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quarta-feira, abril 19, 2006

SEMPRE HÁ UM PIOR

Por: Jarbas Passarinho, do Correio Braziliense

A quem indagasse de Lula se era de esquerda ou de direita, logo que despontou no sindicalismo, respondia que era torneiro mecânico. Mas em 1990, estava ele, líder sindical e político, fazendo parte do Fórum de São Paulo, iniciativa do Partido Comunista Cubano, presente a esquerda mundial. A ética, que talvez não saiba definir, a usava como um refrão. Em discurso de campanha em Aracaju, falando de um ladrão de galinhas conhecido na cidade, disse que maior ainda era o presidente Sarney. Um deputado petista, indignado pela aliança com Sarney, fez ouvir a gravação do ataque soez. Foi expulsou do PT. Não estranha que seu PT, que não era “farinha do mesmo saco”, ao buscar a conquista do governo, haja jogado a ética no lixo. Mas o objetivo era ter o poder para os sindicalistas. Deles, nomeou logo 400, entre ministros de Estado e chefes das principais estatais. Como disse o cientista Peter Flynn, professor emérito da Universidade de Glasgow, ao Estado: “Em termos históricos, nem Getúlio Vargas, nem tampouco João Goulart, levaram tão longe a idéia da república sindicalista como o PT”. Foi essa república que formou a “sofisticada organização criminosa” — como a classificou o procurador-geral da República — ladra do dinheiro público e pagadora dos despudorados deputados do mensalão, a fim de “comprar apoio político para garantir continuidade do projeto de poder”, nas palavras do digno procurador, num libelo jamais igualado no Ministério Público. Por mais que se discorde de Frei Betto, não era desse modo que ele, já no governo, imaginaria conquistar o poder, que queria. Quadrilha de 40 corruptos e corruptores chefiada por José Dirceu, “o chefe do organograma delituoso” que faria do famoso PC, dos tempos de Collor, um mero batedor de carteira. A mudança ética prometida foi feita, realmente, mas para pior. Antes de ser presidente, o PT de Lula obrigava os prefeitos petistas a contribuir para os cofres de Delúbio Soares, com contratos superfaturados, até que Celso Daniel, de Santo André, convenceu-se do desvio do dízimo. Mataram-no. No velório, Lula improvisou um panegírico e chorando prometeu apurar e punir os assassinos. A família do assassinado acreditou. Hoje, não. A esperança da esquerda do Foro de São Paulo desfez-se ao ouvir-lhe dizer que não era de esquerda. O que queria era governar melhor do que a direita. Aos marxistas, consolou: “a utopia socialista, o sonho, vêm depois”. Sem saber quantos milhões de brasileiros há vivendo na miséria, pior que na pobreza, prometeu fazer “com que cada brasileiro fizesse três refeições ao dia”. O Projeto Fome Zero seria o carro-chefe de sua política. Que é feito dele? Aproveitou o que já existia: Bolsa Escola, Auxílio alimentação, Vale gás, que rotulou como Bolsa Família, ainda hoje não devidamente cadastrada. Em vez dos 10 milhões de empregos, aumentou o pagamento da Bolsa. Volta a aumentar no ano eleitoral para mais de R$ 100. Por haver pago, a dois eleitores na eleição no Amapá, R$ 26, o senador Capiberibe, e a esposa deputada, perderam os mandatos. O assistencialismo oficial mais primário produz votos, sem medo de igual destino, porque somos todos nós que estamos pagando para fazer de Lula o benfeitor dos pobres e receber homenagem da ONU como o grande promotor da luta contra a pobreza. Como o ano é de eleição, aumenta em 16% o salário mínimo — o que seria justo — sem preocupar-se com o rombo da Previdência, que já passa de R$ 1 trilhão. Estende a bondade, dando 5% de aumento aos aposentados com proventos acima de R$ 1.200, de quem tirou 11% do provento da aposentadoria antes conquistada por quem contribuíra 30 a 35 anos para a Previdência Social. Amigo da quadrilha, nem uma palavra dá sobre o grave crime da quebra do sigilo de um “simples caseiro” e se regozija quando a Caixa Econômica simula um inquérito em que todos os servidores petistas são absolvidos, exceto o presidente que será boi de piranha. Todos os ouvidos, mesmo o gerente que usou um lap top alta hora da noite, dizem ter cumprido o dever da obediência. A Caixa nunca leu as conclusões do Tribunal de Nürenberg, que é tão criminoso que obedece a ordens ilegais. Os 40 (são mais) corruptos “pelo bem da causa” eram o Estado Maior de Lula e ele um general sem Estado Maior, que de nada sabia. Ignorar é uma tese certamente sugerida por criminalista, mas que leva a duas alternativas: ou o chefe é incapaz e perde o comando — é limongé como se deu com certos comandantes franceses na 1a Guerra Mundial — ou é conivente e deve responder na Corte Marcial. Na vida civil não há generais, mas há presidentes ineptos ou praticantes de crime de responsabilidade, julgados pelo Congresso, que faz as vezes de Corte Marcial. Isso, porém, quando o Congresso não é feito de deputados onde vicejaram os “mensaleiros” que se venderam ao “excremento do diabo”, na imagem de Almeida Garrett, ou que, presos à força da cumplicidade, absolvem no plenário aqueles que o Conselho de Ética da Câmara recomendou fossem cassados. Um deles nunca foi ouvido. Há meses o deputado Janene não é encontrado para ser citado. Subitamente lembrou-se de que é cardiopata grave, e pede aposentadoria que lhe daria proventos e inviabilizaria o processo nunca iniciado e o direito de ser candidato. O deputado Biscaia, um dos petistas corretos, que rejeita a aposentadoria por invalidez, não consegue quorum na Comissão de Justiça. Dos R$ 4,5 milhões, de que é acusado para comprar votos do PP, de que era líder, talvez reste a Janene algo para um bom advogado criminalista. Mas se Lula, que se diz traído por um sujeito oculto, faltou à esquerda que o projetou e à ética que prometeu, há piores, como comandante Chávez, com sua ambição de líder sul-americano.

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