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quinta-feira, abril 20, 2006

Governo crê que oratória de Bastos abreviará crise

Por:Josias de Souza

O governo conta com a habilidade oratória Márcio Thomaz Bastos para superar um dos capítulos da crise que assedia o Palácio do Planalto. O ministro da Justiça prestará esclarecimentos na Câmara, nesta quinta-feira, sobre o envolvimento dele e de dois de seus assessores no “caseirogate”. Em conversa com um auxiliar, Lula disse: “Ele vai tirar de letra.”

A impressão do presidente é compartilhada por todo o alto comando do governo. Espera-se que a fala de Thomaz Bastos, por convincente, faça calar a oposição, que vem cobrando a sua demissão desde a revelação do encontro secreto que o ministro manteve com Antonio Palocci e Jorge Mattoso, apontados pela Polícia Federal como mandante e executor do crime da violação do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa.

A oposição não parece, porém, disposta a depor as armas. Às vésperas do depoimento do ministro, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), avisou que continua “de pé” o seu requerimento para que Thomaz Bastos compareça também ao Senado. “Vamos ver se será necessário”, disse Virgílio. “Pode ser que ele já saia da Câmara como ex-ministro”.

PSDB e PFL estranharam que a PF tenha divulgado nesta quarta-feira, horas antes do depoimento do ministro da Justiça, o relatório parcial sobre o inquérito do “caseirogate”. O documento é duro com Palocci, Mattoso e Marcelo Netto, o ex-assessor de imprensa do Ministério da Fazenda. Mas não faz menção nem a Thomaz Bastos nem aos seus dois auxiliares que estiveram na casa de Palocci: Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico, e Cláudio Alencar, chefe de gabinete do ministro.

Thomaz Bastos vai se explicar diante da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, um foro integrado por 61 deputados. A sessão está marcada para as 10h desta quinta-feira. Entre os temas que o ministro terá de elucidar, os mais espinhosos são os seguintes:

· O que Daniel Goldberg fazia na casa de Palocci na noite de 16 de março, quando Jorge Mattoso entregou nas mãos do então ministro da Fazenda o extrato bancário de Francenildo, extraído ilegalmente dos computadores da Caixa Econômica?
· Por que Goldberg retornou à casa de Palocci na manhã seguinte, 17 de março, desta vez acompanhado de Cláudio Alencar? O que discutiram com Palocci no mesmo dia em que os dados bancários do caseiro foram estampados num blog da revista Época?
· Por que Thomaz Bastos em pessoa foi à casa de Palocci em 23 de março, três dias depois da abertura do inquérito da PF para apurar o caseirogate? O que o ministro discutiu com Palocci e Mattoso, os dois principais suspeitos da polícia, na conversa em que também esteve presente o criminalista Arnaldo Malheiros, seu amigo?
· Como puderam Goldberg e Alencar participar de encontros com Palocci e Mattoso sem comunicar o fato a Thomaz Bastos, superior hierárquico de ambos? Em viagem a Rondônia, o ministro não poderia ter sido alcançado pelo telefone?
· Por que Palocci convocou os subordinados do colega de ministério sem discar antes para Thomaz Bastos?
· Por que Palocci só foi afastado do Ministério da Fazenda dez dias depois da violação do sigilo de Francenildo se o ministro da Justiça e seus auxiliares estavam tão inteirados dos acontecimentos? O que disso Thomaz Bastos a Lula à medida que foi tomando conhecimento do grau de envolvimento de Palocci e Mattoso com o crime da violação da conta bancária do caseiro?
Fonte: Folha Online

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