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sábado, julho 23, 2022

A virada é improvável




Será muito difícil Bolsonaro repetir a façanha de FHC

Por César Felício (foto)

O governo acelera as providências para começar em 9 de agosto os pagamentos vitaminados do Auxílio Brasil, carro-chefe de outras medidas assistencialistas como o vale-gás dobrado e os vouchers para taxistas e caminhoneiros. Será portanto na segunda quinzena de agosto, mais ao redor do fim do mês, que será possível aferir a potência política do pacote bilionário em pleno período eleitoral.

A memória do que aconteceu há exatos 28 anos, no Plano Real, está bem viva. A nova moeda foi lançada oficialmente no dia 1º de julho, quando o petista Luiz Inácio Lula da Silva vinha de um Datafolha com 41%, ante 19% de Fernando Henrique Cardoso, aferidos em 13 de junho. No dia 26 de julho o tucano já estava com 36% e o petista com 29%. Em 8 de agosto daquele ano FHC alcançou 41% e Lula 24% e o cenário cristalizou, permanecendo relativamente inalterado até o pleito. Foi uma virada total, da derrota no primeiro turno para a vitória no primeiro turno, em menos de um mês.

E lógico que o impacto econômico na vida do eleitor comum que o Plano Real proporcionou não é comparável com o que o pacote de Bolsonaro terá. E o impacto político? No caso de 1994, houve transferência de voto direta de Lula para FHC. Cada voto que Lula perdia era um a mais no embornal do tucano. Cair cinco pontos portanto para o petista significava uma redução de dez pontos na distância para FHC, e ele caiu muito mais. Em 2022 uma parte do eleitor lulista passará ou voltará a ser bolsonarista? Para que fique claro: pela última pesquisa Datafolha disponível, uma virada se dará se dez pontos percentuais de Lula forem transferidos para Bolsonaro.

“O efeito será comparável, mas de forma alguma será o mesmo”, opina o cientista político Antonio Lavareda, que em julho de 1994 era o responsável por toda a área de pesquisa da campanha de Fernando Henrique.

Foi Lavareda que, eletrizado, entrou no dia 1º de julho daquele ano na sala de Sérgio Motta, o coordenador da campanha de FHC, e garantiu: “A eleição está resolvida.” Ele tinha nas mãos pesquisas que mostravam Lula muito à frente, mas indicava a virada caso o eleitorado entendesse que o Plano Real controlaria a inflação, como controlou.

Há algumas diferenças importantes que atenuam o impacto do benefício bolsonarista. O primeiro é de perspectiva. “Eleição não é gratidão. Eleição é investimento”, sentencia Lavareda.

Ele explica a frase: uma eleição no Brasil é diferente de uma gigantesca operação de compra de votos. A decisão de voto é um pouco mais complexa. O eleitor ao votar analisa o retrospecto mais recente do candidato e a perspectiva de benefícios no futuro. Portanto não basta o benefício, mas sim o benefício calcado em uma narrativa, que indique o que acontecerá nos anos seguintes.

“O eleitor recebe o benefício agora. Ele vai escutar de Bolsonaro que isto será mantido. Vai escutar a mesma coisa de Lula. Então ele analisará o conjunto da trajetória de Bolsonaro e da de Lula para avaliar se a proposta de manutenção do benefício é crível ou não”. No caso de FHC, ele relembra, a implantação do Plano Real foi gradativa, começou meses antes, com a criação da Unidade Real de Valor (URV) e uma verdadeira pedagogia para educar o eleitor a uma troca de padrão monetário que representaria a vitória contra a inflação. Já Lula não tinha o que mostrar em relação ao tema.

A memória do Plano Real foi tão forte que FHC se reelegeu em 1998 com votação quase idêntica em um ano de baixo crescimento e alto desemprego. A memória dos anos anteriores, muito melhores economicamente, gerou a perspectiva de que era mais seguro continuar com Fernando Henrique do que experimentar algo novo.

A visão do conjunto da obra, que desfavorece Bolsonaro, é agravada pelo fato de a mudança acontecer em agosto, a menos de dois meses da eleição. A rejeição a Bolsonaro em parte já cristalizou, não irá reverter totalmente. A rejeição baixa a FHC viabilizou a captura de votos de Lula em 1994.

O impacto também tende a ser menor, porque o pacote de Bolsonaro é setorial, já o Plano Real era transversal, não há um só brasileiro fora da primeira infância que não tenha tido alguma percepção de sua importância.

Além de ser setorial, a grande arena do auxílio de Bolsonaro é o Nordeste. A dianteira de Lula na região tem raízes mais profundas do que as circunstâncias imediatas. Já em 1994, conforme o Datafolha, o Nordeste foi a última região a abandonar o petista. Em 8 de agosto daquele ano, quando o tucano já tinha uma dianteira de 17 pontos percentuais em relação ao petista no plano nacional, no Nordeste Lula ainda estava numericamente à frente, por 34% a 33%.

Este retardo em parte se explica a particularidades da época. Há 28 anos a bancarização no Nordeste era bem menor do que no resto do Brasil e a troca de moeda demorou mais. Também tem a ver com afinidades eletivas. A ancoragem de Lula no Nordeste e a cristalização de parte da rejeição de Bolsonaro, conjugadas, tornam bem improvável uma transferência de votos do primeiro para o segundo grande para virar a eleição. Mas pode ser o suficiente para impedir a eleição do petista no primeiro turno.

Manobras preventivas

Um personagem com trânsito fácil no Judiciário, nas Forças Armadas e no Congresso afirmou que a ministra Rosa Weber já foi aconselhada por colegas do Supremo a romper com o isolamento do mundo político que sempre cultivou desde que chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), corte que presidirá a partir de setembro.

A tímida ministra terá que conjugar a assertividade que demonstrou em suas últimas decisões com dons que até o momento não exercitou, como liderança e articulação, com capacidade de dialogar não só com a cúpula do Congresso como com a dos militares. Ouviu atenta.

Esse não foi o único movimento preventivo nos últimos dias para tentar esvaziar manobras golpistas. Integrantes do Exército americano teriam mantido conversas com oficiais brasileiros. Falaram sobre o comportamento de Marc Milley, chefe do Estado Maior conjunto dos Estados Unidos, que em 2021 não embarcou na intentona contra o Capitólio.

Valor Econômico

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