Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Agora que a poeira parece estar assentando, importa pesquisar se os execráveis acontecimentos verificados em São Paulo terão reflexo nas eleições de outubro, a começar pelas eleições presidenciais. Nem adianta especular sobre quem perdeu e quem ganhou, porque perderam todos, exceção do crime organizado.
Perdeu o governo estadual, demonstrando não dispor de autoridade bastante para evitar e, depois, para debelar a insurreição do crime organizado. O governador Claudio Lembo não se elegeria vereador numa cidade do interior paulista, depois do que se verificou. Terá seu partido, o PFL, sido atingido também? É provável.
Mas não apenas o PFL. O PSDB, afinal, governa São Paulo desde a primeira eleição de Mário Covas, cujas boas intenções e o máximo respeito aos direitos humanos beneficiaram os bandidos. Parece claro que sairá mais ou menos incólume o candidato José Serra, mas ele está devendo, ao menos até hoje, uma análise profunda e um elenco de propostas para impedir que a animalidade explícita se repita e vá para as ruas.
Violência de SP fará estrago nas urnas
Não se livrará da frustração popular o candidato tucano Geraldo Alckmin. Afinal, governou São Paulo até poucas semanas atrás. Quando começar a propaganda gratuita pela televisão, seus adversários não deixarão de apresentar imagens do horror do último fim de semana.
Poderá o PT tirar algum proveito eleitoral, primeiro em favor de Aloísio Mercadante? Pelo jeito, não. Afinal, o governo Lula também carrega vasta parcela de responsabilidade nos massacres e nas rebeliões. Primeiro, por não ter imposto a presença da Força Nacional de Segurança Pública e do próprio Exército em São Paulo, logo que a crise começou.
Tratava-se de uma questão de salvação nacional, de salvar algumas daquelas vidas infelizmente sacrificadas. Formas existiriam de pressionar o governador Lembo a aceitar tropa federal. Até o fato consumado. Depois, porque nos últimos três anos a equipe econômica contingenciou e reduziu os investimentos orçamentários federais em segurança pública e em ajuda aos estados.
Preferiu, o Palácio do Planalto, fazer superávit primário para pagar os juros das dívidas externa e pública, beneficiando os especuladores. Se o dinheiro que os chamados investidores internacionais pagavam de Imposto de Renda, e não pagam mais, isentos que foram, se aqueles recursos tivessem sido destinados ao aparelhamento das polícias estaduais, quem sabe pudessem ter sido minimizados os efeitos da violência?
Sendo assim, as candidaturas de Aloísio Mercadante, em São Paulo, e do presidente Lula, no País, estarão fatalmente respingadas pelo sangue derramado de policiais e de inocentes.
Caos também afetará as proporcionais
Agora, o maior efeito negativo desse caos jamais imaginado atingirá com mais força as eleições proporcionais, para deputado federal e deputado estadual. Não apenas porque fatalmente aumentará o número das abstenções, de votos nulos e de votos em branco. Perdem os atuais detentores de mandato, quaisquer que sejam seus partidos.
A renovação costuma, em tempos normais, beirar os 40%. Desta vez, passará dos 50%, dado o descrédito dos atuais representantes, gerado por escândalos do tipo mensalão, das ambulâncias superfaturadas...
Abre-se também a hipótese de o eleitorado, sem maiores esperanças, votar em candidatos pouco ortodoxos. Com a aplicação do voto eletrônico, ficou impedido o voto de protesto em bodes, rinocerontes e demais símbolos e caricaturas, mas quem se apresentar em nome deles terá boas chances de eleição. "Vote no Minhoca, o verdadeiro filho da terra" poderá tornar-se forte mote de campanha para algum candidato desequilibrado. Ou: "Para deputado, vote no Macarrão, aquele duro que promete ficar mole depois de entrar na panela".
A hora não é para brincadeiras, porque o desgaste da classe política irá contribuir para piorar ainda mais o nível do futuro Congresso e das novas Assembléias Legislativas, dentro da máxima de que "pior do que o atual, só o próximo". Valerá também para as eleições de senador, governador e presidente?
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