Publicado em 30 de julho de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A pesquisa do Datafolha concluída na quarta-feira à noite, divulgada na quinta pela GloboNews e pela TV Globo, e comentada nas edições de ontem, sexta-feira, pela Folha de S. Paulo e pelo O Globo, revela que se as urnas fossem hoje, os votos em Lula da Silva assegurariam a sua vitória no primeiro turno. Ele registrou 47 pontos contra 29 de Jair Bolsonaro. Mas o Datafolha acentua que 9% votariam em branco ou anulariam o voto. Sem contar os 2% ou 3% de indecisos, 91 passariam a ser igual a 100 para efeito de maioria absoluta.
Assim, Lula com 47% alcança um percentual que lhe garantiria a vitória nas urnas de 2 de outubro, tornando desnecessária a volta do voto no segundo turno marcado para o dia 30. Isso para presidente da República. Mas, para governador do Rio de Janeiro e São Paulo, provavelmente as eleições serão decididas no final de outubro. Principalmente no Rio, com o provável desfecho entre Cláudio Castro e Marcelo Freixo. Em São Paulo, tenho alguma dúvida se Haddad vencerá no primeiro ou no segundo turno da disputa. Mas essa é outra questão.
EFEITOS – A pesquisa do Datafolha divulgada na noite de quinta-feira foi objeto de comentários principalmente na GloboNews, tanto no jornal das 18h, quanto no programa Em Pauta que tem início às 20h. Os comentários giraram sobre os possíveis efeitos a favor de Bolsonaro resultantes da redução do preço da gasolina nos postos, da distribuição dos recursos do Auxilio Brasil, da entrega dos vales dos caminhoneiros que transportam o óleo diesel e do vale-taxistas.
É possível que haja efeito sobre Bolsonaro, mas é preciso aguardar o próximo levantamento do Datafolha para conferir. Por outro lado, para Lula, será preciso ver qual a consequência da opinião pública pelo lançamento do manifesto a favor da democracia no dia 11 de agosto. Esse manifesto atinge já 400 mil assinaturas e tal número tem que causar algum reflexo na campanha eleitoral. Não só pelo apoio e defesa do regime democratico, mas porque o próprio Bolsonaro ironizou o manifesto dizendo que é uma “cartinha”.
Portanto, firmou absurdamente uma posição restritiva a uma iniciativa tão ampla quanto a do manifesto a ser lido na concentração de 11 de agosto. De outro lado, a Federação Brasileira de Bancos assinou o documento, mas os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal não colocaram as suas assinaturas no papel. Logo, o BB e a CEF, tacitamente, refletiram a posição do Palácio do Planalto contrária à concentração programada.
MANIFESTAÇÃO – É claro que a manifestação de 11 de agosto volta-se contra o governo, sobretudo porque as restrições às urnas eletrônicas, ao sistema do TSE e a ameaça à democracia são pontos que Bolsonaro deixou claro no decorrer do tempo e sobre os quais ainda não recuou. Sobre a pesquisa, na Folha de S. Paulo, foi publicado um excelente comentário de Igor Gielow. No O Globo, uma ótima matéria de Marlen Couto e Lucas Mathias.
Um destaque que chama a atenção foi a subida de Bolsonaro entre as mulheres, saltando de 21% para 27% das intenções de voto, e o avanço de Lula entre os homens, passando de 44% para 48%. Interessante é que o avanço de Bolsonaro entre as mulheres é acompanhado por uma queda de Lula de 49% para 46%. E, entre os homens, o avanço de Lula coincide com a queda de Bolsonaro de 36% para 32%.
COLIGAÇÕES – Reportagem de Julia Affonso e Daniel Weterman, O Estado de S. Paulo desta sexta-feira, destaca que no Nordeste, região em que Lula está mais forte e Bolsonaro mais fraco, o senador Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, e o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara Federal, nos apoios que estão costurando, respectivamente no Piauí e em Alagoas, procuram ocultar a imagem de Bolsonaro junto a eles próprios e aos candidatos que apoiam.
No caso de Alagoas, Bolsonaro está apoiando o ex-presidente Fernando Collor. E, no Piauí, Ciro Nogueira apoia o ex-prefeito de Teresina, Silvio Mendes. É natural essa movimentação de candidatos estaduais sobre as candidaturas presidenciais. É difícil um candidato estadual alinhar-se com um candidato à Presidência que esteja muito mais fraco do que outro. Principalmente na região nordestina.
MARKETING – Na edição de 24 de julho, domingo, a Folha de S. Paulo, Fernanda Brigatti e Paula Soprano publicaram uma reportagem focalizando uma nova criação de marketing chamada Marketing 4.0 para aplicar à política uma técnica de sedução para o consumo de produtos que busca influenciar o mercado sem deixar “digitais”.
A matéria assinala que grandes empresas têm aderido ao Marketing 4.0, firmando contratos com agências com cláusulas de confidencialidade. Trata-se de focalizar um determinado produto sem dar a impressão de que está comercializando a mensagem. Na minha opinião, não funciona na política.