Por: Luciana Nunes Leal (Estado de São Paulo)
O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), alegou ontem que sua assinatura foi falsificada em um documento enviado por assessores ao Ministério da Saúde, em dezembro passado. O senador deu a sua versão em discurso de uma hora no plenário da Casa.
Suassuna reconheceu a intenção de pedir empenho de R$ 3,6 milhões para compra de equipamentos hospitalares para 20 municípios paraibanos. Disse, porém, que no ofício encaminhado em seu nome, por assessores, foram incluídas indevidamente como intermediárias dos repasses duas instituições, que ele diz desconhecer.
Segundo sua versão, num primeiro momento ele achou que poderia ter assinado o ofício sem ler. Depois, constatou a fraude na assinatura, que atribuiu a assessores. Suassuna, entretanto, disse não ter como provar se os responsáveis pela falsificação foram seus ex-assessores Marcelo Carvalho e Roberto Arruda, presos na Operação Sanguessuga por envolvimento no esquema de compras de ambulâncias.
O senador mostrou laudo que encomendou ao perito José Cândido Neto, atestando a falsificação. Lamentou o "infausto destino" que o fez contratar os dois e disse que, por não ser "centralizador", tem "dificuldade de controle das ações de subordinados".
Citado pela ex-servidora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, que está presa, Suassuna negou ter participado do esquema que garantia compra de ambulâncias graças à aprovação de emendas ao orçamento. O líder do PMDB disse que recebeu 96 pedidos de prefeitos para aquisição de carros. "Não vou deixar de pedir pela Paraíba de jeito nenhum."
Suassuna não será investigado pelo Senado até que esteja concluída a apuração da Polícia Federal e do Ministério Público. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), determinou que o corregedor, Romeu Tuma (PFL-SP), ao final das apurações, faça relatório dizendo se ele deve ou não ser submetido ao Conselho de Ética.
"GENTILEZA"
O líder do PMDB disse que as ambulâncias que ostentam seu nome foram "gentileza dos prefeitos que as receberam" e informou que mandou cartas para todos pedindo que retirassem a inscrição. Segundo ele, em seu primeiro mandato comprou "do próprio bolso" 82 ambulâncias, as quais doou.
O peemedebista afirmou que conseguiu aprovação e liberação de recursos da emenda que permitiu a compra de 29 ambulâncias. Treze delas foram vendidas pela empresa Planam, que, segundo a Polícia Federal, superfaturava o preço dos carros, em conluio com prefeitos e parlamentares autores das emendas. Suassuna garantiu que as compras para suas emendas foram feitas pelo "preço adequado", de R$ 80 mil pelo veículo mais R$ 12 mil para adaptações, como instalação de maca e oxigênio. "Os prefeitos compraram pelo preço justo", defendeu-se. Sobre a fraude, afirmou: "O parlamentar pede ao ministério que libere recursos. Não acompanha o resto. O que o senador tem a ver com isso (o superfaturamento)?"
O documento 375/2005, com a alegada falsa assinatura, remetido ao então ministro Saraiva Felipe em 20 de dezembro passado, aponta as instituições IPPES e Fundação Hip Pereira como repassadoras dos recursos. "Nunca ouvi falar", afirmou Suassuna. Pelas investigações da PF, IPPES seria o Instituto de Pesquisa e Promoção de Educação e Saúde, com sede no Rio. A outra seria a Fundação Hipólito Pereira dos Santos, do Rio Grande do Norte.
A respeito da gravação legal em que Maria da Penha cita "o tio Ney da Paraíba" em conversa com um dos donos da Planam, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, Suassuna também se defendeu. "É difícil galgar o poder. Cada vez que a gente sobe um degrau, mais falam em nome da gente. Metralhadoras com lama em vez de bala são lançadas contra nós", lamentou. Várias outras conversas fazem referências a ele, mas o senador alegou desconhecer os interlocutores.
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