Jolivaldo Freitas
Este país é uma piada pronta. Por isso é que as piores notícias podem ser levadas no maior savoir faire, sem que constitua um trauma irreversível. Pode acontecer do Elevador Lacerda cair e vai aparecer um engraçadinho para dizer que elevador foi feito mesmo para subir e descer. Se o Mercado Modelo pegar fogo alguém vai insinuar que foi coisa do demônio tanto Exu tinha lá dentro. Se o Mercado do Peixe incendiar aí é que vai ser alegria com o pessoal comendo peixe frito.
Veja que até na miséria alheia tem piadista de plantão, como um antigo jornalista que ficou pasmo quando as águas da chuva tomaram um bairro inteiro e destruíram os bens dos moradores. Uma senhora foi para a televisão dizer que era pobre, não tinha como se recuperar, pois perdera tudo e ele do alto da sua idade avançada, parou, ouviu, pensou e comentou alto dentro do bar onde jogava sinuca:
- Vocês já viram? Pobre não tem nada, mas basta chover que perde tudo. Se nada tem, o que perdeu?
O chato é que todo mundo teve de segurar um garçom, pois foi justamente a mãe do rapaz que estava no programa de jornalismo falando do seu sofrimento. Depois do problema abafado ele insistiu:
- Pior não é nada. É eu estar aqui, no bar, junto com o pobre do garçom, com tantos bares na cidade.
Ele era afeito a dar um fora atrás de outro, mas nada como o presidente Lula. O técnico da Seleção Brasileira Dunga escalou uma equipe que somente na cabeça de anão dele é que pode funcionar. Pior é que vamos ter de torcer de qualquer jeito. Tem jogador que nunca ouvi falar, não sei onde joga, qual a posição ou a cor. Vou ter de comprar um álbum de figurinha para poder ser apresentado à seleção. Só Stevie Wonder para torcer no escuro.
Lula pode ter errado o nome, mas não errou na dose. Realmente Dunga tem de ser confundido com o pessoal da China: está trazendo jogador genérico; uma droga.
Lá na Pedra Furada, bairro aprazível de Itapagipe, que fica entre o Mont Serrat e Bonfim, área onde ficam restaurantes que são ilhas do melhor da gastronomia marinha da cidade, a Copa de 1966 foi para esquecer..., tirar da memória. Mas todo mundo lembra quando o locutor da Rádio Cruzeiro da Bahia relatou pelo aparelho Empire State de não sei quantas válvulas:
- Lá vai Pelé. Pega na bola. O zagueeeeirrrooo Vicentederruba Pelé. Pelé se contorce em dores. Pelé sai de campo carregado. Dificilmente Pelé voltará ao jogo (e não voltou mesmo).
O comerciante português, Pedro Celestino, dono de afamado secos & molhados vibrou:
- É isso aí pá!
Vá saber.
Fonte: Tribuna da Bahia