Relatório verificou registros de jatos Yak-130 disparando foguetes e tiros de canhão contra áreas de população civil. Desde o golpe de Estado em 2021, Mianmar recebeu seis dessas aeronaves da Rússia, segundo o documento.
Por Louis Oelofse
A junta militar que governa Mianmar usou caças de fabricação russa para atacar alvos civis, afirmou na sexta-feira (29/07) a organização de direitos humanos Myanmar Witness.
Em um novo relatório, elaborado a partir de fontes disponíveis ao público, a organização baseada em Londres concluiu haver provas de "militares de Mianmar usando jatos Yak-130 para disparar foguetes não guiados e tiros de canhão 23 mm para dentro de áreas de população civil e em torno delas".
Os militares tomaram o poder com um golpe de Estado em fevereiro de 2021, que mergulhou Mianmar em tumulto e vem provocando protestos generalizados e resistência armada.
"O emprego indiscriminado de aeronaves de ataque sofisticadas, particularmente quando empregadas em coordenação com outras aeronaves militares, contrasta fortemente com os meios e métodos empregados pelos grupos considerados insurgentes pelos militares de Mianmar", afirma o relatório.
A Myanmar Witness analisou fotos e filmes enviados a partir do país desde o golpe, e confirmou vários incidentes nos quais os aviões de ataque de fabricação russa foram utilizados.
Disparos indiscriminados
Vídeos publicados online no início deste mês mostram caças Yak-130 lançando vários foguetes não guiados em direção ao solo durante um ataque em uma área ao sul de Myawaddy, ocorrido em junho.
A Myanmar Witness conseguiu fazer a geolocalização de dois vídeos filmados a apenas algumas centenas de metros da fronteira de Mianmar com a Tailândia.
Em outro incidente também verificado pelo grupo, a junta militar usou vários tipos de aeronaves, incluindo o Yak-130, para atacar uma área próxima a Thay Baw Boe.
O relatório também contém fotografias do Yak-130 voando em várias outras missões de combate.
A Myanmar Witness avalia ser provável que as Forças Armadas do país tenham 20 caças Yak-130 em seu inventário.
Apelo a embargo de armas contra Mianmar
Desde o golpe militar, a Rússia já entregou pelo menos seis desses caças a Mianmar. Isso apesar de uma resolução da Assembleia Geral da ONU, aprovada em junho de 2021, ter conclamado os países a impedirem o fluxo de armas para o país.
"Enquanto a violência segue e as relações entre Mianmar e a Rússia continuam a se fortalecer, (...) o uso do Yak-130 de fabricação russa em áreas civis de Mianmar deve continuar a ser investigado", afirmou a Myanmar Witness em seu relatório.
A organização também encontrou provas de que pelo menos um lote de foguetes que pode ser usado no Yak-130 foi transportado da Sérvia para Mianmar em fevereiro de 2022. E disse que munições de 23 mm, também usadas pelo Yak-130, podem ter sido fabricadas na Sérvia em 1989, mas disse que precisava investigar melhor esse ponto.
Em março, o relator especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos em Mianmar, Tom Andrews, afirmou que a junta militar que governa o país matou pelo menos 1.600 civis e forçou o deslocamento de mais de 500 mil pessoas desde o golpe.
Andrews pediu que o Conselho de Segurança imponha um embargo global de armas aos militares do país, que "especificamente proíba a venda dessas armas e munições que estão matando civis de Mianmar, incluindo os aviões a jato".
O líder militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, esteve na Rússia em visita particular há duas semanas. Após a visita, o Ministério da Defesa da Rússia disse que os dois países estavam aprofundando a cooperação. "A reunião (...) confirmou a disposição mútua de construir consistentemente uma cooperação multifacetada entre os departamentos militares dos dois países", afirmou a pasta.
Deutsche Welle