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quarta-feira, maio 19, 2010

Justiça aponta indícios de abuso policial na prisão do padre Silvio Andrei

Imagens do circuito interno de câmeras da delegacia mostram "imagens fortes e de constrangimento". Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso

Fábio Luporini

O padre Silvio Andrei, que foi preso no domingo (16), nu e com sinais de embriaguez dentro do próprio carro, pode ter sofrido abuso por parte dos policiais que atenderam o caso. É o que a Polícia Civil de Ibiporã vai investigar em um inquérito aberto na tarde desta terça-feira (18) para apurar denúncias de que os policiais teriam se excedido e até agredido o sacerdote. A defesa do religioso também argumenta que Andrei foi humilhado, ao ser algemado pelo tornozelo e ter divulgadas imagens nas quais o padre aparece trajando somente uma camisa.

Após ser encontrado nu e com sinais de embriaguez, o padre foi detido em flagrante pelos crimes de ato obsceno, corrupção ativa e embriaguez ao volante. Depois de permanecer um dia preso, Andrei deixou a cadeia e foi para um local não informado. O advogado Walter Bittar, que defende o religioso desde a última segunda-feira (16), disse que pediu apuração de alguns fatos relacionados ao abuso da força policial> inexistência de resistência, motivo das algemas na canela, produção de fotos vexatórias e prática de tortura. “As imagens são muito fortes e mostram o padre sendo constrangido”, disse.

PM diz que agiu corretamente

Para o comandante do Pelotão da PM de Ibiporã, tenente Marcelo Barros do Nascimento, as acusações do advogado não passam de “artimanhas” de defesa, uma vez que não houve nenhuma representação contra os policiais. Segundo ele, não é proibido que os policiais usem celulares particulares para fazer fotos.

“O que é vedado é a divulgação destas imagens. As fotos mostram o policial militar tirando a foto, então não foi ele quem divulgou. Se houver qualquer denúncia sobre a conduta dos policiais vamos investigar”, afirmou.

Para o tenente, a defesa está querendo “tirar o foco” da prisão ao declarar que a ação foi tendenciosa. Ele disse que os policiais agiram dentro da lei ao não aceitarem a propina oferecida pelo sacerdote. “Em vez dos policiais serem parabenizados por não receberem a propina, eles estão sendo acusados de excesso. Acredito que estão tentando inverter o foco da história.”

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O advogado afirmou não poder revelar o teor das imagens porque o inquérito corre em segredo de Justiça. “Conseguimos algumas imagens que comprovam que o padre foi colocado em uma situação absurda.” Algumas fotos divulgadas do padre em alguns veículos de comunicação apontam o sacerdote com um hematoma na altura da testa. “As imagens [da delegacia] mostram como isso aconteceu e em que momento foi”, declarou Bittar.

O delegado de Ibiporã, Marcos Belinati, confirmou que imagens do circuito interno de câmeras da delegacia apontam indícios de abusos por parte dos policiais. “O juiz [Sérgio Aziz Neme] requisitou as gravações do circuito interno e fui levar pessoalmente. Assistimos juntos no computador e ele entendeu que há indícios de que possivelmente tenha havido (abusos) por parte dos policiais”, declarou o delegado. Ele não quis revelar, entretanto, se foram policiais civis ou militares. O inquérito para apurar os excessos da polícia foi instaurado a pedido da Justiça.

“Vamos ouvir todos os policiais envolvidos na prisão e, se comprovar algum abuso, sem dúvida o servidor será responsabilizado, não somente na esfera criminal, mas também administrativa”, disse Belinati. As imagens são da própria delegacia e o teor não foi divulgado porque, segundo o delegado, o inquérito está sob segredo de Justiça.

A prisão

Segundo a polícia, o padre teria assediado um rapaz antes da abordagem policial. O delegado Marcos Belinati afirmou que a pessoa que teria sido abordada pelo sacerdote na noite da prisão ainda está sendo procurada pela polícia. “Estamos tentando identificar para ver quem seria.”

Nota da congregação

Em nota divulgada no site da Arquidiocese de São Paulo, a Província São Paulo Apóstolo da Sociedade do Apostolado Católico (Palotinos), disse que aguarda a apuração dos fatos “dentro dos ditames legais da legislação brasileira e as responsabilidades legais devidamente delimitadas, pelo Ministério Público e Poder Judiciário do Estado do Paraná, que são os órgãos competentes para deliberar sobre os fatos”.

De modo paralelo à investigação civil, a congregação afirmou que tomará providências internas. “As providências internas serão tomadas, como de costume, paralelamente ao cabal esclarecimento dos fatos, em especial com o encerramento da investigação pelas autoridades competentes, com as cautelas de estilo, a fim de evitar julgamentos e ilações precipitadas”, diz a nota.

Fonte: Gazeta do Povo

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