Metade dos médicos receita remédio por indicação
Folha de S.Paulo
Quase metade (48%) dos médicos paulistas que recebe visitas de propagandistas de laboratórios prescreve medicamentos sugeridos pelos fabricantes. Na área de equipamentos médico-hospitalares, a eficácia da visita é ainda maior: 71% dos profissionais da saúde acatam a recomendação da indústria.
Os dados vêm de uma pesquisa do Cremesp (conselho regional de medicina), que avaliou o comportamento médico perante as indústrias de remédios, órteses, próteses e equipamentos médico-hospitalares. Feito pelo Datafolha, o levantamento envolveu 600 médicos no Estado.
Do total, 80% deles recebem visitas dos propagandistas de medicamentos _em média, oito por mês. A pesquisa revela que 93% dos médicos afirmam ter recebido, nos últimos 12 meses, produtos, benefícios ou pagamento da indústria em valores de até R$ 500. Outros 37% dizem que ganharam presentes de maior valor.
Para o Cremesp, um terço dos médicos mantém uma "relação contaminada com a indústria, que ultrapassa os limites éticos". O conselho admite que o assunto era um tabu. "Para boa parte deles, a única forma de atualização é a propaganda. E com ela vem os presentes. Isso tomou uma dimensão maior, mais promíscua, quando as receitas passaram a ser monitoradas", diz Luiz Alberto Bacheschi, presidente do Cremesp.
Em 2005, a reportagem revelou que, em troca de brindes ou dinheiro, farmácias auxiliavam a indústria de remédios a vigiar as receitas prescritas. Com acesso as cópias do receituário, representantes dos laboratórios pressionavam os profissionais a indicar seus produtos e os recompensavam. A prática é vista como antiética.
Fonte: Agora