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domingo, abril 16, 2006

Cuidado: contém glúten

Por: Marcia CezimbraAgência O Globo


Dieta que condena "VILÃO" ORGÂNICO vira mania no Brasil e é aprovada por médicos e nutricionistas
Glúten.
Esse é o novo vilão que deve ser banido do cardápio em nome da saúde e da boa forma. Há tempos que médicos e nutricionistas sabem que o glúten, uma substância encontrada no trigo, na cevada e na aveia, transforma-se numa espécie de cola ao chegar no intestino e gruda nas paredes intestinais, provocando, aos poucos, saturação do aparelho digestivo, o aumento da gordura visceral (na região do abdômen), dores articulares, alergias cutâneas, enxaqueca e depressão.O perigo se agravou devido ao consumo excessivo de pães, biscoitos, macarrão, bolos. Até alguns queijos e embutidos contêm o agora maldito glúten. Os resultados já aparecem nos consultórios de nutrólogos, alergistas e nutricionistas: obesidade, síndrome de resistência à insulina, deficiência de cálcio (o trigo vem sempre adicionado de açúcar), alergias, diarréias, doenças auto-imunes. O nutrólogo João Curvo diz que, para os chineses, o excesso de glúten no organismo é sinal de má higiene interna: o metabolismo emperra, favorecendo bactérias que gostam de calor e estagnação. A pediatra e nutróloga Clara Brandão, do Ministério da Saúde, premiada por suas alternativas para a mesa brasileira, defende o que chama de nossa “soberania alimentar”: mandioca, milho e arroz no lugar do trigo importado, que faz tanto mal. E, se abolir o glúten ajuda a emagrecer, a “dieta sem glúten” virou febre nas academias de ginástica do Rio de Janeiro. Os estabelecimentos oferecem saladas e frutas, que passam a fazer parte dos lanches dos atletas. Agora, pães de aipim e de milho, macarrão de arroz e cookies de soja são as novas “delícias” dos supermercados.###Dieta sem proteína para ficar mais felizA guerra contra o pão e o macarrão já começou também na escolinha de vôlei das jogadoras Sandra e Elaine, na praia do Leblon. Atletas do ranking brasileiro de vôlei de praia, elas proíbem as alunas que querem emagrecer de comer pão depois das 17h. As atletas aprenderam com seus médicos que, no entardecer, o metabolismo vai ficando naturalmente mais lento e a digestão daquele trigo ficará ainda mais difícil. O pãozinho terá muito mais chances de virar gordura - e abdominal! “Não proibimos o pão, mas, se puderem evitar, principalmente à noite, é melhor. Isso não significa que não podemos comer um macarrão depois de um treino. Pode, mas não toda hora, todos os dias. Moderação é fundamental. O excesso não é metabolizado e vira gordura”, explica Sandra.“Eu, às vezes, não resisto. Vou à padaria e como três pães franceses quentinhos de uma vez. E com muita manteiga! Mas só de vez em quando e escondido de meu técnico. No dia a dia, evito o pão e me sinto mais leve e bem disposta. O ideal é comer sempre frutas e saladas”, diz Elaine. MC###Os danos causados pelo glútenIntolerância alimentarO glúten é uma cola que adere às paredes intestinais e vai bloqueando o funcionamento do intestino. Os primeiros sintomas são intolerância alimentar, desconforto abdominal, gases e retenção de líquidos. ObesidadeCom o metabolismo estagnado, o intestino não processa devidamente os alimentos e vai produzindo gordura abdominal, síndrome de intolerância à insulina e diabetes. A retirada emagrece.Baixa imunidadeO metabolismo estagnado afeta o sistema imunológico, favorecendo doenças auto-imunes, entre elas artrites e artroses.Intoxicação e enxaquecaA paralisação intestinal dificulta a eliminação das toxinas que elevam o risco de doenças, produzindo sintomas como dores de cabeça e enxaquecas.Aliança com o açúcarComo o glúten vem aliado ao açúcar, um seqüestrador do cálcio do organismo, aumentam os riscos de osteoporose, cáries, ranger de dentes, insônia, hipertensão e colesterol alto.DepressãoAo impedir a produção normal de serotonina, o glúten favorece a depressão e o mau humor.###Intolerância ao glúten ainda é desconhecida dos brasileiros Gostoso e irresistível, o pão francês quentinho com a manteiga derretendo pode ser maldito para quem não quer engordar. Mas proibido mesmo, só para portadores da doença celíaca, uma intolerância de origem genética ao glúten que provoca distúrbios gastro-intestinais, diarréias violentas e até morte. No Brasil, em estimativas imprecisas, a doença atinge um em cada 300 brasileiros. Uma delas é Ane Benati, 39, que, entre os sete irmãos, tem outros três e uma sobrinha celíacos. Ela viu suas irmãs gêmeas definharem por 20 anos em busca de um diagnóstico e, há dez anos, uma delas, Raquel Benati, quase morreu com 39 quilos para o seu 1,70m, quando enfim descobriu que era celíaca.“Foi só tirar o glúten e minha irmã parecia que tinha tomado fermento. Engordou e ficou boa rapidamente. Pensei que ela ia morrer. Fiz logo o exame e vi que eu também era celíaca, embora não tivesse ainda sintomas graves. Porque antes de acabar com o intestino, a doença pode provocar baixa metabólica, diabetes, hipertireoidismo e até epilepsia”, diz ela, que, por conta da doença, sugere pratos deliciosos sem glúten.###Excesso de trigo e aveia pode interferir na absorção regular dos nutrientes Os exames de sangue que detectam a doença celíaca são os de antitransglutaminase e antiendomísio, mas, segundo Raquel, ainda não estão incluídos no Sistema Único de Saúde (SUS), tampouco são aceitos por alguns planos de saúde. Na Europa, onde a doença celíaca tem uma incidência maior devido ao alto consumo de trigo, há uma infinidade de alimentos sem glúten, mas no Brasil os produtos sem glúten só agora começam a aparecer. “O mercado está crescendo porque as pessoas normais também estão com intolerância devido ao excesso do consumo de trigo”.Se o glúten é proibido para os celíacos, os normais não precisam ser tão ortodoxos. É possível comer um pãozinho, duas ou três vezes por mês e não sentir mal-estar algum, segundo o nutrólogo João Curvo. “Os leigos que se observam percebem a relação entre o excesso de trigo e o aumento do volume abdominal, excesso de gases, dores articulares, dores de cabeça e peso nos pés. Quando ocorre a saturação de glúten no intestino, a absorção dos nutrientes piora e a pessoa começa a apresentar queixas. Essa intolerância vai minando o sistema imunológico e vão surgindo as alergias cutâneas, a psoríase e as artrites. Tudo depende da quantidade do consumo”, revela. MC

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