Por: Renato Andrade (Primeira Leitura)
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) já deixou claro que topa qualquer tipo de investigação – ou todo tipo de investigação – sobre seus colegas de Congresso que resolveram assaltar os cofres públicos usando o velho esquema das emendas parlamentares ao Orçamento da União. O deputado só não quer mais abrir os jornais e ler que no local onde trabalha tem gente que recebe dinheiro “em mala, em cuia, meia e cueca”. Infelizmente, o desejo de Jungmann não será concretizado.
O Palácio do Planalto será um dos algozes do parlamentar pernambucano. Mesmo depois de todo o esforço para coletar as assinaturas necessárias para pedir a abertura de uma investigação contra os pilotos de ambulâncias superfaturadas – que são mais da metade da Câmara dos Deputados –, o governo federal já se movimentava para garantir o enterro solene, nos arquivos congressuais, do pedido de abertura de uma CPI.
A operação do Palácio deu seu primeiro sinal de vida logo após a entrega do requerimento da CPI à Mesa Diretora do Senado. O pedido foi entregue ao primeiro vice-presidente do Senado, senador Tião Viana (PT-AC), aquele mesmo que operou para impedir que o caseiro Francenildo Santos Costa – o que teve seus direitos constitucionais ignorados e barbarizados por ilustres integrantes do governo – falasse na CPI dos Bingos.
Viana não esperou muito tempo para soltar sua análise rota sobre como seria complicado abrir uma nova CPI neste ano. Como o argumento é, no mínimo, questionável, o petista resolveu abrir jogo e mostrar por que o governo está interessado em mandar para o arquivo o pedido: a lista de supostos envolvidos no trambique, além de ser colossal – 283 nomes, até contagem recente –, engloba em boa medida a base de apoio de Lula no Congresso.
Ou seja, entre apurar a denúncia, livrar os inocentes e condenar os culpados, o Palácio do Planalto optou por livrar a cara de todos, sem nenhum tipo de investigação. Não é uma novidade a atitude proposta. Mas não deixa de ser imoral dado o histórico recente da turma.
Se o governo e o Congresso não querem investigar, Jungmann sugeriu outras instâncias: comissão externa, investigação pela sociedade civil, do Ministério Público, ou seja, qualquer coisa menos o enterro solene, por excesso de suspeitos e falta de honestos para investigar o caso.
Parece difícil. Enquanto isso, o dinheiro vai continuar chegando ao Congresso em mala, em meia, na cuia e na cueca.
[renatoandrade@primeiraleitura.com.br]
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