Por: Carlos Chagas (Tribuna da Imprensa)
BRASÍLIA - Se faltava, não falta mais. Fala-se de argumentos em favor da substituição da candidatura de Geraldo Alckmin à presidência. Esperava-se que ao menos o seu companheiro de chapa, indicado pelo PFL, pudesse contrabalançar o estilo do candidato. Nada contra a estratégia de Alckmin, de rejeitar apresentar-se como salvador da pátria, mas apenas como um funcionário público competente, dedicado a administrar o governo mais ou menos como um cidadão administra a própria casa. Talvez fosse essa a estratégia para recuperar o País, envolto até hoje pela frustração de falsos e demagogos super-homens.
O problema é que se tornava imprescindível contrabalançar a imagem amena de Alckmin com um vice agressivo, crítico, veemente, dos que não perdem oportunidade de denunciar adversários, empenhado em deixá-los na defensiva. O PFL, no entanto, preferiu indicar o senador José Jorge, espécie de alter-ego de Alckmin. A solução natural seria a escolha do também senador José Agripino, líder da bancada, de reconhecida atuação explosiva e contundente.
O resultado aí está: uma dupla insossa, inodora e incolor. Inatacável em termos de honestidade e de competência administrativa, mas incapaz de empolgar o eleitorado. De bater de frente com o governo que pretendem suceder. Alckmin e Jorge parecem sem condições de encher um palanque, quanto mais uma praça...
Apesar de todas as negativas, a tese da substituição parece estar pegando. No caso, a substituição dos dois. Agora, por quem, ninguém sabe...
Impunidade
Coube ao senador Pedro Simon o diagnóstico mais perfeito até agora apresentado sobre a crise verificada em São Paulo. Falando da tribuna do Senado, o representante do Rio Grande do Sul definiu o terror criado pelo crime organizado como um dos esquemas mais completos de organização e de ação política acontecidos no País. Algo que nada fica a dever às antigas estruturas da máfia italiana, felizmente agora reduzida a frangalhos. Tudo por conta da impunidade que grassa na sociedade brasileira.
Reprimir o crime com violência, investir em educação, reequipar o aparelho policial, essas podem constituir-se em soluções para combater a marginalidade, mas de nada adiantarão, segundo Simon, se continuarem impunes os verdadeiros responsáveis pela desmoralização do poder público e a desagregação da sociedade. Enquanto aqueles que roubam galinhas vão para a cadeia, e roubam por estado de necessidade, aqueles que roubam muito mais continuam passeando sua impunidade. Assim, nada se resolverá.
Indagou o senador como podem, um delegado ou um juiz do interior, ousar prender ladrões de colarinho branco, em suas regiões, se o STF aceita, mas engaveta pedido do procurador geral para processar o presidente do Banco Central, por formação de quadrilha e remessa de dinheiro para o exterior? Simon sugeriu um mutirão para buscar soluções. Deveriam reunir-se todas as semanas os presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado, da Câmara, do Tribunal de Contas da União, mais representantes do presidente, como o chefe da Casa Civil, o ministro da Justiça e outros.
Fazer como se fez na Itália, onde, para acabar com a máfia, desenvolveu-se a "operação mãos limpas", responsável pela prisão de quatro ex-primeiros-ministros, mais de cem deputados e presidentes de grandes empresas. Vindo o exemplo de cima, a ação chegará aos patamares inferiores e o crime organizado se desmantela. Caso contrário, pior.
Candidato?
Apelou o senador Simon em termos dramáticos aos dirigentes do PMDB para que revejam a decisão de não apresentar candidato à presidência. Em suas palavras, o PMDB acaba, se for para a eleição sem candidato. A maioria dos eleitos cairá fora. O partido irá para o fundo do poço. "Estamos nas últimas horas, querem até anular a próxima convenção e deixar definida a decisão fatal de não disputar o Planalto. Responderão pelo futuro os responsáveis por essa omissão" - disse.
O primeiro passo seria o partido estabelecer um programa de recuperação nacional, definindo-se logo depois o melhor candidato em condições de cumpri-lo. Existem, no PMDB, setores que concordam com Simon, alguns sugerindo que seja candidato. Indagado, concluiu: "E você acha que eles me aceitariam?..." É possível que a idéia possa progredir.
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