Por: Tribuna da Imprensa
PF descobre destino que deputado José Janene teria dado a parte do mensalão
LONDRINA (PR) - A Polícia Federal encontrou "indícios" de que o dinheiro do "valerioduto" - o esquema de dinheiro para parlamentares aliados ao governo montado pelo publicitário Marcos Valério e pela cúpula do PT - enviado ao deputado José Janene (PR), que então liderava o PP na Câmara, foi utilizado por ele na compra de uma propriedade rural, na aquisição de dois terrenos num condomínio de luxo e na construção da uma casa de mil metros quadrados. A casa, segundo a PF, é avaliada em cerca de R$ 2 milhões. A CPI dos Correios apurou que Janene recebeu R$ 4,1 milhões do "valerioduto".
Nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem pela PF - cinco em Londrina, onde Janene reside, três em São Paulo e um em Barueri (SP). A operação, chefiada pelo delegado Gerson Machado, apreendeu documentos e computadores no escritório do deputado e na residência de dois funcionários dele - Rosa Alice Valente e seu marido Meheidin Hussein Jenani, que é primo de Janene.
Os dois e a mulher de Janene, Stahel Fernanda, vinham sendo investigados há dois anos a pedido do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda que acompanha a movimentação de correntistas de bancos por suspeita de lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro.
Segundo o delegado da PF, as investigações seguiram a parte do dinheiro que a corretora Bônus-Banval, que intermediava o dinheiro do "valerioduto" para o PT, havia depositado nas contas de Rosa e de Stahel Fernanda e também depósitos na conta de Meheidin feitos por uma off-shore do Panamá, por ordem da Taha Administração e Construção, de São Paulo, e de uma corretora localizada em Barueri.
A Taha tem 99% das ações em posse da off-shore panamenha Quirkline e 1% em nome de uma advogada, que não teve sua identidade revelada. Segundo a PF, a Taha já teve como sócio o investidor Naji Nahas e, numa das contas da empresa, foi encontrado um "labirinto" de outras contas atribuídas a pessoas jurídicas.
A PF apreendeu documentos na Taha, no escritório de contabilidade que a assessora e no escritório da advogada. A busca na sede da corretora de Barueri não pôde ser efetuada porque a empresa mudou de endereço. A PF não informou o nome da empresa.
Documentos de uma construtora londrinense também foram apreendidos devido à suspeita de que a construção da casa de Janene tenha sido financiada com os recursos do "valerioduto". O delegado disse não poder informar o total do dinheiro movimentado nas contas dos três investigados. "Alguns milhões", limitou-se a dizer. Uma fonte da PF assegurou que o valor é muito superior aos R$ 4,1 milhões liberados pelo "valerioduto".
O advogado de Janene, Adolfo Góis, classificou de "arbitrária" e "injusta" a operação da PF, que, na avaliação dele, teria de se limitar a apreender documentos dos funcionários do deputado, e não dele. Góis recorreu ontem mesmo ao Supremo Tribunal Federal questionando a operação da PF.
De acordo com a defesa, a operação somente poderia ser realizada após determinação do STF, que é o tribunal pelo qual tramitam inquéritos e processos contra autoridades. A ordem partiu de um juiz federal de Curitiba. No entanto, o ministro do STF Cezar Peluso rejeitou o pedido dos advogados para que fosse suspensa a operação.
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