefeito Iremar Flor inaugurar a estrada no mês de abril. No entanto, segundo ela, a empresa contratada não construiu nem 3 quilômetros. Mesmo assim, as chuvas estão provocando erosão na estrada.
A reportagem do CORREIO percorreu toda a extensão da estrada entre Cuitegi e Pilões (PB-077) e entre Pilões e Areia (PB-087). Entre Cuitegi e Pilões, as chuvas desmancharam vários trechos da terraplenagem e estão provocando erosão que pode destruir a parte que já recebeu uma primeira camada de óleo, denominada imprimação.
Como a empresa ainda não fez a drenagem, a água que corre serra abaixo acaba destruindo o trabalho. Do total de 12 quilômetros, existem algo em torno 2 quilômetros com asfalto e outros 3 quilômetros em imprimação. Como o inverno tende a continuar na região, deve haver uma parada. Em alguns trechos, as poças de água impedem o trabalho de terraplenagem.
"Entre Pilões e Areia, a estrada é uma verdadeira tábua de pirulito", disse Tião Gomes. Em toda a extensão, os motoristas precisam trafegar com muito cuidados, principalmente à noite e nos dias de chuvas.
Qualquer velocidade a mais pode resultar em pneus estourados. Além do mais, a névoa se estende pela estrada, o que dificulta a visibilidade. "Existem verdadeiras crateras na estrada", frisou Tião Gomes, acrescentando que o Governo tenta enganar a população paraibana quando diz que construiu a recuperou estradas.
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