Ministros assinaram documento separadamente, evitando aperto de mãos
ISTAMBUL - Rússia e Ucrânia assinaram nesta sexta-feira (22) um acordo para reabrir as exportações de grãos dos portos ucranianos no Mar Negro.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, avaliaram que o acordo deve ajudar a amenizar uma crise alimentar global.
Ministros do governo da Rússia e da Ucrânia assinaram o acordo separadamente, evitando sentarem-se à mesma mesa e apertar as mãos durante a cerimônia em Istambul.
"Hoje, há um farol no Mar Negro. Um farol de esperança e possibilidade. E alívio em um mundo que precisa dele mais do que nunca", disse Guterres, na cerimônia de assinatura, apelando para que Rússia e Ucrânia implementem plenamente o acordo.
Para Erdogan, o acordo, também assinado pela Turquia, ajudará a prevenir a fome e aliviar a inflação alimentar global.
Reuters / Agência Brasil
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Ucrânia e Rússia assinam acordo sobre exportação de grãos
Plano mediado por ONU e Turquia busca criar corredor seguro para que os portos ucranianos retomem a exportação de cereais. Bloqueio russo contribuiu para o aumento de preços e a ameaça de crise global de alimentos.
Representantes dos governos ucraniano e russo assinaram nesta sexta-feira (22/07), em Istambul, um acordo que tem o objetivo de permitir as exportações de grãos ucranianos por meio do Mar Negro, bloqueadas desde fevereiro.
Trata-se do primeiro acordo importante assinado pelos dois países desde o início da guerra russa na Ucrânia, e cria expectativa de algum alívio na ameaça de uma crise global de segurança alimentar.
Os ministros da Defesa russo, Sergei Shoigu, e da Infraestrutura ucraniano, Oleksandr Kubrakov, assinaram "acordos-espelho" separados, mas idênticos, com o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
"Hoje, há um farol no Mar Negro", disse Guterres. "Um farol de esperança, um farol de possibilidade, um farol de alívio num mundo que precisa dele mais do que nunca."
Detalhes do acordo ainda desconhecidos
Detalhes completos do plano, no qual a Turquia e a ONU vêm trabalhando há meses, não foram divulgados. Espera-se que cerca de 22 milhões de toneladas de cereais ucranianos, atualmente armazenados em silos, sejam liberados para o mercado global.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou que "nos próximos dias, vamos inaugurar um novo corredor do Mar Negro para muitos países do mundo".
Guterres afirmou que as exportações de alimentos serão retomadas a partir de três portos do Mar Negro, em Odesa, Chernomorsk e Yuzhny.
Já Shoigu assegurou que a Rússia "não se aproveitará do fato de que os portos estarão liberados e abertos: assumimos este compromisso".
'Ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, assinou o acordo em Istambul'
Citando dois funcionários da ONU, a agência de notícias Reuters informou que em algumas semanas as exportações de grãos ucranianos devem alcançar os níveis anteriores à guerra, de 5 milhões de toneladas por mês.
Segundo relatos sobre o acordo, os navios com destino à Ucrânia seriam primeiro revistados para garantir que não haja armas nem outros equipamentos militares a bordo.
As buscas também ocorrerão quando navios que levam grãos a partir de portos ucranianos navegarem em direção ao Mar Mediterrâneo, através do estreito de Bósforo.
Um centro de coordenação seria estabelecido em Istambul e incluiria oficiais da ONU, da Turquia, da Rússia e da Ucrânia.
Otimismo da ONU e UE
Guterres disse que o compromisso "trará alívio a países em desenvolvimento à beira da falência e aos indivíduos mais vulneráveis, à beira da fome". "Ele ajudará a estabilizar os preços globais dos alimentos, que já estavam em níveis recordes mesmo antes da guerra, um verdadeiro pesadelo para países em desenvolvimento."
A União Europeia (UE) saudou o acordo numa declaração, chamando-o de "um passo importante nos esforços para superar a insegurança alimentar global causada pela agressão da Rússia contra a Ucrânia", acrescentando que seu sucesso "dependerá da implementação rápida e de boa fé".
"Esperamos que este passo conjunto que estamos dando com a Ucrânia e a Rússia reavivará o caminho para a paz", disse Erdogan, que também acompanhou a assinatura do acordo.
Cautela da Ucrânia e EUA
O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, explicou no Twitter que a Ucrânia não assinaria um acordo diretamente com a Rússia, mas que os dois países assinariam acordos-espelho com a Turquia e a ONU.
Podolyak também afirmou que os navios russos não poderiam escoltar os navios cargueiros de grãos, e que a Rússia não poderia ter qualquer presença nos portos ucranianos. "Todas as inspeções de navios cargueiros serão realizadas por grupos conjuntos em águas turcas no caso de necessidade", acrescentou.
Kiev também buscou garantias de que a Rússia não utilizará os corredores de navegação seguros criados pelo acordo para atacar o porto de Odessa, no Mar Negro.
Os Estados Unidos reagiram ao acordo com cautela: segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, Washington vai observar se Moscou cumprirá os termos do plano.
Como o bloqueio impacta a segurança alimentar
Desde o início do conflito, até 25 milhões de toneladas de trigo e outros grãos foram retidos por navios de guerra russos em portos ucranianos. Kiev colocou minas navais em suas águas para evitar um temido ataque anfíbio da Rússia, o que dificultou ainda mais as exportações por via marítima.
A Ucrânia também acusou a Rússia de roubar grãos de suas regiões do leste para vender e, deliberadamente, bombardear campos agrícolas ucranianos para incendiá-los.
Embora parte dos cereais ucranianos esteja sendo transportada através da Europa por ferrovias, estradas e rio, o volume é pequeno em comparação com o que pode ser transportado por rotas marítimas.
O bloqueio reduziu o fornecimento de grãos para os mercados ao redor do mundo e elevou os preços, provocando temores de fome em países onde a insegurança alimentar já é alta. Várias partes do Oriente Médio e da África enfrentam no momento uma séria escassez de alimentos.
A Rússia negou responsabilidade pelo agravamento da segurança alimentar, e culpou as sanções de países do Ocidente por atrasos em suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes.
Deutsche Welle