Dora Kramer
No Palácio do Planalto e alhures. Fala-se em “enquadrar” o PMDB, tido como um aliado voraz. E a intervenção? “Lula falou em sentido figurado”, diz um negociador da cúpula petista
À medida que vai se aproximando a hora da onça beber água, as coisas vão ficando mais claras nas negociações de uma aliança entre PT e PMDB para a disputa do governo de Minas Gerais.
Onde em tese há meses se trabalha por um acerto, impera o mais perfeito desacerto. E por que perfeito? Porque obedece a um roteiro muito bem delineado.
A ideia do PT sempre foi fazer uma aliança, mas de verdade nunca pretendeu entregar ao PMDB a candidatura ao governo e ficar com o papel subalterno das vagas de vice e uma cadeira ao Senado.
Por isso realizou prévias no estado. Por isso Fernando Pimentel assim que venceu a disputa interna disse o seguinte: “A próxima etapa é convencer o PMDB de que o melhor é o PT para governador”.
A despeito da clareza, continuou valendo para todos os efeitos a regra de que a primazia seria do PMDB.
Naqueles dias conturbados o presidente Lula chegou a ameaçar com intervenção no diretório regional.
Hoje a conversa é outra. No Palácio do Planalto e alhures. Fala-se em “enquadrar” o PMDB, tido como um aliado voraz.
E a intervenção? “Lula falou em sentido figurado”, diz um negociador da cúpula petista.
Passou-se a adotar (alegando ter sido sempre essa a norma acertada) o critério segundo o qual a decisão será tomada com base nas pesquisas de opinião: quem estiver melhor fica com a vaga ao governo.
O anúncio do apoio do PT ao candidato do PMDB, Hélio Costa, está previsto para 6 de junho. Já esteve marcado para 9 de maio. Mas pode ser adiado para o início de julho, o prazo finalíssimo do registro de candidaturas.
Até lá o PT espera que Hélio Costa desista de disputar o governo para concorrer ao Senado.
“A entrada de Aécio Neves de rijo na campanha de Antonio Anastasia tornaria a candidatura dele vulnerável, já que não é um personagem político ligado ao cotidiano do estado”, diz nosso intérprete as razões petistas.
Hélio Costa está com 45% e Fernando Pimentel com 35%. O argumento acima se baseia na suposição de que os índices de Costa são inconsistentes porque ele faz vida política em Brasília como senador e ministro enquanto Pimentel foi prefeito de Belo Horizonte até 2008, e saiu com 80% de aprovação.
Muito bem, e alguém já disse isso ao PMDB? Ainda não. Inclusive porque se o parceiro “entestar”, leva.
Por “entestar” leia-se ameaçar romper a aliança nacional Chance de acontecer depois de Michel Temer anunciado como vice de Dilma Rousseff?
“ Zero”. Pois então é briga para mais de metro.
O leitor que não é mineiro poderá se perguntar: quem a importância de tudo isso?
Minas é o segundo colégio eleitoral, com 14 milhões de eleitores e reza o consenso que quem ganhar em Minas ganha a eleição presidencial.
Além disso, para o PT Minas representa uma espécie de última trincheira. Não é competitivo em São Paulo, não tem candidato no Rio e entregou vários estados ao PMDB em nome da aliança nacional.
Acha que já arriscou demais; não pode arriscar tudo e ficar sem nada se perder a Presidência.
Veneráveis na ativa
Começa amanhã em Johannesburgo (África do Sul) a reunião do The Elders (os Anciãos), grupo de personalidades mundiais que se encontram duas vezes por ano para trocar impressões sobre conflitos internacionais. Experientes, prestam uma espécie de consultoria permanente à ONU.
Integram o The Elders quatro ex-presidentes: Nelson Mandela (África do Sul), Jimmy Carter (EUA), Fernando Henrique Cardoso e Marti Ahtisaari (Finlândia).
Duas ex-primeiras-ministras, Mary Robison (Irlanda) e Gros Brutland (Noruega), o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, entre outros.
Não obstante a composição política, o grupo foi idealizado por uma dupla de outra esfera: o ex-líder da banda Gênesis, Peter Gabriel, e Richard Branson, dono do Grupo Virgin
O encontro de amanhã até a próxima terça-feira debate os confrontos entre países da África. Marcado no país sede e às vésperas da Copa do Mundo, vai atrair publicidade e atenção internacional para a discussão sobre nações africanas em conflito.
Fonte: Gazeta do Povo